E vem aí a CNN Brasil

                                                                    

O canal de notícias CNN chega ao Brasil por meio do empresário mineiro Rubens Menin, fundador da construtora MRV; a emissora de notícias 24 horas será lançada tanto na TV por assinatura quanto em plataformas digitais; em entrevista ao 247, Rubens Menin negou que a operação brasileira da CNN terá vínculo com Edir Macedo; apesar disso,  Douglas Tavolaro, o chefão do jornalismo da Record e até agora braço direito do bispo Edir Macedo, comandará a operação e será o CEO da nova empresa


247 - O canal de notícias CNN chega ao Brasil por meio do empresário mineiro Rubens Menin, fundador da construtora MRV. O grupo Novos Mídia, licenciado pelo conglomerado norte-americano, implantará no país a emissora de notícias 24 horas tanto na TV por assinatura quanto em plataformas digitais. Douglas Tavolaro, o chefão do jornalismo da Record e até agora braço direito do bispo Edir Macedo, comandará a operação e será o CEO da nova empresa. Menin presidirá o conselho. Em entrevista ao 247, Rubens Menin negou que a operação brasileira da CNN terá vínculo com Edir Macedo.

As conversas entre o empresário e a Turner, dona da CNN, começaram há cerca de um ano.

“Eu vinha conversando com diversos grupos de empresários e muita gente estava preocupada com a situação dos grupos de comunicação aqui no Brasil, com problemas financeiros. Isso é muito ruim”, diz o empresário. “Através de amigos em comum fui apresentado a esse projeto da CNN Brasil e achei que era hora de investir.”

A empreitada deve colocar em evidência um empresário com visão política pragmática e que, por causa da incorporadora MRV, até recentemente era mais associado ao programa Minha Casa Minha Vida.

A incorporadora resistiu bem à recessão e aos solavancos do programa e, de dois anos para cá, a riqueza dos Menin se diversificou.

Além da MRV, a família controla o Banco Inter, a Log Commercial Properties (que acaba de estrear na Bolsa), e também incorpora fora do País. Além disso, Menin participa do movimento 'Você Muda o Brasil', por meio do qual empresários e acadêmicos discutem os rumos do País.

A CNN Brasil estará disponível na TV paga e também na Internet, onde o espectador poderá ter acesso a alguns conteúdos grátis e outros mediante assinatura, inclusive a programação 24 horas — aparentemente num modelo parecido com o que a Globo vem fazendo em seus canais pelo GloboPlay. A CNN Brasil terá escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

O conteúdo será feito "por brasileiros e para brasileiros", segundo a nota de divulgação do negócio, o contrato permite a utilização de alguns materiais da CNN Internacional. Da mesma forma, a emissora brasileira poderá compartilhar conteúdo com a matriz.

No meio jornalístico, a saída de Tavolaro da Record foi recebida com surpresa. Há 17 anos na emissora, onde começou como produtor, o executivo é homem de confiança de Edir Macedo, o dono da emissora e da Igreja Universal do Reino de Deus – e já chegou inclusive a ser cotado para a presidência da Record.

Tavolaro é autor da biografia autorizada de Macedo e produtor de 'Nada a Perder', a cinebiografia do bispo, que deve ganhar uma continuação. Ele foi produtor também de 'Os Dez Mandamentos', produzido pela Record Filmes. Foi Edir Macedo quem ministrou o casamento de Tavolaro com sua esposa Raíssa, no fim de 2017.

"O Bispo: A História Revelada de Edir Macedo" é um livro biográfico que retrata a vida de Edir Macedo, bispo fundador da Igreja Universal do Reino de Deus e atual proprietário da RecordTV. Seus autores são Douglas Tavolaro, diretor de jornalismo da RecordTV, e Christina Lemos, repórter especial da emissora em Brasília. O livro foi publicado em outubro de 2007.

Além das livrarias, lojas de departamentos e da internet, o livro também foi vendido nos templos da Igreja Universal. Assim que foi lançada, a biografia de Macedo fez grande sucesso de vendas. A maior parte das tiragens foi vendida nas unidades da IURD.

O livro traz todas as notícias que obtiveram grandes repercussões como a cobrança de dízimo, a prisão no dia 24 de maio de 1992, acusado de charlatanismo, curandeirismo e estelionato, o desafeto com a Rede Globo no começo dos anos 90, devido à "guerra" declarada pela emissora carioca. Em 1995 a emissora do Roberto Marinho colocou no ar a minissérie "Decadência", na qual o ator Edson Celulari interpretava um pastor evangélico inescrupuloso, que usava a igreja e os fiéis para benefício próprio, e a compra da emissora Rede Record

                                 400 vagas para jornalistas                                                             

Florestan Fernandes Júnior levanta outra questão: será que já existe algum tipo de acordo com o governo federal? "Feliz em saber que 400 vagas para jornalistas serão abertas no mercado brasileiro com a chegada da CNN. Se o telejornalismo seguir os padrões de qualidade da informação, independência e imparcialidade, que são características da emissora norte-americana, teremos motivos para comemorar", diz ele.

"Acho que seria importante a empresa dizer por que só agora decidiu apostar no mercado brasileiro. Além da crise econômica que ainda enfrentamos,  a CNN chega num momento em que o trabalho dos jornalistas vem sendo desprezado pelo novo governo de extrema direita, que prefere se comunicar através das redes  sociais.

Todos no mercado de comunicação querem saber pra onde vão as polpudas verbas publicitárias de empresas públicas como Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, etc....Principalmente agora que o novo governo disse que vai mudar os critérios para a distribuição das verbas publicitarias.

Boa parte deste dinheiro costuma ir para as emissoras de rádio e televisão. A Record de Edir Macedo já declarou apoio ao novo governo. O SBT de Silvio Santos, também. Mas o desafeto da família Bolsonaro, a Rede Globo, ainda não.  Será que a CNN Brasil vai chegar abocanhando parte destes recursos? Se isso acontecer seria algo preocupante. Se não, como viabilizar o custo altíssimo de uma super estrutura jornalística?"

Marcelo Auler, que assim como Florestan e Kotscho integra a rede de Jornalistas pela Democracia, traz uma abordagem ampla para a discussão. "Teoricamente, a pluralidade de canais de informação para o leitor/eleitor é algo sempre positivo.

Devemos sempre relembrar que a Liberdade de Imprensa e de Expressão – que muitos confundem como direito dos jornalistas, artistas e intelectuais - é, antes de tudo, um direito do cidadão. Ele, como receptor do noticiário, tem o direito constitucional garantido de receber tais informações de fontes diferentes e sem interferência (censura) quer dos governos, quer dos empresários", diz ele.  "Logo, o anuncio de um novo canal de notícias é bem-vindo. Sempre.

 Mas – sempre há um mas, em se tratado de Brasil – é preciso saber ao que se propõe esse novo canal, em especial em um momento em que toda a chamada grande mídia come o pão que o diabo amassou, muito por conta da crise provocada pelos chamados novos meios de divulgação. A isto, porém, soma-se uma boa dose de incompetência que permitiu que sua credibilidade fosse jogada no lixo.

Ou seja, colhe frutos do que plantou ao manipular informações e entrar no jogo político, em especial contra governos populares. Assim sendo, qualquer comemoração de um novo canal de TV precisa ser cautelosa. Se for para repetirem o que já existe, como o Sistema Bolsonaro de Televisão (SBT) ou mesmo as Records e Globos da vida, será chover no molhado. Mais do mesmo. Se for para ser uma mídia independente como estão sendo jornais do exterior com suas versões em português, ai sim, teremos o que comemorar", pontua.

Record versus Globo?

O colunista Alex Solnik vê fortes indícios de ligações entre a CNN Brasil e o bispo Edir Macedo. "O nome de Douglas Tavolaro como CEO da CNN Brasil não é o único sinal de que Edir Macedo, com quem tem ligações familiares e comerciais, pode ser o verdadeiro sócio do canal. Um tuíte recente de Eduardo Bolsonaro revela que seu pai tinha interesse nisso: 'Quando vier um jornal/canal conservador, o negócio vai deslanchar'", relembra Solnik.

Ao 247, o empresário Rubens Menin negou vínculos com Edir Macedo. Solnik, por sua vez, diz que o empresário terá a Globo como inimiga, caso a empresa dos Marinho perceba a CNN Brasil como uma operação política.

(Com o 247)

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