Instantes finais


                                                                      

Henrique Carneiro (*) 


Após meses, o impeachment vai chegar ao fim. Dilma, em seu discurso, rebateu do ponto de vista jurídico a ausência completa de legitimidade nas acusações das pedaladas fiscais.

Porém, ao afirmar que não se acumpliciou com o pior da política no Brasil, não disse a verdade. São seus próprios ex-aliados que agora vão votar pelo fim do seu mandato, entre os quais vários ex-ministros.

Ela se aliou, sim, com o pior da política no Brasil, de Maluf a Collor, dos partidos fisiológicos aos fundamentalistas evangélicos e, sobretudo, com o PMDB, seu parceiro de longa data.

Por que ela não pode fazer uma autocrítica destas alianças? Porque tais alianças continuam!

Mesmo com o impeachment, o PT continua aliado com os partidos golpistas! Dilma não enriqueceu pessoalmente, o que de fato a distingue da venalidade explícita da maior parte dos que a condenam.

Mas não deixou de manter suas alianças com o pior da política brasileira, com os corruptos mais descarados, com os oligarcas mais antigos, com o sistema político ao qual se adaptou.

O mais triste é que o papel maior do PT foi o de neutralizar a mobilização popular, de reduzir o movimento social a uma mera base eleitoral.

Aliado à burguesia e seus representantes, cumpriu tão bem seu papel de rebaixar as expectativas, de promover o lucro dos setores mais predatórios do agronegócio, da mineração e do capital financeiro, de forjar uma legislação repressiva, que agora, quando perdeu sua utilidade como parceiro do grande capital, quase não há mobilização em sua defesa.

O governo caiu num golpe palaciano, urdido pelos seus próprios aliados e, apesar disso, continua a manter nas eleições municipais alianças com esses mesmos partidos fisiológicos e traiçoeiros, haja vista a aliança de Haddad em São Paulo com o PR de Magno Malta e Tiririca.

Não há como defender o PT que se mantém nas mesmas estratégias, fisiológica e conciliatória, que o levaram ao colapso.

A esperança agora é que o Fora Temer cresça e nas próximas eleições o voto no PSOL, no PSTU e no PCB indique a superação das ilusões no PT.

(*) Henrique Carneiro é ativista e professor da USP.

(Com o Correio da Cidadania)

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