A adaga dos covardes, ou, O limite da imbecilidade direitista (Os grifos são meus, José Carlos Alexandre)
Mauro Luis Iasi
Um amigo libanês, pintor de primeira e bruxo militante, mostrou-me certa vez uma adaga em uma bainha de prata ricamente trabalhada com uma inscrição em árabe que ele traduziu. A frase alertava ao portador da arma que seria sábio quem não a desembainhasse, mas aquele que o fizesse não usando a arma seria um covarde.
A delicada conjuntura em que nos encontramos está cheia de blefes, o que torna difícil a análise. A direita ameaça com o impedimento da presidente, um ex-presidente ameaça colocar o “exercito” de outros para defender o seu governo, outro ex-presidente tece pendores democráticos e de respeito a legalidade enquanto seu partido conspira na direção oposta.
Como sempre, para superar a borbulha enganosa da aparência, é necessário descer às determinações de classe e aos interesses em jogo.
[TRÊS BLEFES]
O equilíbrio do governo de pacto social sempre foi difícil uma vez que supõe poder conciliar o que é inconciliável, isto é, os interesses de classe opostos de trabalhadores e burgueses. A engenharia possível pressupõe uma certa estabilidade econômica e uma governabilidade negociada por meio de cargos no governo, favorecimentos eleitorais e emendas ao orçamento para responder aos lobbies por trás (pela frente e por todos os lados) dos digníssimos parlamentares eleitos e se completa com a ação de governo que garante as condições para a acumulação de capitais em proporções adequadas. Enquanto isso acena aos trabalhadores com a miragem da inserção na sociedade de mercado via garantia dos níveis de emprego e salário, acesso ao crédito e programas compensatórios de combate às manifestações mais agudas da miséria absoluta.
O mais importante é que funciona enquanto a burguesia deseje que funcione.
Por um tempo funcionou e reconduziu os governos petistas em três mandatos consecutivos. O quarto mandato chegou de raspão com o país dividido praticamente ao meio. Um congresso nacional ainda mais conservador, uma oposição fortalecida e um PMDB como fiel da balança e representando a condição, mais que nunca, para a governabilidade.
Uma receita para a instabilidade, toda a negociação anterior e durante a campanha eleitoral se torna insuficiente. O PMDB exige mais espaço (Lula se apressa em afirmar que concorda com o pleito), mas também mais protagonismo e mais independência. Ganha a presidência da Câmara com Cunha e endurece a negociação sobre a composição do governo e o orçamento abrindo margem para chantagear a presidência.
Aqui o primeiro blefe. O PMDB tem a vice presidência e vários ministérios chaves. Controla um quinhão invejável no segundo e terceiro escalões, governos de estado que por sua vez dependem de projetos e verbas federais, assim como de favores eleitorais dos mais diversos. Tem pouca chances de um vôo solo como alternativa e suas chances estão ligadas ao sucesso do governo que enfraquece para negociar melhor.
O PSDB, histrionicamente bradando contra o governo com o cacife de uma oposição que garfou mais de 48% dos votos no último pleito, também se encontra em posição problemática. Não pode atacar o governo pelas medidas impopulares assumidas, pois as defendeu abertamente na campanha. Da mesma forma tampouco pode se dar ao luxo de se contrapor à linha geral da condução da economia e do Estado, pois no essencial respeita os compromissos macro econômicos, a premissa sacrossanta do superávit primário, a lógica privatista e mercantilizadora da vida…
Escolheu a centralidade dos escândalos e da corrupção, mas convenhamos, é um terreno em que o PSDB não tem só o telhado de vidro, mas uma casa todinha de vidro. Basta lembrar a forma como foi feita a privatização das tele-comunicações sob a batuta do falecido Serjão, a entrega da Vale do Rio Doce, as contas não tão secretas em paraísos fiscais, para não falar do metrô de São Paulo e outras aventuras conhecidas.
Eis o segundo blefe. Alardeia-se o combate à corrupção, torcendo para que a apuração rigorosa e profunda, “doa a quem doer”, não chegue muito perto da mão que acusa, como o caso do HSBC parece indicar. Se o caos interromper o mandato da presidente e gerar dividendos eleitorais ao PSDB, ótimo para eles, mas não se pode fritar muito de modo que a fumaça não sufoque a todos na cozinha do Estado burguês. Qualquer alternativa de governo do PSDB passa pela negociação com o PMDB, daí o dilema: como queimar a gordura do PT sem tostar o bife do PMDB?
Por isso o escudeiro do caos, Aloysio Nunes e outros asseclas, vão às ruas pelo “sangue” de Dilma Rousseff, enquanto FHC e Aécio Neves, pedem um pouco mais de calma. Afinal, somos todos civilizados, não é?
[A APOSTA PETISTA]
O governo, um tanto quanto desorientado, pois julgava que bastava a mera repetição do mesmo procedimento anteriormente exercitado e uma base sólida no Congresso para escapar do pior da crise, tateia erraticamente. Antes das eleições sua prioridade era recompor uma base e compensar as defecções, como as PSB e PTB, mas, prioritariamente mostrar-se confiável aos financiadores de campanha: as empreiteiras, os bancos, os industriais, o agronegócio, em suma, os donos do governo. As alianças, o programa e o perfil da campanha não deixaram margem à dúvida desta prioridade.
No entanto, a polarização da campanha contra o PSDB (Marina foi um episódio inflado que não se manteve) obrigou os petistas a desenterrar o discurso da luta entre ricos e pobres, do fantasma do passado e, na reta final, produzir um factóide diversionista segundo o qual trata-se de um embate de projetos que contrapunha de um lado uma direta privatista, que atacaria os direitos dos trabalhadores e reverteria as “conquistas” alcançadas, e de outro uma proposta progressista que enfrentaria a crise com crescimento (o que implicava, por sua vez, a manutenção da generosa ajuda aos capitalistas) e não realizasse ataques aos direitos dos trabalhadores.
Vejam que o governo agiu com uma certa sinceridade. Precisava atrair os setores sociais (por isso o discurso), mas não podia romper com suas alianças e com as exigências de seus patrões (por isso a manutenção do rumo geral conservador). Não é esse o blefe do governo. É que tem gente que quer tanto uma coisa que a projeta na realidade como se realidade fosse…
O problema é que passada as eleições, os setores sociais e movimentos populares que generosamente se dispuseram a votar na candidata “mais progressista” para evitar a direita, se viram diante do constrangimento de um governo que moveu-se rapidamente para implementar tudo aquilo que a direita perversa propôs. Os movimentos sociais e populares já tinham cumprido sua função, agora era o momento da incrível arte do pragmatismo político no qual o governo do PT tinha que gerar as condições para manter-se no governo até o final e, quem sabe, um próximo mandato.
Nesta direção era necessário recompor a base, acertar a vida com o Congresso e tomar as medidas amargas contra os trabalhadores para garantir a continuidade da política de superávits primários e a sangria de recursos do fundo público para o capital financeiro.
Evidente que isso gerou um descontentamento muito grande, mas aqui fico na incômoda posição de defender a presidente Dilma. Ela falou que ia fazer isso, era evidente que faria. Os setores sociais que apostaram, com razões louváveis e algumas até justificadas, nesta opção estão descontentes com a imagem que criaram e não com o real efetivo. Acontece com torcidas de futebol, com relacionamentos amorosos… acontece também com projetos políticos. Já cantava Chico com as palavras de Ruy Guerra:
“Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto”.
…e até o Chico acreditou!
Certos movimentos sociais, setores populares e segmentos de esquerda literalmente não negociaram nada. Daí o qualificativo “generosamente” ao tratar do apoio oferecido. O Governo não se comprometeu formalmente com nenhum dos pontos que constituem a fantasia imaginada de uma inflexão à esquerda.
Pelo contrario, deu o tempo inteiro mostras que não alteraria o rumo da política que enterrou a reforma agrária em benefício do agronegócio, os direitos trabalhistas em nome das condições favoráveis ao crescimento da economia capitalista, a privatização contra as políticas públicas, o acordo com os fundamentalistas religiosos descartando a luta contra a homofobia e outras pautas, a conivência com velhas formas políticas contra uma verdadeira mudança das regras do fazer política na direção dos interesses populares.
[A VELHA DIREITA]
Aqui é que começa o problema. Apesar de ter cedido em tudo… tudo mesmo, ao que a ordem burguesa exigiu, o governo de pacto social do PT continua ameaçado. Ocorre é que a metáfora da adaga aqui se torna limitada. Não estamos diante de um instrumento nas mãos de um sujeito, mas de uma dinâmica política que uma vez desencadeada ganha certa autonomia. Os sujeitos políticos são compósitos, formados por fragmentos, facções segmentos que reproduzem em ponto menor o dilema da sociabilidade burguesa: a contradição entre interesses individuais particulares e interesse geral.
Nenhum ator particular que desembainhou a adaga parece de fato querer o impeachment, mas parece que a adaga quer. Em tempos de fetichismo absoluto, um fenômeno desses não devia nos espantar. É verdade que a burguesia monopolista em suas diferentes facções (industrial, bancária, agrária, comercial, etc.) nunca ganhou tanto e prescreveu o remédio que seus funcionários no governo estão zelosamente administrando. Precisa de estabilidade institucional, teme reviravoltas que possam colocar em risco, real ou potencial, a ordem. Mas adorariam encerrar este ciclo de governos petistas. E se houver possibilidade, porque não?
O mesmo pode ser dito do imperialismo. Alguns governistas afoitos e seu exercito de dedos nervosos nas redes sociais, desenterraram o imperialismo como o sujeito oculto da desestabilização. Ora o imperialismo sempre pensa em cenários e a desestabilização nunca ficou fora da pauta.
A pergunta é: como se pensou nestes doze anos enfrentar esta evidência? Armando o povo, preparando as forças armadas e buscando aliados, como na Venezuela? Ou se mostrando confiável e evitando se apresentar como responsável, como nos governos Lula e Dilma, e fazendo um acordo militar com os EUA, mobilizando e dirigindo tropas de intervenção no Haiti?
Impedimentos e interrupções institucionais não são utilizados apenas contra governos de “esquerda” ou de um reformismo potencialmente perigoso à ordem capitalista (duas coisas que o governo do PT não representa nem remotamente) mas também contra governos que já cumpriram sua função e passaram a se tornar incômodos. É o que aconteceu quando surgiu a necessidade de interromper o Estado Novo getulista ou a autocracia burguesa no final dos anos 1970.
A grande burguesia e o imperialismo lucraram com o ciclo petista, mas não lutarão para defendê-lo se ele ameaçar ir para o ralo. A burguesia não é fiel, nem monogâmica. Nunca foi. Não será agora que irá mudar sua natureza.
A expressão política da burguesia tem, no entanto, outros problemas. A ocupação do espaço político central pelo PT lhe rouba sua essencialíssima função na vida. Ela precisa encontrar um meio de se livrar do PT porque este ocupa o lugar que por coerência seria o seu, por isso quer aproveitar toda chance possível. Sua responsabilidade com os interesses de classe da grande burguesia monopolista faz com que ela hesite, assim como o medo de, no chumbo trocado das acusações, colocar em risco a ordem instituída. Mas ela tem a obrigação de tentar, porque disso depende sua sobrevivência.
[A EXTREMA DIREITA]
Isso é diferente quando se trata da extrema direita. Ela é o cachorro louco da burguesia. É incômoda e caricatural, mas útil. Não pede licença para pôr fogo no circo. Em épocas normais a burguesia a mantém presa na jaula do Estado de Direito, mas a crise é seu habitat natural. Isolada ela é só pitoresca, como nas marchas que andou ensaiando pelo país. Mas, num certo caldo de cultura, se alimenta do irracionalismo e do conservadorismo, cresce e pode se tornar uma ameaça, mesmo um incômodo para seus donos.
A extrema direita foi às ruas e ganhou dimensão massiva nos últimos protestos pelo impeachment. A extrema direita quer o impedimento da presidente, se possível seu fuzilamento e a exumação do corpo de Marx para ser fuzilado também. Parece que descobriram o motivo do desmonte da educação no Brasil, é um perigoso terrorista de barbas longas (sem turbante) chamado Paulo Freire.
[O BLEFE PETISTA]
Diante deste cenário intricado o PT mantém-se fiel à sua ação aparentemente errática. Faz todos os esforços para garantir a credibilidade diante do grande capital e de seus aliados de direita, que constituem a base operacional de seu governo; ao mesmo tempo em que precisa mobilizar suas “bases sociais” (de fato eleitorais) para não virar presa fácil contra aqueles que querem sua queda.
Neste ponto a coisa fica ridícula. O governo impõe as chamadas medidas de austeridade e ataca diretamente os direitos dos trabalhadores. O principal partido do governo (talvez o segundo na linha hierárquica depois do PMDB) – o PT – aprova por maioria as medidas de austeridade propostas, e o ex-presidente Lula conclama que elas são necessárias e não atacam os direitos dos trabalhadores. Ao mesmo tempo conclama suas “bases sociais” (na verdade, em parte aparelhos burocráticos que um dia foram organizações independentes da classe trabalhadora) para atos em defesa do governo, mas contra as medidas de austeridade… do mesmo governo… que implementa as medidas… Estão acompanhando?
Ora, aqui também não se deve culpar o PT. Ele não pode fazer outra coisa. Os setores que, com razões honestas, queriam uma guinada à esquerda estão trabalhando com o desejo, não com a realidade. Este seria o caminho mais rápido para o impeachment. O governo jamais fará isso. Todos sabem. Desde os que sinceramente gostariam que o governo fosse mais à esquerda, até os governistas mais renitentes que acham que tudo está certo e não há nada a ser corrigido.
Este é o blefe.
Mobilizam as massas, mas para apassivá-las. As mobiliza para usá-las como instrumento em seu jogo e não como força própria em busca de seus próprios interesses de classe. É para ameaçar seus aliados e adversários. Desembainha uma adaga que não pretende usar.
A direita chama um ato pelo impeachment. Lógico que a extrema direita se anima. Mas as lideranças estão preocupadas, seus nomes andam sendo divulgados pelas listas dos envolvidos nos atos de corrupção. FHC pede calma, não é hora de impeachment. Michel Temer sorri ao lado dos presidentes do Senado e da Câmara (os dois na lista) na arte de fazer de conta que ele não tem nada a ver com isso.
Na mais alta temperatura do acirramento, escuto a notícia que Dilma propôs um pacto… com o PSDB… que não aceitou… mas, está pensando. Depois do domingo amarelo… duvido.
No meio disso uma população tentando entender o que está acontecendo. De um lado, um cara com uma adaga bradando – “vou te meter um impeachment no bucho!” – (lógico, com muita calma para não prejudicar os negócios), de outro um senhor que pregava a paz e o amor e que adora dizer que banqueiros nunca ganharam tanto em seu governo ameaçando chamar as massas para uma rebelião (lógico, desde que não atrapalhe o bom relacionamento da ministra do agronegócio com a presidente e as medidas de austeridade, que na verdade são necessárias… não é?).
De um lado os governistas chamam um ato contra as medidas de austeridade que atacam os trabalhadores e em defesa do governo que as aplica, de outro a direita que quer derrubar o governo “esquerdista”, mas aprova as medidas.
E vocês querem que os trabalhadores entendam isso? Lá na consciência imediata da classe trabalhadora uma faxineira explica ao repórter de um jornal paulista porque aderiu as vaias contra a presidente diante de seu pronunciamento (no qual disse que era preciso coragem para aplicar as medidas contra os trabalhadores propostas por seu ministro Levy) e diz:
“Querem saber o motivo da vaia? É simples: estou cansada de trabalhar e não ter nada”.
Outro trabalhador é ainda mais direto:
“Ela mexeu nos direitos do trabalhador. Falou a campanha inteira que não ia e fez”.
(“Após manifestação de ‘peões’, empresária defende petista“, Folha de S. Paulo, 11/03/2015, por Juliana Sayuri e Daniela Lima)
[A PERGUNTA QUE NÃO SE CALA]
Que a direita e a extrema direita se comportem como tal é compreensível e esperado. A pergunta que precisa ser respondida é por que ela ganha apoio de amplos setores de massa. A resposta cômoda para o governismo defensor do pacto social é simplista, trata-se de quem votou e quem não votou na Dilma. Típico de quem abandonou o referencial de classe para pensar em eleitores. Trata-se perigosamente de um momento onde os anseios e inquietações de setores dos trabalhadores estão sendo capturados pelo ideário conservador e de direita.
E que ideário é esse? A rede Globo em mais uma demonstração de miséria jornalística tenta enquadrar a realidade no molde de seu jornalismo de desinformação, transformando o circo de horrores da direita na rua no dia 15 em uma “festa da democracia” e perguntando aos inquietos e perdidos ministros Rosseto e Cardoso como o governo responderia às “demandas da ruas”, a “voz das ruas”, o “grito das ruas”. Apesar da emissora (que recebeu auxílio governo petista para não quebrar) tentar reapresentar o samba de uma nota só da corrupção, as “ruas” gritavam coisas como: “pela intervenção militar”, “morte aos comunistas”, “em defesa do feminicídio”, “pela maioridade penal”, “contra as doutrinações marxistas nas escolas”. Algumas demandas, para facilitar o entendimento, escritas em inglês e francês.
Vejam, com todos os problemas das Jornadas de 2013 podíamos ver ali como central um conjunto de demandas como a defesa do transporte público, contra os gastos com os eventos esportivos, contra a violência da política militar, a denúncia dos limites desta pobre democracia representativa. Ainda que houvesse por um tempo, a tentativa de contrabando das bandeiras direitistas elas foram sendo isoladas das manifestações. Agora elas dão o tom e organizam grandes manifestações em defesa da barbárie.
Interessante notar que as Jornadas de 2013 forma violentamente reprimidas e o senhor Cardoso, Ministro da (in)Justiça, se apressou a cercar de garantias legais a ilegalidade da repressão e criminalização dos movimentos. Já no festival da extrema direita anti-comunista a policia militar tirava fotos e selfies com os animados participantes vestidos com a camisa da CBF, enquanto à noite o Ministro dizia que precisamos respeitar as manifestações porque são democráticas.
15 03 17 Mauro Iasi Selfie Choque[Oficial da tropa de choque tira foto com família verde a amarela. A imagem foi capturada pelas lentes da TV Trip na cobertura que fez da manifestação em São Paulo]
Meu barbeiro, filho de operário eletricitário, que se animou com a campanha das diretas porque queria votar para presidente, diz que este governo precisa acabar porque senão vai implementar aqui um regime parecido com o da Venezuela e sugere duas alternativas: entregar o Brasil para ser administrado pelos EUA ou devolver aos índios (eu sugeri que ele insistisse na segunda alternativa).
O mais surpreendente, no entanto, foi sua conclusão diante das minhas ponderações. Com o olhar sério e aquela autoridade que só possui quem segura uma navalha afiada em sua garganta, ele concluiu: “Sabe, eu acho que ninguém quer o impeachment, o que eles querem é deixar este governa sangrar por quatro anos para depois derrotá-lo de uma vez por todas nas próximas eleições”.
Sabe do que mais, acho que meu barbeiro está certo. Feito isso, pegou a navalha e aparou o que restava de cabelo na minha nuca, limpando a espuma em um pano. Lá na rua ainda se ouvem os gritos de combatentes segurando suas adagas cegas que não pretendem usar… “olha que eu te furo”… “não se eu te furar primeiro”… enquanto se prepara o acordo.
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Mauro Iasi é professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, pesquisador do NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas), do NEP 13 de Maio e membro do Comitê Central do PCB. É autor do livro O dilema de Hamlet: o ser e o não ser da consciência (Boitempo, 2002) e colabora com os livros Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil e György Lukács e a emancipação humana (Boitempo, 2013), organizado por Marcos Del Roio. Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às quartas. (Com a Boitempo)
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