A festa de Lira e o recorde de Bolsonaro
Por Andrea Dip
As imagens geram desconforto imediato e a sensação de que as pessoas parecem ainda mais amontoadas do que o habitual em seus ternos, vestidos e taças de champagne. Pode ser apenas a mente desacostumada a ver tanta gente amontoada sem máscara neste momento crítico da pandemia, ou pode ser que realmente o espaço destinado à festa da vitória do novo presidente da Câmara Arthur Lira (Progressistas-AL), cujas imagens rodaram nos últimos dias, não tenha sido suficiente para comportar as 300 pessoas que foram até a casa no Lago Sul, área nobre de Brasília, brindar com ele sem máscaras, cantar e dançar ao som de uma banda ao vivo.
Uma dança macabra, que acontece sobre mais de 200.000 corpos brasileiros, como bem resumiu Jamil Chade em sua coluna do último dia 03. E também muito simbólica de todos os acordões e compras, da boiada passando, e de toda a movimentação realizada para que o preferido de Bolsonaro assumisse esse lugar tão estratégico.
Nesta mesma semana, agitada, Bolsonaro bateu o recorde de pedidos de impeachment de Dilma Rousseff, como mostrou em primeira mão essa reportagem da Pública. O presidente eleito é alvo de 69 pedidos - muitos deles com motivos contundentes e urgentes - superando o número de denúncias recebidas com relação à ex-presidente, impeachmada em 2016 por crime não previsto na Lei do Impeachment, é importante lembrar. No caso de Bolsonaro, Rodrigo Maia (DEM-RJ), "tuiteiro de oposição", sentou em cima de todos eles.
O futuro com Lira não se mostra menos sinistro. Em entrevista à jornalista Renata Lo Prete, o filósofo Marcos Nobre comparou a parceria entre Lira e Bolsonaro a “um casamento de chantagem mútua, em que os dois são o mesmo lado da moeda". Avaliou, porém, que será difícil cumprir a rifa aos 302 colegas que votaram nele. Para Nobre, Maia teria sido só um "biombo": “O verdadeiro governo Bolsonaro começa agora", definiu.
E se o filósofo estiver certo e o governo que literalmente sufoca sua gente e dança em cima de mais de 200 mil corpos apenas fez sua introdução, o que podemos esperar do próximo ato?
(*) Andrea Dip é editora e repórter da Agência Pública
Comentários