Editor da ISTOÉ é demitido, por whatsapp, porque ficou em casa devido a gripe


Editora Três demite de forma abusiva editor que estava trabalhando de casa por estar gripado. Sindicato busca explicações da empresa e dá todo apoio ao profissional

"Em atitude oposta ao bom-senso, ao respeito, à solidariedade e ao enfrentamento da crise de saúde que o país atravessa, a revista ISTOÉ demitiu, na sexta-feira (13), o seu editor de cultura, Luís Antônio Giron, que estava em home office por causa de uma grave crise de infecção das vias respiratórias, conforme atestado médico. Editor de Cultura de ISTOÉ havia três anos, Giron afastou-se do dia a dia da redação na última semana para proteger os demais companheiros de redação duas semanas depois de voltar de Dubai, onde estava a trabalho – e continuou fazendo o seu trabalho de casa. “Para não comprometer a saúde das pessoas, expondo os colegas a riscos, não compareci à redação e justifiquei a minha ausência. Fiquei com medo de ter sido contaminado e contagiar as pessoas no ambiente fechado da redação”, afirma Giron.

Mostrando despreparo para lidar com a situação de crise aberta com o novo coronavírus, o diretor de redação de ISTOÉ, Germano Oliveira, assim que recebeu o comunicado do editor de que iria trabalhar em home office, respondeu por whatsapp: “Gripe nunca foi ameaça a ninguém. Eu mesmo trabalhei gripado a semana passada inteira.”

Na troca de mensagens por whatsapp, então, Germano comunica a demissão: “Não terá home office, e vamos resolver logo a sua situação. Boce [Você] está fora certo?”

Além disso, Germano ameaça o jornalista caso ele busque na Justiça os seus direitos. “Posso te processar por danos morais”, ameaça, depois de ser informado pelo jornalista que poderia entrar com uma reclamação judicial contra a demissão, e pedindo o reconhecimento do vínculo empregatício – pois a Editora Três desrespeita de forma aberta as leis trabalhistas, ao impor a quase todos os seus profissionais o regime de “pessoa jurídica”, apesar de serem todos empregados com as características do vínculo empregatício (habitualidade, pessoalidade, salário e subordinação).

Para Paulo Zocchi, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), a situação, que já era inadmissível na editora, tornou-se totalmente abusiva. “É intolerável que se demita um profissional que, na atual situação de pandemia, segue as orientações oficiais dos órgãos de saúde e decide trabalhar de casa por estar com um quadro gripal. O jornalista mostra uma responsabilidade coletiva que a Editora Três, por suas práticas, jamais demonstrou”.

A demissão, neste contexto, torna-se ainda mais cruel porque o jornalista demitido, por não ter o vínculo reconhecido, tampouco recebe o pagamento de qualquer direito trabalhista ao qual teria direito – como aviso-prévio, férias, 13º proporcional, 40% de multa sobre o FGTS, liberação do FGTS e seguro-desemprego. “O Sindicato, há 15 dias, registrou uma denúncia contra a empresa na Delegacia Regional por causa dessas e de outras irregularidades trabalhistas. Vamos reforçar o pedido de investigação”, diz Zocchi.

A realidade da Editora Três é que a empresa está com o salário atrasado há cinco meses para os PJs, quase 100% dos jornalistas, e cerca de quatro meses para os celetistas. A ISTOÉ não paga horas extras, 13º ou qualquer direito trabalhista para os PJs. Diversos processos tramitam na Justiça trabalhista contra a empresa. Segundo jornalistas que trabalham na Editora Três, atualmente, como o atraso no pagamento é tão grande, muitos jornalistas são contratados, trabalham e saem da revista sem receber nada.

“O Sindicato segue o seu trabalho de tentar reunir os jornalistas para buscar condições dignas e corretas para exercermos o nosso trabalho, lançando mão de todos os meios, inclusive os judiciais”, afirma Zocchi. “O Jurídico do Sindicato está à disposição de Giron e de todos os jornalistas que queiram entrar com ações individuais contra a empresa para receber o que têm direito”.

Procurado, o diretor de redação Germano Oliveira não quis responder aos questionamentos do SJSP sobre a demissão de Luís Antônio Giron ou sobre o atraso no pagamento dos jornalistas.

A edição 401 do Unidade, publicada em setembro de 2019, denunciou a pejotização em massa da Editora Três, que já resultou, inclusive, em inéditas greves de trabalhadores pejotizados contra a empresa, para obrigar ao pagamento dos salários (para ler a matéria, clique aqui).

Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo"

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