Com 416 desfiles e 500 mil turistas, BH espera ter o maior carnaval da história
Então Brilha/Divulgação
Leo Rodrigues (*)
A prefeitura de Belo Horizonte já se refere ao carnaval 2017 como o maior da história da cidade. A expectativa é de que a folia mobilize 2,4 milhões de pessoas, dos quais 500 mil são turistas e os demais, moradores locais. A estimativa é ousada, uma vez que o carnaval do ano passado registrou um quinto da estimativa de foliões que não residem em Belo Horizonte, cerca de 100 mil.
Segundo Aluizer Malab, presidente da Belotur, este prognóstico leva em conta o impacto da crise econômica, que deve inverter o sentido do fluxo de foliões que antes iam para outros municípios de Minas Gerais. "Nós vamos receber turistas de outros estados e também de outros países. Mas este ano, acho que teremos um grande incremento das cidades mineiras que cancelaram seus carnavais por dificuldades financeiras".
Conforme dados da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur), serão 416 desfiles organizados pelos 350 blocos cadastrados. Um aumento de 30% em relação à 2016. Com todos estes números, a expectativa é que a cidade aumente significativamente a receita turística direta. No ano passado, foram movimentados R$ 54,7 milhões.
O crescimento do carnaval de Belo Horizonte deve contribuir também para que Minas Gerais fique entre os três estados com maior receita no período, atrás de Rio de Janeiro e São Paulo e superando a Bahia. De acordo com um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as cidades mineiras devem ter faturamento de R$ 332,4 milhões durante a folia nos segmentos de hospedagem, alimentação e transporte.
Este cenário dificilmente se concretizaria sem a expansão do carnaval de Belo Horizonte. Se até anos atrás as festas no estado se concentravam em municípios do interior, com destaque para as cidades históricas, agora é na capital que as ruas recebem mais foliões.
O pontapé inicial da folia aconteceu hoje (11). A programação completa, que vai até o dia 1º de março de 2017, pode ser consultada em uma página da prefeitura ou por meio de um aplicativo que traz a agenda e os percursos dos blocos.
Mobilização
Para chegar ao maior carnaval de sua história, Belo Horizonte contou com a mobilização de movimentos de ocupação do espaço público. Estes grupos, formados majoritariamente por artistas e estudantes, começaram a se organizar em 2009 para criar formas lúdicas de contestar medidas restritivas do poder público, em especial um decreto da prefeitura que proibia eventos na Praça da Estação, no centro da cidade.
Pouco a pouco, os blocos foram surgindo e começaram a ampliar as pautas, discutindo temas como a tarifa zero nos ônibus, o déficit habitacional e o combate ao preconceito racial, ao machismo e à homofobia.
A trajetória recente do carnaval de Belo Horizonte é motivo de orgulho para muitos participantes. Por esta razão, o folião Lucas Buzatti, que integra a bateria de 14 blocos, decidiu publicar nas redes sociais uma lista de recomendações para quem pretende conhecer a folia da capital mineira. Entre sugestões como hidratar os músicos e participar dos ensaios, ele defende também a importância de conhecer a história. "Para quem está começando agora a pular esse carnaval de rua e de luta, é importante entender a origem do fenômeno e seus componentes políticos, sociais e culturais".
O folião Thales Machado valoriza a história do carnaval de Belo Horizonte, mas acha que é preciso tomar cuidado com essa cobrança. "Se é pra entender contexto eu vou pra biblioteca e não para o bloco. Conhecer a história é legal, mas quem não se interessa não é menos preparado para curtir o carnaval. Podemos respeitar o coleguinha que só quer tomar uma cerveja e não está nem aí para a revolução. A festa também é do caos, do chato, do sem noção".
Poder público
Em um carnaval que surge a partir da contestação a iniciativas do poder público, a relação entre os blocos e a prefeitura de Belo Horizonte começou conflituosa. Críticos da imposição de regras e defensores de manifestações culturais com menos amarras, os organizadores dos blocos se colocaram nos primeiros anos relutantes em aderir ao cadastro organizado pela Belotur.
"Nunca nos furtamos ao diálogo, mas o objetivo da prefeitura no início era impor dificuldades. Eram proibições, medidas que dificultavam a logística, até intimidação através do aparato da Polícia Militar. Posteriormente, quando ela [a prefeitura] vê que é irreversível, começa a disputar a autoria do ressurgimento dos blocos de rua", diz o folião Guto Borges, integrante de diversos blocos, incluindo o Tico Tico Serra Copo, um dos pioneiros deste carnaval recente.
O aumento no tamanho da festa cria novas realidades. Para Rodrigo Picolé, regente do bloco Tchanzinho Zona Norte, o cadastro acaba se tornando inevitável. "O crescimento vai te conduzindo para este caminho, porque vão se criando entraves legais para a saída dos blocos. Nós precisamos de estrutura de banheiro e serviço de limpeza, por exemplo. E com o público que temos hoje, isso sai caro e não temos o dinheiro. Então o poder público entra", diz.
De acordo com a Belotur, poucos blocos optaram por se manter fora da programação oficial. "Nós sabemos que os blocos surgiram com certa resistência ao poder público e tem essa origem politizada. Mas com o crescimento do evento e com o diálogo, foi havendo mais entendimento. Esse cadastro e essa organização beneficiam a todos. Os que ainda resistem são poucos. E mesmo eles, a gente tem mapeado", diz Aluizer Malab, presidente da Belotur.
A prefeitura também utilizou o cadastro para uma novidade. A publicação de um edital de patrocínio para os blocos. Cinquenta serão contemplados e vão receber valores entre R$ 3 mil e R$ 10 mil. Os recursos poderão ser usados para sonorização e contratação de artistas. O resultado do edital deve ser divulgado na terça-feira (14). "Temos blocos com um volume muito grande de foliões e ampliar o alcance do som melhora bastante a qualidade dos desfiles", diz Aluizer Malab, presidente da Belotur.
Se os blocos e o poder público conseguiram estabelecer um diálogo, os obstáculos continuam existindo para a iniciativa privada. Em acordo com a prefeitura, a Ambev se tornou patrocinadora do carnaval de Belo Horizonte e a Skol foi definida como cerveja oficial da folia na cidade. Porém, a empresa tem encontrado dificuldades para fechar patrocínios diretamente com os blocos. Nem mesmo a oferta de alugar carro de som, uma das principais dificuldades dos grupos, tem seduzido alguns foliões.
"Há blocos que estão aceitando. Nós preferimos buscar outros caminhos e manter nossa autonomia", conta Rodrigo Picolé. Seu bloco, o Tchanzinho Zona Norte, realizou uma campanha de financiamento coletivo em conjunto com outros quatro: Juventude Bronzeada, Então Brilha, Havaianas Usadas e Garotas Solteiras. Com o recurso levantado eles pretendem alugar e compartilhar um carro de som ao longo do carnaval.
(*) Leo Rodrigues é correspondente da Agência Brasil
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