Um crime da ditadura que ficou impune e deve ser sempre lembrado

              
                                                                           Mário Augusto Jakobskind
                    Edson Luis foi assassinado enquanto lutava por melhores condições de vida

Há 50 anos, em 28 de março de 1968, a Polícia Militar do então estado da Guanabara assassinava brutalmente o estudante Edson Luis de Lima Souto, de 18 anos, que vinha do Pará tentar a sorte no Rio de Janeiro. Ele, como tantos outros, era comensal do Calabouço, um restaurante que abrigava estudantes pobres que lá se alimentavam. Muitos deles faziam o curso pré-vestibular. Naquele início de noite, os estudantes protestavam exigindo melhorias na cozinha e nas instalações do Calabouço.

O crime cometido pelos militares, no governo estadual de Negrão de Lima, ficou impune, como aconteceu ao longo da história brasileira envolvendo policiais reprimindo a população pobre. O general Osvaldo Niemeyer, superintendente da Polícia Executiva da Guanabara, inicialmente culpou o aspirante Aluísio Azevedo Raposo, que comandava a ação repressiva contra os estudantes. O chefe da operação disse que cumpria ordens superiores, exatamente do general Osvaldo Niemeyer. O jogo de empurra-empurra acabou na impunidade.

Os estudantes levaram o corpo da vítima da ditadura empresarial-militar até a Assembleia Legislativa, que ficava onde hoje se localiza a Câmara dos Vereadores e onde Marielle Franco, assassinada 50 anos depois de Edson Luis, defendia com muita competência o povo pobre carioca.

Edson Luis, um dos mártires da história brasileira, que precisa ser sempre lembrado, foi velado na Cinelândia, centro do Rio. No dia seguinte, seu corpo foi levado nos braços do povo até o Cemitério São João Batista, no bairro do Botafogo, zona sul da cidade. Em clima de grande emoção, o cortejo fúnebre seguia sob protesto de centenas de milhares de pessoas. Destaca-se uma das faixas com os dizeres: “Um estudante foi assassinado. Ele podia ser seu filho”.

Ocupava o poder federal o então general de plantão Arthur da Costa e Silva, que de todas as formas tentava também se eximir de culpa pelo trágico acontecimento, mas a opinião pública não se deixava enganar pelo palavreado mentiroso dos que ocupavam à força o poder no Brasil. Tanto assim que na caminhada da Assembleia Legislativa até o Cemitério São João Batista os manifestantes lembravam que: “Esta é a justiça da ditadura. Pedimos comida e eles atiram contra nós”.

As manifestações populares de protesto contra o arbítrio resultante do golpe de abril de 1964 cresceram ao longo de 1968. Como resposta, as autoridades decretaram, em 13 de dezembro, o Ato Institucional 5, que mergulhou o país em um inferno. Esta é a história do Brasil que precisa ser sempre lembrada.

https://www.brasildefato.com.br/2018/03/28/um-crime-da-ditadura-que-ficou-impune-e-deve-ser-sempre-lembrado/

(Com o Brasil de Fato)

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