FARC, muito mais do que siglas na Colômbia
LAS2ORILLAS
Sergio Alejandro Gómez
Uma rosa vermelha e as siglas de Força Alternativa Revolucionária do Comum são identificativo do partido político surgido da maior guerrilha da Colômbia.
FORÇA Alternativa Revolucionária do Comum (FARC). Assim se chama o novo partido político com o qual os ex-guerrilheiros colombianos buscam assaltar a arena política, sem perder as siglas pelas que combateram em montanhas, planícies e florestas, durante mais de meio século.
O nome escolhido vai além das formalidades e envia uma clara mensagem sobre quais são seus objetivos, depois do histórico acordo de paz atingido em Havana.
O primeiro Congresso dos guerrilheiros desde sua passagem à vida civil, realizado na semana passada em Bogotá, não só devia definir a nomenclatura do partido, mas sua estrutura e a estratégia a seguir, perante o primeiro choque com as urnas nas eleições legislativas e presidenciais do próximo ano.
Contudo, o debate sobre o nome monopolizou parte das manchetes.
Alguns consideravam que o fim do conflito podia ser o momento para deixar atrás as antigas siglas e optar por uma renovação. Nova Colômbia e Esperança Popular estiveram acima da mesa, mas finalmente nenhuma conseguiu apoio. A decisão da maioria foi manter as iniciais das antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e apenas mudar seu significado.
Para uma parte do país, essas siglas levam uma carga de morte e sofrimento. Mas os antigos guerrilheiros apostaram em manter um símbolo de sua luta revolucionária que os acompanha desde os tempos de Marquetalia, quando surgiu o agrupamento, sob a liderança de Manuel Marulanda.
É, igualmente, uma clara mensagem de que não abandonaram os objetivos pelos quais tomaram as armas, há mais de 50 anos, mas que pretendem atingi-los por outros meios. A rosa vermelha que escolheram como logo acompanha essa lógica.
Aspiram a que a paz, na medida em que ajuda a fechar as feridas da guerra, remova os estigmas acumulados durante anos de propaganda negativa.
E esse caminho já começou a ser andado. Na sexta-feira, dia 1, reuniram-se na Praça Bolívar de Bogotá os mais de 1.200 delegados das FARCs que assistiram ao Congresso.
Para muitos deles, era a primeira visita à capital sem ter que se esconder ou evadir as autoridades. Também foi a primeira oportunidade dos bogotanos para ver tantos ex-guerrilheiros juntos, sem ter que sintonizar seus televisores.
O Congresso, que se estendeu por mais de uma semana, definiu que o partido se alimentará das diferentes correntes revolucionárias e libertárias, inclusive o pensamento bolivariano e terá entre suas prioridades o trabalho nas comunidades.
De fato, o «comum» do novo nome faz referência a células de trabalho nas calçadas e bairros da Colômbia profunda nas quais se define o destino do agrupamento, apesar de que para as próximas eleições legislativas têm garantido dez cadeiras no Congresso como resultado do Acordo de Paz.
Além de contar com sua própria organização e liderança – chefiada por Timoleón Jiménez, mas distribuída de maneira coletiva em forma muito similar ao antigo secretariado –, as FARCs buscam uma grande coalizão de movimentos sociais e partidos progressistas que garanta o cumprimento do acordo de paz e apague as ameaças guerreiristas da estrema direita e o paramilitarismo.
Ainda que tenham um forte caminho em diante, as Forças Alternativas Revolucionárias do Comum surgem em um momento de descrédito dos partidos tradicionais. Na última enquête de Gallup, as FARCs têm maiores probabilidades que nenhum outro agrupamento política nacional.
Embora esse dado por si só não lhes garanta uma via expedita à Casa de Nariño, é um sinal da necessidade de novos ares na política colombiana, ainda que venham acompanhados de nomes com longa história.
(Com o Granma)
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