IRRESPONSABILIDADE


A questão dos aposentados e a irracionalidade humana

Carlos Lúcio Gontijo


Nossa passagem por editoria de opinião de veículo de comunicação impressa e a longa experiência de articulista nos levam a sentenciar que os políticos se dividem em duas categorias: os malfeitores e os que se aproveitam do malfeito, apesar de se nos apresentarem como parte boa do parlamento putrefato – uma vez que vivem no lodo e não ousam se rebelar contra o corporativismo que protege os inveterados praticantes da politicagem perversa. Ou seja, aos que se anunciam integrantes das famigeradas honrosas exceções de praxe, assim como acontece com o dono de boiadas, compete dar nome aos bois, digo políticos, extraviados.
Há muitos anos, defendemos a tese de que os adeptos do autoritarismo descobriram que a melhor forma de exercê-lo é por meio do sufrágio democrático, onde a eleição quase sempre unge e legitima administrações e regimes ditatoriais.
Hoje, a sociedade brasileira se vê contemplada com a propalada liberdade de protestar, porém sua voz não alcança os moucos ouvidos congressuais, onde a maioria dos parlamentares permanece agindo em conformidade com o interesse dos que detêm o capital e jogam o peso de sua influência sobre toda e qualquer tomada de decisão.
Está aí, como exemplo, o imbróglio da Previdência Social, onde a irresponsabilidade atinge limites inimagináveis. Como pode um parlamento aprovar a extinção do diabólico e injusto fator previdenciário, um mecanismo engendrado para subtrair de 30 a 40% do trabalhador que se aposenta e, ao mesmo tempo, não colocar dispositivo legal que o substitua, construindo com tamanha inoperância uma gigantesca intranquilidade social no âmbito da proteção previdenciária, que não é tratada com a devida importância nem pela própria mídia brasileira, que há muito é representante de si mesma, entrelaçando promiscuamente seus espaços editoriais e publicitários.
É triste e avassaladora a constatação de que temos uma democracia cheia de príncipes, reis e caudilhos, que tudo pode e tudo perpetra contra o povo. E o grave da questão é que o Supremo Tribunal Federal (STF), ao que parece, optou por abraçar e refrigerar suas majestosas togas com os ventos do autoritarismo: censura o noticiário de jornal (caso envolvendo a corte dos Sarneys) e determina que o exercício do jornalismo dispensa formação acadêmica.
Mas também pudera, imprensa censurada e sem liberdade de expressão pode ser feita por qualquer cidadão que saiba ler e escrever. Enquanto o mesmo não se pode permitir quando a Justiça não funciona a contento e, no caso, poder-se-ia igualmente avocar a tese de extinção dos cursos de Direito, bastando aos incumbidos da aplicação da lei estar munido de atestado de sanidade mental e jurar disposição de uso do bom senso sempre na análise das querelas judiciais, uma vez que o uso inconstante (ou eventual) da razão vem aproximando o ser humano de irracionalidade inferior à dos chamados animais irracionais.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
http://www.carlosluciogontijo.jor.br/ (Imagem: reunião de aposentados, quando foi criada a Associação de Veteranos Jornalistas de Minas Gerais) Você poderá ampliar a foto, bastando clicar nela.

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