Pedro Mesquita, um jornalista
Notícias do precário
Carlos Lúcio Gontijo
Pedro Rabelo Mesquita, jornalista, nasceu a 26 de novembro de 1925. Foi chefe de revisão do Jornal de Minas durante muitos anos e, mais tarde, trabalhou como revisor no Diário da Tarde, quando da formação do IV turno, que funcionava madrugada adentro e ao qual tivemos o prazer de chefiar até a extinção do departamento, a partir do momento em que os jornais tiraram da cartola a idéia de que não lhes competia o dever de ser propagadores do bom português.
Pedrinho, como o chamamos carinhosamente, é exemplo de caráter, honra e dignidade, tanto no exercício profissional quanto na condição de ser humano. Sempre viveu de seu trabalho como jornalista, sem jamais recorrer a favores de seus muitos amigos que tiveram a sorte de se tornar figuras de destaque, ocupando elevados cargos públicos, como é o caso do falecido Célio de Castro, do qual foi colega de escola em Oliveira, na região Sudoeste do Estado de Minas Gerais.
Nosso amigo Pedro Mesquita optou por não se casar e cuidou da tia e da mãe, que viveram praticamente 100 anos. Com o falecimento delas e a chegada da aposentadoria, Pedrinho se viu só. Pouco lhe sobrou de suas amizades construídas dentro da labuta do jornalismo; da boemia cultivada com diversão, bebida e alguns amores; da sua preocupação com os destinos da categoria – por meio de um sindicado mais efetivo e menos “deslumbrado” – e, também, da sua passagem pela direção de escola de samba em Belo Horizonte. Enfim, Pedro Mesquita se viu em absoluta solidão e trancafiado no refúgio de seu apartamento na Rua dos Tamoios.
Hoje, salvo (a palavra é essa) por uma amiga dos bons tempos de Revisão, que se compadeceu com o seu estado de saúde e saiu à procura de seus parentes, o jornalista Pedrinho se encontra em Divinópolis, município do Centro-Oeste mineiro, internado em uma clínica, onde vislumbrou sua mãe na figura de uma frágil senhora de olhos claros, à qual abraça e acaricia os cabelos por horas a fio. Ou seja, nosso querido amigo Pedro Mesquita se encontra completamente desmemoriado – com tão elevado grau de esclerose que é incapaz de reconhecer as pessoas e, às vezes, até a si mesmo.
Eis aí, para os jornalistas, uma espécie de notícia do precário; tomada como ocorrência de remota possibilidade de ser vivenciada por qualquer um deles. Infelizmente, a grande maioria de nós, profissionais de comunicação, vive em tal embevecimento com a pretensa importância de nosso trabalho que não se dá conta da superficialidade que nos rodeia, permeando nossa existência de relacionamentos desenraizados e fugidios, pois que contaminados pela mesma pressa com que os fatos se sucedem e são divulgados no dia-a-dia.
Em síntese, na maioria das vezes, nos esquecemos de nós e agimos como se fôssemos deuses do tempo, que, à revelia de nossa superestimação, passa e termina nos revelando a nossa precariedade de seres comuns. E o pior dessa história é que os jornalistas não somos notícia nem detentores do valor que imaginamos ou deveríamos ter, pois, para os patrões e senhores da “mídia-engenho”, não passamos de simples cabos em carne e osso plugados à engrenagem tecnológica dos meios de comunicação. Assim, sem meias-palavras, não passamos de peças substituíveis, de precária validade e cuja realidade profissional não surge de repente nem ao acaso: é alicerçada por nós mesmos – jornalistas –, que descuidamos de nossa vida afetiva e social enquanto exercemos o nosso papel e nos contentamos com os tapinhas nas costas, a popularidade passageira e os convites que nos garantem o inconseqüente esgueirar-se em ricos salões da alta sociedade.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br
Carlos Lúcio Gontijo
Pedro Rabelo Mesquita, jornalista, nasceu a 26 de novembro de 1925. Foi chefe de revisão do Jornal de Minas durante muitos anos e, mais tarde, trabalhou como revisor no Diário da Tarde, quando da formação do IV turno, que funcionava madrugada adentro e ao qual tivemos o prazer de chefiar até a extinção do departamento, a partir do momento em que os jornais tiraram da cartola a idéia de que não lhes competia o dever de ser propagadores do bom português.
Pedrinho, como o chamamos carinhosamente, é exemplo de caráter, honra e dignidade, tanto no exercício profissional quanto na condição de ser humano. Sempre viveu de seu trabalho como jornalista, sem jamais recorrer a favores de seus muitos amigos que tiveram a sorte de se tornar figuras de destaque, ocupando elevados cargos públicos, como é o caso do falecido Célio de Castro, do qual foi colega de escola em Oliveira, na região Sudoeste do Estado de Minas Gerais.
Nosso amigo Pedro Mesquita optou por não se casar e cuidou da tia e da mãe, que viveram praticamente 100 anos. Com o falecimento delas e a chegada da aposentadoria, Pedrinho se viu só. Pouco lhe sobrou de suas amizades construídas dentro da labuta do jornalismo; da boemia cultivada com diversão, bebida e alguns amores; da sua preocupação com os destinos da categoria – por meio de um sindicado mais efetivo e menos “deslumbrado” – e, também, da sua passagem pela direção de escola de samba em Belo Horizonte. Enfim, Pedro Mesquita se viu em absoluta solidão e trancafiado no refúgio de seu apartamento na Rua dos Tamoios.
Hoje, salvo (a palavra é essa) por uma amiga dos bons tempos de Revisão, que se compadeceu com o seu estado de saúde e saiu à procura de seus parentes, o jornalista Pedrinho se encontra em Divinópolis, município do Centro-Oeste mineiro, internado em uma clínica, onde vislumbrou sua mãe na figura de uma frágil senhora de olhos claros, à qual abraça e acaricia os cabelos por horas a fio. Ou seja, nosso querido amigo Pedro Mesquita se encontra completamente desmemoriado – com tão elevado grau de esclerose que é incapaz de reconhecer as pessoas e, às vezes, até a si mesmo.
Eis aí, para os jornalistas, uma espécie de notícia do precário; tomada como ocorrência de remota possibilidade de ser vivenciada por qualquer um deles. Infelizmente, a grande maioria de nós, profissionais de comunicação, vive em tal embevecimento com a pretensa importância de nosso trabalho que não se dá conta da superficialidade que nos rodeia, permeando nossa existência de relacionamentos desenraizados e fugidios, pois que contaminados pela mesma pressa com que os fatos se sucedem e são divulgados no dia-a-dia.
Em síntese, na maioria das vezes, nos esquecemos de nós e agimos como se fôssemos deuses do tempo, que, à revelia de nossa superestimação, passa e termina nos revelando a nossa precariedade de seres comuns. E o pior dessa história é que os jornalistas não somos notícia nem detentores do valor que imaginamos ou deveríamos ter, pois, para os patrões e senhores da “mídia-engenho”, não passamos de simples cabos em carne e osso plugados à engrenagem tecnológica dos meios de comunicação. Assim, sem meias-palavras, não passamos de peças substituíveis, de precária validade e cuja realidade profissional não surge de repente nem ao acaso: é alicerçada por nós mesmos – jornalistas –, que descuidamos de nossa vida afetiva e social enquanto exercemos o nosso papel e nos contentamos com os tapinhas nas costas, a popularidade passageira e os convites que nos garantem o inconseqüente esgueirar-se em ricos salões da alta sociedade.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br
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