A consciência voadora
Carlos Lúcio Gontijo
A realidade insofismável é que o povo está fincado na paisagem terrestre, enquanto os políticos brasileiros se acham cada vez mais instalados em palanques (e palácios) distantes ou, literalmente, voando à custa do contribuinte, que, se pagava 1/5 no tempo de Tiradentes, hoje paga 40% do Produto Interno Bruto (PIB) sem receber a necessária contrapartida no tocante à prestação de serviços.
Fazemos literatura independente desde 1977 e, ao longo dos anos, assistimos à ampliação das dificuldades para a impressão de livros. Os entraves são tantos que nos remetem não apenas à falta de política cultural efetiva (a que temos hoje é vinculada à vontade e idiossincrasias do setor empresarial, que logicamente opta por patrocinar produto intelectual de mais aceitação junto ao público e à mídia, ainda que descartável) e capaz de dar apoio a autores desconhecidos, mas nem por isso desprovidos de valor.
As pedras no caminho da literatura são muitas e se encontram explícitas, claras como a luz do dia, em qualquer região do Brasil de poucos leitores e mais um punhado de gente graúda que finge que lê. Todavia, em Minas Gerais, as montanhas de pedras são bem maiores, pois aqui imperam as igrejinhas literárias e a inexistência de patrocinadores ou qualquer abertura para incentivo ainda que mínimo.
Prova disso podemos demonstrar por meio de fato ocorrido conosco. Premidos por custos quase que intransponíveis para a impressão de dois livros (DUDUCHA E O CD DE MORTADELA e o romance JARDIM DE CORPOS, com lançamento conjunto previsto para o dia 20 de junho, às 18h, na Associação Mineira de Imprensa, em Belo Horizonte), ousamos incomodar o senhor diretor da Imprensa Oficial, onde em passado recente imprimimos alguns de nossos livros, com pedido de estudo de concessão de pequeno desconto no orçamento que me foi apresentado. Ou seja, não estávamos pedindo nada de graça, mas não obtivemos, lamentavelmente, qualquer resposta e, assim, diante do silêncio da pretensa autoridade, fomos bater em outra freguesia, como nos costumava dizer mãe Betty.
O artifício do silêncio, ao que parece, é a face cultural dos que habitam o solo mineiro. No último feriado de 21 de abril, em Ouro Preto, Tiradentes saiu de seu cadafalso para abrir espaço ao tecer de loas ao “ano da França no Brasil”. Provincianamente zelosa no estender de tapetes a pessoas de outras plagas – desde o período histórico dos juízes de fora –, o governo mineiro se esmerou na promoção de afastamento dos cidadãos ouro-pretanos e visitantes brasileiros, que não foram convidados a participar do evento aberto só aos franceses, para os quais os cantores Milton Nascimento e Bibi Ferreira soltaram a voz.
O povo a que se referiu a fragilizada imprensa mineira não estava lá, pois a cidade foi fechada: proibiram a circulação de veículos e de pedestres ouro-pretanos – moradores de uma cidade que, vira e mexe, serve de palco a convescotes políticos, que mais aprofundam do que sanam as mazelas e as injustiças socioeconômicas contra as quais o mártir Tiradentes tanto lutou. A realidade insofismável é que o povo está fincado na paisagem terrestre, enquanto os políticos brasileiros se acham cada vez mais instalados em palanques (e palácios) distantes ou, literalmente, voando à custa do contribuinte, que, se pagava 1/5 no tempo de Tiradentes, hoje paga 40% do Produto Interno Bruto (PIB) sem receber a necessária contrapartida no tocante à prestação de serviços.
Quanto a nós e outros escritores de menos sorte, só nos resta mesmo irmos bater na porta de outra freguesia mais sensível e ansiosa por voos de alma, de espírito, de união comunitária e de fraternidade, predicados cristãos que dispensam a utilização de cotas aéreas a expensas do erário público para se chegar até eles, mas exigem obediência a princípios morais que há muito bateram asas da consciência voadora de nossos individualistas (e relativistas comportamentais) homens públicos. http://www.carlosluciogontijo.jor.br/
A realidade insofismável é que o povo está fincado na paisagem terrestre, enquanto os políticos brasileiros se acham cada vez mais instalados em palanques (e palácios) distantes ou, literalmente, voando à custa do contribuinte, que, se pagava 1/5 no tempo de Tiradentes, hoje paga 40% do Produto Interno Bruto (PIB) sem receber a necessária contrapartida no tocante à prestação de serviços.
Fazemos literatura independente desde 1977 e, ao longo dos anos, assistimos à ampliação das dificuldades para a impressão de livros. Os entraves são tantos que nos remetem não apenas à falta de política cultural efetiva (a que temos hoje é vinculada à vontade e idiossincrasias do setor empresarial, que logicamente opta por patrocinar produto intelectual de mais aceitação junto ao público e à mídia, ainda que descartável) e capaz de dar apoio a autores desconhecidos, mas nem por isso desprovidos de valor.
As pedras no caminho da literatura são muitas e se encontram explícitas, claras como a luz do dia, em qualquer região do Brasil de poucos leitores e mais um punhado de gente graúda que finge que lê. Todavia, em Minas Gerais, as montanhas de pedras são bem maiores, pois aqui imperam as igrejinhas literárias e a inexistência de patrocinadores ou qualquer abertura para incentivo ainda que mínimo.
Prova disso podemos demonstrar por meio de fato ocorrido conosco. Premidos por custos quase que intransponíveis para a impressão de dois livros (DUDUCHA E O CD DE MORTADELA e o romance JARDIM DE CORPOS, com lançamento conjunto previsto para o dia 20 de junho, às 18h, na Associação Mineira de Imprensa, em Belo Horizonte), ousamos incomodar o senhor diretor da Imprensa Oficial, onde em passado recente imprimimos alguns de nossos livros, com pedido de estudo de concessão de pequeno desconto no orçamento que me foi apresentado. Ou seja, não estávamos pedindo nada de graça, mas não obtivemos, lamentavelmente, qualquer resposta e, assim, diante do silêncio da pretensa autoridade, fomos bater em outra freguesia, como nos costumava dizer mãe Betty.
O artifício do silêncio, ao que parece, é a face cultural dos que habitam o solo mineiro. No último feriado de 21 de abril, em Ouro Preto, Tiradentes saiu de seu cadafalso para abrir espaço ao tecer de loas ao “ano da França no Brasil”. Provincianamente zelosa no estender de tapetes a pessoas de outras plagas – desde o período histórico dos juízes de fora –, o governo mineiro se esmerou na promoção de afastamento dos cidadãos ouro-pretanos e visitantes brasileiros, que não foram convidados a participar do evento aberto só aos franceses, para os quais os cantores Milton Nascimento e Bibi Ferreira soltaram a voz.
O povo a que se referiu a fragilizada imprensa mineira não estava lá, pois a cidade foi fechada: proibiram a circulação de veículos e de pedestres ouro-pretanos – moradores de uma cidade que, vira e mexe, serve de palco a convescotes políticos, que mais aprofundam do que sanam as mazelas e as injustiças socioeconômicas contra as quais o mártir Tiradentes tanto lutou. A realidade insofismável é que o povo está fincado na paisagem terrestre, enquanto os políticos brasileiros se acham cada vez mais instalados em palanques (e palácios) distantes ou, literalmente, voando à custa do contribuinte, que, se pagava 1/5 no tempo de Tiradentes, hoje paga 40% do Produto Interno Bruto (PIB) sem receber a necessária contrapartida no tocante à prestação de serviços.
Quanto a nós e outros escritores de menos sorte, só nos resta mesmo irmos bater na porta de outra freguesia mais sensível e ansiosa por voos de alma, de espírito, de união comunitária e de fraternidade, predicados cristãos que dispensam a utilização de cotas aéreas a expensas do erário público para se chegar até eles, mas exigem obediência a princípios morais que há muito bateram asas da consciência voadora de nossos individualistas (e relativistas comportamentais) homens públicos. http://www.carlosluciogontijo.jor.br/
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