O canto livre de Nara Leão. Acredite: é ótima série

 

José Carlos Alexandre

                                                                     


Depois de muito relutar, assinei a Globoplay por causa  do "Mariguella". Eu não poderia perder a exibição do filme do ator Wagner Meira, baseado no livro do jornalista Mário Magalhães, do mesmo título, Do MM tenho também "Sobre lutas e lágrimas", um relato dos últimos anos da política brasileira.

Voltando, entretanto ao Globoplay, eis que decido também ver a série "O canto livre de Nara Leão". Que maravilha de surpresa. 

Sinceramente, vêm  à tona a maior parte da nossa história política, social e cultural dos anos 50 e 60, notadamente, e até a morte da Narinha, aquela extremamente participativa da vida nacional nos tempos cinzentos. 

E se mostrando avançada o suficiente para acolher os  novos baianos e projetar ainda mais ícones da nossa música como  Roberto e Erasmo Carlos, Jerry Adriane, Fagner, lançar Maria Bethânia como cantora e atriz e por aí vai.

E você, caro amigo, tem de sobra a oportunidade de rever músicas de protesto como "Carcará", outras de pura amenidades como "A Banda!, que levantou corporações musicais de todo o Brasil, consagrando definitivamente as "Santas Cecílias"...e ver cada estupidez praticada por assaltadores do sistema político brasileiro para implantar o arbítrio e com o golpe de 1º de abril. 

Inacreditável as revelações de um dos cantores projetados por Nara, Chico Buarque de Hollanda. Nunca o vi tão compenetrado numa entrevista-bomba, falando sobre os tempos duros. E citando nomes de chefões militares que tentavam por fim à cultura nacional. Não só com a censura, que era além do que a gente até agora imaginava...

A série, disponível para assinantes, tem como produtor artístico o jornalista Pedro Bial, que foi casado com uma filha de Nara Leão com o cineasta Carlos Diegues. E é justamente Cacá Diegues que denuncia estar a cantora ameaçada até de estupro e de outros tipos de violência, por parte de agentes da ditadura que durou até 1965.

Quando você assiste capítulo atrás de capítulo, você tem vontade de sempre voltar à entrevista do cantor  Chico Buarque e de suas denúncias, algumas até agora que muita gente ignorava. 

E tem também a corajosa investida da Narinha sobre militares, publicada pela imprensa da época e que rendeu crônica de Carlos Drummond de Andrada; apresentações do grupo de teatro Opinião; primeiras apresentações do que depois se convencionou chamar de "Bossa Nova"...

Chega de dar dicas. Paro por aqui com a certeza de que vou ficar  revendo a série...Eu que não sou muito de ver séries, já enfadado de "Casa de Papel". 


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