Documentos recebidos pela Comissão da Verdade poderão esclarecer atentado do Riocentro

                                                                           
Comissão Nacional da Verdade recebe no RS documentos de coronel assassinado 

Claudio Fonteles lamentou que documentos que estavam com coronel só tenham vindo à tona com a sua morte e fez apelo à familiares de militares que entreguem à CNV acervos privados

A Comissão Nacional da Verdade recebeu hoje em Porto Alegre 205 páginas de cópias de documentos entregues à Polícia Civil do Rio Grande do Sul pela filha do ex-coronel Julio Miguel Molinas Dias, ex-comandante do Doi-Codi no Rio de Janeiro, assassinado dia 1º de novembro na capital gaúcha.

Os documentos se referem ao atentado do Riocentro, em 1981, e há também duas páginas com o termo de entrada do político desaparecido Rubens Paiva na carceragem do Doi-Codi-RJ (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna do Rio de Janeiro) , datado de 21 de janeiro de 1971, e que descrevem os objetos apreendidos com ele no ato de sua prisão.

O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Claudio Fonteles, fez um apelo para que acervos documentais privados sobre graves violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, como o que Molinas Dias guardava em uma caixa em sua casa, sejam entregues à comissão. "Pedimos que filhos e netos, aqueles que têm acesso a estes arquivos particulares os entreguem à CNV. Não é preciso nem se identificar", afirmou.

Segundo Fonteles, os documentos encontrados com o ex-comandante do Doi-Codi são importantes e que o sobre Rubens Paiva é um dos mais simbólicos, pois comprova a prisão do ex-deputado, desmontando a versão do Estado, que sempre negou a prisão. "A descoberta quebra a brutal farsa do Estado ditatorial que afirmava que Paiva e outros desaparecidos estavam foragidos", afirmou.

Sobre os documentos do caso Riocentro, Fonteles afirmou que a Comissão deve debruçar-se sobre eles nos próximos dias. "Vamos ler e avaliar tudo. Esses documentos serão o fio condutor do trabalho. A partir das referências que cada documento der: nomes, locais, a CNV definirá suas linhas de investigação", afirmou.

“O fato de terem surgido esses documentos reforça a ideia de que tanto por parte de particulares, quanto por parte de instituições militares, não houve destruição total dos arquivos do período ditatorial”, afirmou Claudio Fonteles.

COOPERAÇÃO – O coordenador interino da Comissão Estadual da Verdade do Rio Grande do Sul, Aramis Nassif, destacou em seu discurso que também espera que mais acervos privados sejam entregues para ambas as comissões.


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