OUTUBRO DE 1917: A REVOLUÇÃO QUE MUDOU O MUNDO


Em princípios do ano de 1917, na Rússia depauperada pela participação na Grande Guerra, crescia o ódio popular contra as classes dominantes. O Partido Bolchevique, declarado ilegal pelo Czar, era o único a se posicionar abertamente contra a guerra de rapina promovida pelas potências imperialistas. Com palavras de ordem acessíveis ao povo, um programa político radical e preciso, denúncias firmes contra a guerra odiosa e a exploração burguesa, os bolcheviques atraíam cada vez mais a classe operária e o campesinato para a luta organizada. O vulcão da revolução estava prestes a explodir.

O descontentamento generalizado das massas seria responsável pela eclosão de mais de 1.300 greves no mês de fevereiro, nas quais tomaram parte cerca de 670 mil trabalhadores. Em 23 de fevereiro (8 de março no calendário atual), o Dia da Mulher Trabalhadora transformou-se numa grande jornada de protestos. As greves e manifestações evoluíram para uma revolta armada em 26 de fevereiro. Em todo o país, Sovietes de Deputados dos Operários e Soldados assumiam o poder. Em Petrogrado, o Soviete era dirigido pelos mencheviques e socialistas revolucionários (SRs), grupos reformistas vacilantes, pois os bolcheviques se concentraram nas tarefas da luta revolucionária e muitos de seus dirigentes estavam presos ou exilados.

Em 27 de fevereiro, a autocracia era derrubada: um grupo de deputados da Duma instalou um Comitê Provisório, que não quis assumir o poder nem romper com a monarquia. A fúria da massa contra estas vacilações obrigou a que, em 2 de março, fosse instalado o Governo Provisório. Este, entretanto, era liderado por um membro da aristocracia russa, o príncipe Lvov, e basicamente formado por representantes da burguesia e dos latifundiários. Estava concluída apenas a primeira etapa do processo revolucionário.

Em 03 de abril (16 de abril no calendário ocidental), à meia noite, um trem blindado repleto de revolucionários bolcheviques que havia partido da Suíça, onde estavam exilados, e atravessado o território alemão, chegou em Petrogrado, na Estação Finlândia. Uma massa de operários e soldados aguardava pela chegada de Lenin, que discursou defendendo ser necessário avançar para a segunda etapa da revolução, quando então o poder teria de ser tomado pelos proletários e pelas camadas mais pobres do campesinato.

No dia seguinte, Lenin reuniu-se com os bolcheviques que eram delegados à Conferência do Soviete de Deputados Operários e Soldados de Toda a Rússia, apresentando-lhes suas propostas, que ficaram conhecidas como as Teses de Abril. Lenin fazia uma análise da conjuntura e definia os objetivos da revolução, através de dez pontos que criticavam a fase burguesa da revolução, negando apoio ao governo provisório e propondo a ruptura socialista, sob o lema “Todo o Poder aos Sovietes!”. 

Nelas incluíam-se bandeiras de luta como a supressão da polícia, do exército e da burocracia estatal a serviço do capital, o confisco das grandes propriedades rurais, a nacionalização da terra, a criação de um banco nacional único, o controle da produção social e da distribuição dos produtos pelos Sovietes.

Nos meses seguintes, o povo continuou mobilizado. Os trabalhadores não se sentiam representados no governo, e novas greves explodiram, acompanhadas de ocupações de fábricas e organização de comitês de autogestão das mesmas. Muitos camponeses passaram a se apropriar das terras desocupadas, apoderando-se também do material agrícola e do gado arrendado. Eram formados comitês nas aldeias, que reavaliavam as taxas de aluguéis, definiam o uso das pastagens, etc. Os grandes proprietários reagiam, exigindo do governo medidas contra a “anarquia” e interrompendo as semeaduras, uma espécie de locaute rural. Alastrava-se pela Rússia a palavra de ordem “Todo Poder aos Sovietes!”.

Lideradas pelos bolcheviques, em junho e no início de julho, centenas de milhares de pessoas foram às ruas, partindo para o enfrentamento aberto contra o Governo Provisório. Apesar do caráter pacífico das manifestações, o governo da burguesia agiu com violenta repressão, fechou os jornais bolcheviques, destruiu a gráfica Trud (Trabalho) e ordenou a prisão das lideranças revolucionárias. O Governo Provisório nomeou o General Kornilov seu comandante em chefe, e coube a Kerenski (um socialista muito moderado), na condição de primeiro ministro, organizar o novo governo, em que os cadetes (representantes da burguesia) se sentiam vitoriosos.

Com sua prisão decretada, Lenin se viu forçado a partir para a clandestinidade. Classificando esta fase como o fim da evolução pacífica da revolução, orientou o Partido a priorizar o trabalho de conquista da hegemonia no interior dos Sovietes, dominado pelos traidores, ao mesmo tempo em que se deviam adotar novas formas de luta, prevendo que os combates armados seriam inevitáveis: “Ou a vitória da ditadura militar ou a vitória do movimento operário armado”.

Em torno do general Kornilov passaram a se reunir as forças mais reacionárias, que desejavam dispor de pleno poderes no exército e impor uma ditadura militar no país em agosto. Mas uma greve de protesto que mobilizou 400 mil operários frustrou os planos do golpe. Os bolcheviques foram os grandes responsáveis pela derrota de Kornilov: o Partido foi prontamente atendido no seu apelo aos operários e soldados para que assumissem a defesa da revolução, ao mesmo tempo em que desmascaravam a postura oportunista de Kerenski, que desejava ver os bolcheviques destruídos. Tanto no centro como nas províncias, pelo contrário, os bolcheviques conquistavam posições decisivas no meio do proletariado. Este foi o momento de maior importância na fase de preparação da revolução socialista.

Sob a direção de Lenin, os bolcheviques organizaram em toda a Rússia a preparação metódica da revolução. Em vários pontos do país realizavam-se reuniões e congressos dos Sovietes, que, um após outro, aprovavam a proposta de passagem de todo o poder aos Sovietes, elegendo para suas direções quadros bolcheviques. Nas unidades militares, fábricas e usinas, realizavam-se comícios gigantescos. Mesmo com as ordens do Governo para prisão dos bolcheviques, confinamento e julgamento dos membros do Comitê Militar Revolucionário, além do desmonte das pontes de comunicação dos bairros proletários com o Soviete de Petrogrado, na noite de 24 de outubro, Lenin chegava ao Instituto Smolni, onde se instalara o Estado Maior da insurreição.
      
Na madrugada, tropas do Comitê Militar Revolucionário ocupavam estações de trem, as pontes do Rio Neva, o Banco do Governo, as emissoras de rádio e as redações dos jornais centrais. O cruzador Aurora apontava seus canhões para o Palácio de Inverno, sede do Governo Provisório. Na manhã de 25 de outubro (07 de novembro em nosso calendário), o Comitê Militar do Soviete de Petrogrado divulgava mensagem escrita por Lenin aos cidadãos da Rússia em que se anunciava a passagem do poder aos Sovietes. À tarde foi aberta a histórica Reunião Extraordinária do Soviete, na qual Lenin discursou, saudando a vitória da Revolução Socialista. À noite, as unidades revolucionárias tomaram de assalto o Palácio de Inverno, último baluarte do governo burguês.

No poder, os bolcheviques mantiveram as unidades do Exército Vermelho ligadas à classe operária e aos camponeses, democratizaram a justiça, transformaram a polícia em instrumento de defesa diária da segurança da população, implantaram a eleição e o mandato revogável dos funcionários públicos, garantiram a participação dos sindicatos e dos sovietes na criação de organismos econômicos, na elaboração dos planos de produção e na gestão industrial, suprimiram as desigualdades sociais e socializaram os meios de produção, colocando-os a serviço dos interesses e necessidades da maioria. 

Houve ainda um esforço gigantesco para superação de condições seculares de atraso impostas pelos regimes anteriores. Os comunistas foram responsáveis pela realização de uma verdadeira revolução cultural, com a extinção do analfabetismo e a construção da educação pública universal em todos os níveis, iniciativas associadas às medidas voltadas à formação de uma nova e superior estrutura social.

A Revolução Bolchevique mudou o mundo. Foi o mais importante evento histórico do século XX, uma experiência ímpar de democracia popular radical. Mesmo que, posteriormente, esta experiência tenha sofrido revezes em decorrência de inúmeros fatores, há que se destacar sempre que a vitória da Revolução de Outubro de 1917 deu início a um processo de mudanças econômicas e sociais profundas que serviram de exemplo para os trabalhadores e as trabalhadoras em todo o mundo, estimulando, até hoje, as lutas anticapitalistas e a mobilização dos povos por sua libertação no rumo do poder popular e do socialismo.

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