Dirigíveis renascem em sistema de defesa antimíssil
Aleksandr Verchínin (*)
Os enormes balões que povoavam a imaginação das crianças no final do século passado pareciam obsoletos, mas serão retomados por Moscou. Com grande capacidade de carga, não necessitam de grandes aeroportos, mas têm problemas relativos à segurança.
Em maio, a imprensa russa divulgou que em 2021 as Forças Aeroespaciais da Rússia passarão a empregar um dirigível na defesa.
O modelo experimental "Atlant", desenvolvido por engenheiros da holding “Avgur-RosAerosistemi”, foi concebido de forma bastante ambiciosa.
Em sua versão mais pesada, ele carregará até 170 toneladas de peso útil - o peso aproximado de três tanques “Armata" com munição completa -, percorrendo uma distância de até 5.000 km.
Apesar de parecerem coisa do passado, os dirigíveis apresentam algumas vantagens em relação à aviação de transporte. Por exemplo, eles consomem muito menos combustível e não necessitam de aeroportos com grande infraestrutura, o que possibilita sua utilização no norte da Rússia, região pouco desenvolvida do país.
Mas o transporte não será a única tarefa dos dirigíveis. Com tecnologias modernas, eles serão adequados às necessidades de defesa antimíssil.
Sua ampla superfície permite a disposição de diversas antenas e radares, que podem monitorar o espaço aéreo sobre uma área de milhares de quilômetros. Dessa forma, eles poderão registrar lançamentos de mísseis, sobretudo alinhados com satélites. A baixa velocidade dos dirigíveis, nesse contexto, não representará desvantagem.
Análogos estrangeiros
Os EUA também têm voltado seus olhares aos dirigíveis na atualidade. O “Aeroscraft”, por exemplo, em desenvolvimento no país, tem muitas semelhanças com o “Atlant”.
Com grande capacidade de carga (que superaria consideravelmente o homólogo russo), o “Aeroscraft” deverá ser utilizado para transporte militar em áreas de difícil acesso.
Para os Estados Unidos, a questão é relevante, já que suas unidades militares estão espalhadas pelo mundo afora, inclusive em áreas de difícil acesso onde é difícil construir pistas de decolagem e aterrissagem.
Outro fato notável é que a China obteve grandes avanços na utilização de dirigíveis militares. Em 2015, um verdadeiro gigante foi testado no país, com aeróstato de quase 20.000 metros cúbicos de hélio, subindo a altitudes de até 100 km, onde pode permanecer por até 2 dias.
Com o uso de baterias solares, os engenheiros chineses puderam aumentar a carga útil da aeronave. Seu objetivo mais provável é o controle das águas no leste do Oceano Pacífico, que nos últimos anos se transformaram em área de confronto entre o país e seus vizinhos apoiados pelos Estados Unidos.
Base empírica
Houve tempos em que os dirigíveis dominavam os céus e eram amplamente utilizados no setor militar.
No início do século 20, os zepelins alemães se tornaram rapidamente os favoritos dos órgãos militares. Seus primeiros testes mostravam grande capacidade de combate e eles carregavam cargas de bombas que pesavam toneladas. Apenas em 1916, os dirigíveis alemães realizaram mais de 120 ataques contra cidades francesas.
Há cem anos, a Rússia figurava entre os líderes mundiais na construção de dirigíveis. Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, somente a frota aérea alemã de dirigíveis podia se equiparar à da Rússia.
E o trabalho nesse setor continuou mesmo após a revolução de 1917. Mas, às vésperas da Grande Guerra Patriótica, ou seja, a participação russa na Segunda Guerra Mundial, a União Soviética optou pela construção de aviões - o país não podia gastar seus escassos recursos em duas direções distintas para desenvolver a frota aérea.
O fator técnico também desempenhou um papel importante. Após uma série de catástrofes na década de 1930, a produção de dirigíveis começou a decair no mundo todo. A segurança então era realmente um problema, já que as explosões eram recorrentes.
Os construtores de dirigíveis modernos, porém, utilizam novas tecnologias de fornecimento de gás e estão confiantes de que conseguirão corrigir os erros do passado. Veremos.
(*) Aleksandr Verchínin é doutor em História e pesquisador sênior do Centro de Análise de Problemas.
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