Um revolucionário em Piumhi
José Carlos Alexandre
Em 2003, dois anos antes de sua morte e aos dois anos de idade
Em 2003, dois anos antes de sua morte e aos dois anos de idade
Dedicação e carinho para com a família
A irmã Bolívia: "Ele foi um idealista"
No princípio era o Céu e a Terra...(1) E os homens, saídos da mãe África, começaram a se espalhar pelo mundo. E a trabalharem a Terra. Inicialmente só com sua família. Depois, com sua tribo... Mas surgiram as cidades, as populações foram crescendo, houve necessidade de criar barragens...E surgiu a de Furnas, liquidando com terras agricultáveis, as poucas que ainda restavam, livres dos latifúndios...Deixando mais ansiosos os sem-terra, os pioneiros do MST...E aí surgiram os conflitos rurais, os primeiros líderes. Cristovam Mourão foi um deles. Homem destemido, líder nato, militante comunista, perseguido em sua cidade, conservadora ao extremo. Mas lutando altaneiro, desafiando convenções sociais, tradições regionais e sendo perseguido quando a ditadura militar desceu fúnebre sobre os céus azuis do Brasil.
Para seus companheiros no Partido Comunista Brasileiro, como José Francisco Neres, dirigente do Partidão e membro da Velha Guarda do PCB, Christovam Mourão foi um autêntico revolucionário. Um homem que queria o Brasil livre da exploração capitalista, dos males do latifúndio. Um comunista que, já àquela época-antes de 1964, vislumbrava para o país um futuro Estado }Socialista, tal qual a então União Soviética, onde passou temporada estudando teorias política e econômica.
Neres o conheceu já no período em que era procurado devido ao Inquérito Policiais Militar- IPM- de número 94, da Divisão de Vigilância Social (DVS), do antigo DOPS, datado de 11 de agosto de 1964. O IPM, um dos centenas e mais centenas instaurados no Brasil após o início da ditadura militar, "trata da apuração de supostas atividades subversivas registradas em Piumhi" (2).
Segundo o líder comunista Neres, Christovam habitava um quartinho situado em Roças Grandes, em Sabará, onde, aliás, José Francisco Neres, era vereador, eleito graças às suas atividades sindicais, como um dos destacados trabalhadores da fiação e tecelagem, que,depois, depois teria seu mandado cassado e cumpriria mais de dois anos de pena na Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora.
UM TANTO TRISTE
Pessoas que o conheceram, em Piumhi, antes e depois de sua experiência em estudar na União Soviética falam muito bem dele: "Era calado", "Parecia um tanto triste", "Sentia-se nele um homem de fibra, um líder nato", "Gostava de andar de chinelo de dedo", "Era muito estudioso", "Jamais teria coragem de ofender a alguém", dentre outras, as expressões mais usadas para definir o líder camponês Christovam Mourão.
Aos 84 anos, Bolívia Mourão que, juntamente com mais 13, formava a família de irmãos de Christovam, assim o define:" Era um idealista. Acreditava que dias melhores poderiam vir para o povo brasileiro. Ele queria, sobretudo, justiça para os trabalhadores rurais e o povo em geral"(3)
Velhos habitantes de Piumhi se lembram dos primeiros devaneios dos responsáveis pelo golpe de 1964: "Christovam foi perseguido, teve de se esconder em sótãos de fazendas. Uma vez quase foi pego. Alguém deu o alarme de que policiais fortemente armados estavam à sua procura. Ele teve de se esconder lá para os lados do pântano", conta uma amiga da família Mourão, d. Maria Auxiliadora, hoje também quase da idade da irmã do líder trabalhador, Bolívia.
A irmã, exibindo, orgulhosa, documentos de Christovam, quais como uma carteira do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Itaúna, um título de eleitor, a carteira de identidade, com que pretende presentear a sobrinha, Vanja, nascida do casamento do irmão com d. Doralice, que ainda vive, em Piumhi: dá detalhes: "Ele foi avisado a tempo de passar de uma fazenda para outra e desaparecer no pântano. Ficamos algum tempo ser ter notícia mas satisfeito por sabê-lo vivo e em bom estado de saúde.
PRISÃO PREVENTIVA
O Jornal Alto S.Francisco, editado na região, em sua edição de 2 de abril de 2006, publica manchete de página:"Golpe de 64 Três nomes encabeçam a lista negra da divisão de repressão".
Em clichês publica os indiciados: Cristovão Mourão (sic), Otacilio Gonçalves Tomé e Sérgio Firmino Pereira e em destaque: Prisão Preventiva Decretada: Cristovão Mourão (sic).
Otacílio Gonçalves Tomé era estudante, sempre acompanhando Christovam em suas campanhas em favor dos sem-terra da região , assim como também Sérgio Ferreira, que era fotógrafo e diretor do jornal Alto S.Francisco. Otacílio depois tornou-se engenheiro e foi prefeito de Piumhi por duas vezes é empresário e fazendeiro de sucesso na região. Sérgio Ferreira já morreu.
A ORIGEM
O jornal conta em sua edição de 2 de abril de 2006, que "camponeses, trabalhadores, estudantes e intelectuais, tachados de comunistas, foram alvos de uma das mais intensas perseguições protagonizadas pelas forças de repressão a serviço dos militares, num episódio que ficou conhecido como 'Caça-às-bruxas'.
A origem dos conflitos, conta o Alto S.Francisco, era um planície de 20 mil hectares, formada por terras recém-drenadas do Rio Piumhi. Elas seriam destinadas ao assentamento do Condomínio Rural de Piumhi, a ser formado por famílias de pequenos agricultores, no que seria, talvez a primeira reforma agrária do país.
Mas a área despertou o interesse de latifundiários e o rififi foi formado no que era conhecido como Pântano do Cururu. Em 1964 o litígio "tomava proporções bélicas", lembra a publicação.Ai veio o golpe militar e toda a truculência se voltou contra a liderança dos trabalhadores e seus apoiadores, com Christovam Mourão à frente.
OPÇÃO PELA MILITÂNCIA
“ Sabe-se que, a opção pela militância num partido comunista como o brasileiro – opção que historicamente implicou o risco de morte,da tortura, da prisão, do exílio ou da clandestinidade- supõe algo mais que a adoção das idéias formuladas primeiramente por Marx e Engels: supõe um envolvimento vital com a causa proletária.Este tipo de envolvimento marca profundamentre aqueles que o exercitam", lembra João Paulo Netto, no prefácio do livro "Breve história do PCB", de autoria de José Antonio Segatto (Editora Oficina de Livros), 2a. edição, em 1989.
O jornal conta em sua edição de 2 de abril de 2006, que "camponeses, trabalhadores, estudantes e intelectuais, tachados de comunistas, foram alvos de uma das mais intensas perseguições protagonizadas pelas forças de repressão a serviço dos militares, num episódio que ficou conhecido como 'Caça-às-bruxas'.
A origem dos conflitos, conta o Alto S.Francisco, era um planície de 20 mil hectares, formada por terras recém-drenadas do Rio Piumhi. Elas seriam destinadas ao assentamento do Condomínio Rural de Piumhi, a ser formado por famílias de pequenos agricultores, no que seria, talvez a primeira reforma agrária do país.
Mas a área despertou o interesse de latifundiários e o rififi foi formado no que era conhecido como Pântano do Cururu. Em 1964 o litígio "tomava proporções bélicas", lembra a publicação.Ai veio o golpe militar e toda a truculência se voltou contra a liderança dos trabalhadores e seus apoiadores, com Christovam Mourão à frente.
OPÇÃO PELA MILITÂNCIA
“ Sabe-se que, a opção pela militância num partido comunista como o brasileiro – opção que historicamente implicou o risco de morte,da tortura, da prisão, do exílio ou da clandestinidade- supõe algo mais que a adoção das idéias formuladas primeiramente por Marx e Engels: supõe um envolvimento vital com a causa proletária.Este tipo de envolvimento marca profundamentre aqueles que o exercitam", lembra João Paulo Netto, no prefácio do livro "Breve história do PCB", de autoria de José Antonio Segatto (Editora Oficina de Livros), 2a. edição, em 1989.
Mourão, o discriminado Mourão, o perseguido Mourão, o incompreendido, no seio da família, Mourão, envolveu-se imensamente nas lutas sociais de uma região e foi além: foi estudar política e economia na então União Soviética, para obter mais embazamento teórico para suas ações. Para espanto de parte de sua família quem curiosamente, tinha um irmão (Cyro) partidário dos integralistas.
"...Existe nesta terra
muito homem de valor
que é bravo sem matar gente
mas não teme matador,
que gosta de sua gente
e que luta a seu favor " (4)
Christovam Mourão foi um homem de valor, de muito valor, principalmente para os sem-terra , os sem-nada, de Piumhi e região. E totalmente destemido, como pode-se notar por este texto dele que o Alto São Francisco destacou:
"A semente do amanhã foi plantada como o sangue de heróis como os guerrilheiros do Araguaia, os sem-teto, os sem-terra, os sem-empregos, os mendigos queimados, os trabalhadores espoliados e tantos outros mártires da cidadania e da liberdade.Mais cedo ou mais tarde, esta semente e germinará em profusão a ponto de destruir as ervas daninha que hoje tentam abafar nossas utopias de um mundo melhor, com liberdade e dignidade humanas".
As notas
As notas
(1) -Referência ao Gênesis, o primeiro livro da Bíblia (Velho Testamento)
(2)-"Três nomes encabeçam a lista negra da divisão de Repressão": "Abertura do arquivo da ditadura militar revela detalhes da persegui8ção aos 'subversidos' em Piumhi na luta pelas rterras do pântano do Cururu há 42 anos", revela em manchete o jornal Alto S.Francisco, em sua edição dominical em 02/04/2006.
(3)- Neste ponto de nossa entrevista, Bolívia mostra-se profundamente emocionada ao relembrar a ação social de seu irmão.
(4)- Ferreira Gullar no poema História de um valente, dedicado a outro líder camponês: Gregório Bezerra, cujo centenário de nascimento está sendo comemorado.
(Imagens: José Carlos Alexandre e fotos de propriedade de Bolívia Mourão
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