Arquivo estatal da Rússia traz exposição sobre Nikita Khruschov
A exposição dá grande atenção à política internacional de Khruschov Foto: Vladímir Pésnia/RIA Nóvosti
Boris Chibanov, especial para Gazeta Russa
Foi inaugurada em Moscou uma exposição alusiva ao 120º aniversário de nascimento de Nikita Khruschov. Foram apresentados ao público pela primeira vez documentos raros que colocam luz sobre o papel do líder soviético na crise do Caribe e no episódio da entrega da Crimeia à Ucrânia.
Na sala de exposições do Arquivo Estatal da Rússia podem ser vistas fotografias e documentos audiovisuais dedicados à personalidade de Nikita Khruschov. O público tem a possibilidade de conhecer, pela primeira vez, apontamentos pessoais do antigo primeiro secretário do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, documentos relativos à crise do Caribe, peças de acusação contra ele e contra outros, assinados por ele, e deliberações relacionadas com a transferência da Crimeia para a Ucrânia.
“O período em que Khruschov esteve no poder foi importante para a União Soviética”, relata Andrêi Sorokin, diretor do Arquivo Estatal da História Social e Política da Rússia. “Khruschov anteviu muito do que tem a ver com os tempos de Gorbatchov, incluindo a Perestroika.
As questões que tentou resolver, estando no cargo de primeiro secretário, foram de novo levantadas 25 anos depois da sua demissão, mas já forçosamente.”
O período ucraniano e a entrega da Crimeia
Um dos temas centrais da exposição é o papel de Khruschov no relacionamento entre a Rússia e a Ucrânia. A carreira de Khruschov teve início em 1938, quando chegou a dirigente da república irmã.
As razões que estão na base da entrega da Crimeia à Ucrânia, segundo o despacho oficial presente na exposição, é a “semelhança econômica, a proximidade geográfica e os fortes laços no domínio da cultura e da economia popular”.
De outros documentos se deduz que Khruschov se deixou arrastar por interesses pessoais e que a Crimeia foi uma dádiva aos seus antigos camaradas que estavam à frente dos destinos da República Socialista Soviética da Ucrânia.
Foto: RIA Nóvosti
A mostra expõe também a interpretação bem original dos acontecimentos pelo filho de Khruschov, segundo o qual a Crimeia teria passado para a Ucrânia devido a uma necessidade organizacional, já que assim seria mais fácil fornecer água à península.
A política externa
A exposição dá grande atenção à política internacional de Khruschov.
“Ele foi o primeiro dirigente soviético a encarar a política externa como uma atividade social”, opina Sorokin. “Ele assegurou claros avanços em muitas direções nesta área. O objetivo principal da política externa de Khruschov ficou bem expresso nas palavras que dirigiu a Kennedy: ‘A URSS também é uma grande potência’.”
As peças expostas são bem demonstrativas de como Khruschov reforçou a influência da URSS nos países do Tratado de Varsóvia, como telegramas de parabéns enviados por dirigentes estrangeiros e fotografias conjuntas. Mas outras testemunham erros graves, por vezes trágicos, cometidos por Khruschov na sua política para com países aliados.
Como o caso um estenograma de uma conversa de Khruschov com dirigentes poloneses, no qual ele ameaça “intervir grosseiramente” nos assuntos internos do país caso eles não satisfaçam suas exigências. A ordem para a entrada das tropas na Hungria foi um passo para agravar as relações no mundo bipolar.
Foto: Getty Images/Fotobank
A política de Khruschov para os países do campo socialista provocou a maior tensão em toda a história das relações entre a URSS e os EUA –a crise do Caribe.
A exposição mostra o crescimento das paixões. O embaixador soviético em Washington comunica a Moscou, num telegrama cifrado, que na capital norte-americana, após a instalação dos mísseis soviéticos em Cuba, foram “elaborados planos para a evacuação urgente do presidente, governo e principais ministérios para uma região secreta situada a 300 milhas”.
Atualização da herança histórica
As decisões políticas de Nikita Khruschov na memória dos russos não são tão determinantes como as dos dois líderes soviéticos que o antecederam: Lênin e Stálin.
A consciência popular tem do “líder-economista” uma imagem excêntrica, de um homem não muito inteligente e até cômico. Tal reputação se deve a certas atitudes extravagantes: na tribuna da ONU, bateu com um sapato, que se fixou na consciência das massas como um martelo do juiz, enquanto uma promessa dirigida ao mundo, com o recurso a uma expressão idiomática (que por mais intraduzível que seja não deixa de ter um sentido ameaçador e, simultaneamente, burlesco), continua ainda hoje sendo um popular aforismos.
No entanto, os mais recentes acontecimentos políticos e sociais russos demonstram que a Rússia continua a lidar com as consequências das decisões por ele tomadas, apesar de seus traços caricatos. (Com a Gazeta Russa)
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