A extraordinária Vanessa Redgrave
Mireya Castañeda
DIZER que Vanessa Redgrave é uma das maiores atrizes do cinema mundial é lugar-comum. No seu regresso a Havana, depois de 45 anos da primeira visita, trouxe o filme A Febre, dirigida por seu filho Carlo Nero.
Essa fantástica atriz manteve o público da Sala Chaplin totalmente absorto em sua poltrona durante os 83 minutos de duração do difícil filme, no qual Nero optou por vários monólogos de Vanessa diretos à câmara.
Só ela poderia ter feito uma interpretação tão perfeita de seu personagem, carregado de tanto desgarre interno. O diretor arriscou tudo e, com Redgrave monologando, ganhou, apesar de também utilizar cenas dramáticas (com um elenco que inclui o jornalista Michael Moore, a estrela de Hollywood, Angelina Jolie, e até sua irmã, Joely Richardson) e, surpreendentemente, a animação.
Em entrevista coletiva, Redgrave e Nero explicaram que levaram seis anos para realizar o projeto da filmagem, baseada no monólogo teatral do ator e escritor Wallace Shawn, explicando que puseram nele toda sua vida.
"Estou mais orgulhosa deste filme que de tudo o que já fiz. Tenho uma admiração e um profundo respeito por meu filho; é uma pessoa em quem confio, ele se desenvolveu como ser humano, como diretor de cinema, escritor e pensador", expressou.
Segundo Nero (filho do ator italiano Franco Nero) seu filme é muito pessoal e "e se pode perceber como história de como Vanessa se envolveu politicamente.
"É quase autobiográfica, mas não, apesar de que o que enfrenta a mulher na película é algo que Vanessa experimentou quando jovem, mudando o curso de sua vida".
O diretor lembrou que no final do filme, a protagonista diz: "minha vida está irremediavelmente corrompida", mas ela tem a alternativa de mudar de campo, unir-se aos pobres, mas isso não seria uma traição a seus amigos?
Tudo isso – destacou Nero – ela já experimentou, porque foi rechaçada e até presa por suas crenças.
A FORÇA DE SUAS INTERPRETAÇÕES
A primeira pergunta na coletiva foi acerca de Isadora, de 1968, que lhe valeu uma indicação ao Oscar. "É difícil falar brevemente sobre Isadora Duncan, que revolucionou a dança e, por isso, foi revolucionária. Identifiquei-me de coração e alma com sua dança e seu espírito".
E Michelangelo Antonioni e Blow up?
Trabalhar com ele foi fazê-lo com um grande artista da arte cinética (corrente das artes plásticas, da qual Antonioni é considerado precursor no cinema). Aprendi muito, a relação entre as formas, a cor e o espaço e isso é muito importante para os atores.
Não podia deixar de mencionar Júlia, de Fred Zinnemann, com a qual ela obteve o Oscar e um Globo de Ouro, em 1977.
É muito conhecida por sua preferência pelas atuações difíceis e inclusive, polêmicas.
Como seleciona seus personagens?
Devo explicar que não seleciono um personagem, dependo dos produtores que me oferecem trabalho. É verdade que amo meu trabalho, mas também que preciso dele para pagar meu apartamento e comer. Às vezes, posso escolher como no filme A Febre.
CUBA MUDOU MINHA VIDA
Vim a Cuba em 1963 com meu marido (pai de Joely e Natasha) que foi um diretor de cinema muito importante, Tony Richardson (1928-1991), ganhador de dois prêmios Oscar por seu filme Tom Jones. Com Redgrave filmou, entre outros, O Marinheiro de Gibraltar e A Carga da Brigada Ligeira. Agora volto com meu filho Carlo.
"Como se pode ver, a espiral pessoal entre estas visitas, me torna difícil expor-me brevemente. Pode-se dizer que há uma coincidência feliz entre as duas.
Em 1963, Tony e eu visitamos lindas residências, propriedade de gente muito rica que se tinham transformado em creches, orfanatos, escolas primárias. Naquela época, a educação era minha paixão e o espírito de determinação, perseverança de Cuba para que a educação seja o direito natural de cada criança foi uma das coisas que mudou minha vida. Inclusive, empreguei meu dinheiro numa pequena escola de Londres para crianças de 3 a 5 anos. Meu filho freqüentou essa escola. Uma conclusão pessoal que me levou a ser embaixadora da Unicef.
Além do governo cubano, não encontrei outro que ponha a educação como prioridade, e está na Declaração dos Direitos Fundamentais da Infância assinada em 1989 por todos os países.
Cuba se preocupa muito pela educação e saúde de suas crianças, é para mim um exemplo e creio que se outros governos também o fizessem, o mundo mudaria. Tenho cinco netos e cada dia me convenço mais disto.
Que significou a Revolução Cubana para sua geração? Perguntaram à atriz.
"Júbilo, determinação, resistência, perspectivas. Creio que nesta época tão cheia de dificuldades, não só para Cuba, espero que vocês sintam cada dia, mesmo que não tenham evidências tangíveis, que são parte do mundo, que esse espírito de pôr seus olhos no presente e no futuro de seus filhos, é o que abre as portas que se fecharam por muito tempo e que têm muitos amigos verdadeiros.
"Isto é algo maravilhoso deste Festival, o intercâmbio, que nos muda também. Por isso, acredito que é preciso eliminar qualquer tipo de bloqueio, é uma política estúpida, prejudicial.
"Para mim, é um privilégio estar aqui. Me enche de alegria. Neste mundo, que não é o melhor dos mundos possíveis, o Festival é um triunfo sobre o bloqueio, este desejo de comunicação, apesar de breve, mas intenso". (Granna digital) -Imagem: La Jiribilla
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