Equador oferece aos EUA "ajuda econômica" para capacitação em direitos humanos
Oferta foi feita após Quito renunciar às preferências comerciais destinadas aos países andinos que combatem as drogas
O Equador anunciou nesta quinta-feira (27/06) que renuncia de maneira “unilateral e irrevogável” às preferências comerciais, a Atpdea (Lei de Preferências Comerciais Andinas e Erradicação das Drogas) dos Estados Unidos, frente às “ameaças de certos setores” do país de não renová-las, informou o secretário de Comunicação, Fernando Alvarado. Além disso, o país oferece aos EUA uma ajuda econômica de US$ 23 milhões anuais para a “capacitação em direitos humanos”. A quantia é o equivalente ao que o Equador recebe em preferências comerciais.
Segundo Alvarado, diante da “ameaça, insolência e prepotência de certos setores políticos, grupos midiáticos e poderes concretos norte-americanos, que pressionaram para que as preferências sejam retiradas”, o presidente Rafael Correa tomou essa decisão. O Equador “não aceita pressões ou ameaças de ninguém e não comercializa com os princípios nem os submete a interesses comerciais, por mais importantes que eles sejam”, sublinhou o secretário de Comunicação em coletiva de imprensa.
Ontem, Correa rebateu editorial do jornal Washington Post, que criticou a decisão de Quito de considerar asilo político ao ex-consultor da CIA Edward Snowden. "Se Snowden tivesse vazado as informação a partir do Equador, não só ele, mas qualquer jornalista que recebesse suas informações poderia estar sujeito a uma sanção financeira, seguida de processo", disse o jornal.
Correa respondeu no Twitter. “Que descaramento!". E acrescentou: "Vocês percebem o poder da imprensa internacional? Eles conseguiram centrar a atenção em Snowden e nos países do 'mal' que o 'apoiam', fazendo-nos esquecer as coisas terríveis denunciadas contra o povo norte-americano e de todo o mundo. A ordem mundial não é apenas injusta, é imoral", acrescentou.
De acordo com Alvarado, o “Equador lembra ao mundo que as preferências comerciais foram originalmente outorgadas como uma compensação aos países andinos por sua luta contra as drogas, mas rapidamente se transformaram em um novo instrumento de chantagem”.
Sobre a “ajuda econômica”, Alvarado destacou que o valor poderia ser destinado à capacitação em matéria de direitos humanos, “que contribuiria para evitar atentados à intimidade das pessoas, torturas, execuções extrajudiciais e demais atos que denigram a humanidade”. Ele lembrou que o Equador é um dos sete países americanos que ratificaram os instrumentos interamericanos de direitos humanos, e por isso “solicita fraternalmente aos EUA que ratifiquem alguns deles”.
“Entendo que devem existir mecanismos de luta contra o terrorismo, mas não podemos admitir que esse empenho atropele os direitos humanos e a soberania dos povos”, afirmou o secretário de Comunicação equatoriano. Além disso, ele expressou o “carinho e respeito ao povo norte-americano, com o qual sempre mantivemos excelentes relações e com o qual nos solidarizamos pela espionagem massiva da qual também é alvo”.
Segundo Alvarado, “nos teria agradado que a mesma urgência exigida para a entrega do senhor [Edward] Snowden caso ele pise solo equatoriano fosse aplicada para diversos fugitivos da justiça equatoriana refugiados nos EUA”, se referindo especialmente “aos banqueiros corruptos que quebraram o país em 1999, cujas extradições foram reiteradas vezes negadas”.
Snowden
Na mesma coletiva de imprensa, a ministra coordenadora de Política, Betty Tola, explicou que é falsa a informação de que o governo do Equador havia entregado um documento ao ex-consultor da CIA. “Qualquer documento desse tipo não é responsabilidade” de Quito, sublinhou.
O governo equatoriano também informou que ainda não processou o pedido de asilo feito por Snowden porque a solicitação ainda não chegou a nenhuma de suas representações diplomáticas.
Snowden fugiu dos EUA para Hong Kong este mês depois de revelar informações sobre programas de vigilância secreta do governo dos EUA. De lá ele voou para Moscou, no domingo, e esperava-se que fosse para Havana na segunda-feira, mas não embarcou no avião que seguiu para Cuba.
O norte-americano de 30 anos, que enfrenta acusações de espionagem nos EUA, não é visto em público desde a chegada a Moscou. Autoridades russas disseram que ele permanece em uma área de trânsito do aeroporto Sheremetyevo.
* Com informações do jornal equatoriano El Telégrafo (Com Opera Mundi)
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