Carta aberta ao presidente da República Jair Bolsonaro
"Rio de Janeiro, 3 de junho de 2021
Excelentíssimo Senhor Presidente da República
Jair Messias Bolsonaro
Pelo fato de o tema não ser considerado relevante pelo seu governo, talvez V. Ex. ª não tenha conhecimento de que o próximo sábado, dia 5 de junho, foi declarado pela Organização das Nações Unidas o Dia Mundial do Meio Ambiente.
A iniciativa da ONU teve como objetivo chamar a atenção para os problemas ambientais e para a importância da preservação dos recursos naturais de nosso planeta.
Duas razões fazem do Brasil um personagem presente quando se trata hoje de meio ambiente em qualquer debate: o fato de termos em nosso território a maior parte da Amazônia, tido como o pulmão do mundo; e a política criminosa que vem sendo desenvolvida pelo governo brasileiro desde que V.Exª assumiu a Presidência.
O desmatamento – que ganha contornos nunca antes vistos – é de tal monta que parece ser uma política deliberada, o que, se verdadeiro, seria um crime inominável.
Forçoso é reconhecer, por questão de honestidade, que a ABI não tem muita esperança de que algo relevante mude na política ambiental brasileira antes de 2023, quando assumirá o novo presidente.
Até lá, talvez tenhamos que nos conformar em fazer críticas, protestar e conviver com um fato vergonhoso: sempre que se debater meio ambiente no plano internacional, um país será apontado unanimemente como vilão. Este país é o Brasil.
De qualquer forma, mesmo sem grande expectativa de que nossa sugestão seja aceita, aproveitamos o Dia Mundial do Meio Ambiente para propor a V.Exª que exonere o ministro Ricardo Salles.
Sim, demita esse ministro que disse ser preciso aproveitar a pandemia para “passar a boiada” e avançar na extinção das normas de preservação do meio ambiente.
Como é de conhecimento de V.Exª, desde o início de seu governo ele sofria pesadas críticas devido ao seu desempenho. Mas, agora, as coisas são mais graves. O ministro enfrenta também denúncias de corrupção.
Salles é alvo de pedido de um inquérito por parte da Procuradoria Geral da República, órgão de seu governo, que fique claro. É suspeito de praticar advocacia administrativa, dificultar a fiscalização ambiental e embaraçar a investigação de infração que envolve crimes de uma organização criminosa.
A denúncia foi firmada pelo vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, e enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Sua relatora é a ministra Cármen Lúcia, tem como base a notícia-crime enviada pelo ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva ao Supremo. A acusação se relaciona com a maior apreensão de madeira da história do Brasil. Foram 226.763 metros cúbicos de madeira, num valor estimado seria de R$ 129 milhões. Segundo o delegado, teria havido interferências indevidas do ministro para proteger os criminosos.
Ricardo Salles é investigado também em outra ação no STF, pelo ministro Alexandre de Moraes, relacionada com a facilitação de exportação ilegal de madeira.
Assim, presidente, mesmo sabendo que os temas que mais lhe agradam são de outra natureza, sugerimos a V.Exª esse gesto em homenagem ao Dia Mundial do Meio Ambiente: a demissão do ministro Ricardo Salles.
Sem mais para o momento,
Subscrevemo-nos
Atenciosamente
Paulo Jeronimo
Presidente da Associação Brasileira de Imprensa"
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