Aprender russo é difícil
Fátima de Oliveira
Estudantes e professores comentam principais desafios do idioma. Língua é considerada uma das mais bonitas, mas também das mais complicadas pelo estrangeiro.
A primeira coisa que a tradutora japonesa Mayu Okamoto disse quando se deparou pela primeira vez com o russo, segundo a própria, foi: “Essa língua tem muitos caracteres diferentes”. Mesmo alunos estrangeiros familiarizados com o alfabeto latino (como é o caso da maioria dos asiáticos) percebem que o russo é uma língua diferente.
A professora particular de russo Natália Blinóva afirma que os estudantes estrangeiros ficam nervosos e inquietos quando descobrem que o idioma tem 33 letras - e ainda mais sons.
Além disso, por vezes as letras têm uma pronúncia diferente da escrita, como o “o” que vira “a” quando não está na sílaba tônica. A poalavra “xорошо́” [horoshô], por exemplo, que significa “bom”, é pronunciada [harashô] na maior parte do território russo).
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Há também sons que existem apenas no russo, e pronunciar a vogal “Ы” é um baita desafio.
Sobre essa, um estudante que tem o inglês como língua nativa comenta em um fórum de discussão na internet: “Um amigo meu russo sugeriu que eu usasse a palavra ‘table’ como exemplo, isolando o som entre o ‘b’ e o ‘l’ para obter o ‘Ы’. Mas isso simplesmente não está funcionando comigo”.
Uma vez que o estrangeiro consiga dar um jeito nesse problema, surgem outros desafios, como a diferença nos sons das consoantes “Ш” e “Щ”, por exemplo. Blinóva afirma que seus alunos só distinguem essas letras por escrito, pelo rabinho no “Щ” mesmo.
Alunos estrangeiros também acham a acentuação russa desafiadora: ela pode não apenas cair em qualquer sílaba de uma palavra, de forma aparentemente arbitrária (diferente do francês, por exemplo), como também muda de acordo com sua declinação ou número.
“Os acentos russos são imprevisíveis. É quase impossível entender por que, ao dizermos ‘mesa’, falamos ‘сто́л’ [‘stôl’] mas, no plural, ‘столы́' [‘stalí’]; enquanto telefone, que é 'телефóн’ [telefon] mantém a tônica no ‘o’ e fica, no plural, ‘телефóны' [telefôni]”, diz a professora de língua russa da Universidade Estatal de Moscou, Ana Soloviôva.
Seis casos
Quando o estudante estrangeiro passa a dominar a fonética russa e a pronunciar as palavras corretamente, um novo desafio aparece: a gramática.
“A parte mais difícil para mim foi memorizar os seis casos de declinação do russo”, diz o estudante alemão Simon Schirrmacher.
Simon morou na Rússia por um ano para se sentir minimamente confortável com os chamados ‘casos’. A gramática alemã, porém, também tem “casos” de declinação. Ou seja, enquanto em algumas línguas as palavras sofrem alterações (declinações) para concordar apenas em gênero ou número, o idioma russo tem também “casos” (“acusativo”, “nominativo”, “genitivo”, “possessivo” etc.) que indicam a função gramatical que desempenham em uma frase um nome, um adjetivo, um numeral etc.
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As declinações russas são particularmente difíceis para aqueles estudantes que, em suas línguas nativas, não têm nenhuma, ou naquelas em que as declinações não afetam a estrutura da palavra.
“Eu simplesmente não podia acreditar que precisava mudar o final das palavras em cada frase! Um horror!”, conta, rindo, Okamoto. “E, depois, há ainda as conjugações verbais. Ou seja, a cada linha que você fala precisa pensar, mudar todas as palavras, suas formas.”
Verbos difíceis
Um traço particular do russo que é difícil para os alunos estrangeiros entenderem são os verbos perfeitos e imperfeitos.
“Tenho muita esperança de que, em algum ponto, eu entenda esse assunto”, diz Schirrmacher sem muita esperança na voz.
Okamoto também descreve sua experiência com os verbos. “Lembro de ler um livro ilustrado repetidamente tentando compreender a diferença entre “пришёл” [prishôl] e “приходи́л” [prihadíl]. Qual era o significado disso? Onde estava esse homem? Ele saiu ou ele ficou? Foi terrível!”
Os verbos de movimento são um desafio à parte e abundam no russo. “Um verbo simples em italiano como ‘andare’ [andar] tem os equivalentes em russo 'ходи́ть', 'идти́', 'пойти́', 'е́хать', 'пое́хать', and 'е́здить'”, conta Blinóva.
Soloviôva menciona seu favorito, o verbo “ката́ться”, que pode ser traduzido como “andar em um veículo ou plataforma usado para recreação ao invés de para o transporte”, e que ainda é usado para “patinar”, “se movimentar em um balanço” ou ainda “rodar de carro sem destino certo”, dependendo do complemento.
Para dificultar ainda mais a vida dos estudantes estrangeiros, existem prefixos que podem ser usados com todos esses verbos, alterando totalmente seu significado.
O lado bom
Em alguns pontos, porém, o russo é mais fácil de se aprender que outros idiomas. Entre esses pontos positivos estão a ausência de artigos e um número relativamente pequeno de tempos, se comparado com outros idiomas europeus (apenas três em russo).
Para Soloviôva, o russo não é mais difícil de se aprender que o inglês, por exemplo. É preciso apenas se acostumar com ele.
“Se um estrangeiro começar a estudar o russo ainda criança, ele não irá considerá-lo difícil” , diz.
Blinóva argumenta que existem línguas mais complicadas, como o chinês mandarim ou o árabe.
“Na Rússia, a maioria das regras gramaticais mais terríveis acabam no nível A2. Uma vez que você alcançou isso, ganha a liberdade para praticar e pode aproveitar completamente o grande e belo idioma russo”, explica Blinóva.
(Com Rússia Beyond Br)
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