Rede Minas cria primeira comissão editorial composta por trabalhadores eleitos por seus pares, diz Sindicato dos Jornalistas
Quase 30 anos após ter sido prevista na Constituição Mineira, a Rede Minas – emissora pública, cultural e educativa – instalou oficialmente a primeira Comissão Editorial interna de sua história – e da história da comunicação pública do Brasil.
De acordo com a Portaria 9 publicada no Diário Oficial de 13 de abril de 2018, a Comissão Editorial é um grupo colegiado composto por servidores em exercício na entidade, responsável pela análise crítica da programação da emissora e pela elaboração de diretrizes editoriais para seu conteúdo. Ela tratará da programação cultural, artística e educativa da Rede Minas e do seu conteúdo jornalístico.
São sete integrantes, com mandato de dois anos. Quatro deles serão eleitos por seus pares, representando as diretorias de Jornalismo, Produção e Técnica e um representante do corpo de servidores em geral sem ligação com uma diretoria específica. Os outros três serão indicados pela Presidência e diretores de Jornalismo e Programação, respectivamente. Cada integrante terá um suplente.
O desafio da Comissão Editorial não é pequeno: além de elaborar análises e pareceres sobre entrada e saída de programas da grade da emissora, faz parte das suas atribuições a criação de um manual de jornalismo que inclua normas técnicas, diretrizes para coberturas específicas, como tragédias, crises, crimes de interesse público, e orientações estéticas, de linguagem e estilística para os conteúdos audiovisuais.
Casos mais complexos devem ser levados pela Comissão Editorial ao Conselho Curador da emissora, outro instrumento importante de representação da sociedade civil.
Conquista da mobilização
“Este é um sonho de muitos anos de luta, que coroa uma caminhada iniciada há três anos, com a fundação da Asprem – Associação dos Servidores Públicos da Rede Minas”, destaca Simone Pio, conselheira representante dos trabalhadores no Conselho Curador da Rede Minas, e uma das idealizadoras da Comissão Editorial.
“É um passo que nos aproxima de aspirações maiores: autonomia editorial, gestão participativa e reconhecimento dos servidores como os pilares que sustentam a emissora nos momentos de mudanças e crises”, pondera a conselheira.
A editora de texto e diretora do Sindicato, Brenda Marques Pena, ressalta que a criação da comissão é mais uma conquista da mobilização dos trabalhadores. “Esta Comissão Editorial nos dará respaldo e oportunidade de nos posicionarmos de forma clara e sem receio de retaliações. Juntos somos mais fortes”, comemora.
A partir do momento em que forem eleitos, os integrantes da Comissão Editorial vão definir a periodicidade das reuniões, que devem ser rápidas. Assim, devem contribuir para tornar o conteúdo produzido pelas equipes dos programas cada vez mais próximo das expectativas de seu universo de telespectadores.
“Em televisão, decisões são tomadas a todo momento, desde as fontes (pessoas) a serem entrevistadas até os pontos de corte nas ilhas de edição”, esclarece o editor de imagens e diretor da Asprem, Johanes Junqueira. Ele lembra que o diálogo com a atual gestão foi importante para tornar a comissão uma realidade.
“Sabemos que a instituição da Comissão Editorial é uma prerrogativa da direção, por isso o trabalho de construção conjunta foi fundamental.”
Democracia e transparência
A formação da Comissão Editorial acrescenta uma nova dimensão às quatro preconizadas pela comunicação pública, e descritas pelo professor Eugênio Bucci: forma de gestão, finalidade não comercial, universalidade de acesso e compromisso com valores democráticos e de direitos humanos.
“Com essa instância deliberativa formada por servidores, não só o regime e o conteúdo, mas os processos internos começam a ser gestados de uma maneira democrática e transparente. Uma tevê pública tem que ser pública também do lado de dentro”, destaca o produtor audiovisual Matheus Rufino.
A jornalista e gestora de redes Romina Farcae ressalta um ponto que merece destaque na portaria que criou a comissão: a recomendação de que o manual de jornalismo a ser elaborado seja de acesso público e amplamente divulgado para outras emissoras.
“A maioria das mais de 50 tevês afiliadas e parceiras não tem os recursos dos quais dispomos e este pode ser um exemplo a ser seguido, empoderando os trabalhadores de outras fundações públicas e fomentando a participação de toda a sociedade, que em última análise, também representamos.” E acrescenta: “Ou a TV pública tem compromissos expressos com tudo isso ou ninguém precisa dela.”
A idéia é de que o trabalho da Comissão possa ser acompanhado por todos, e receber a colaboração dos outros servidores e de toda a sociedade, por meio de dispositivos eletrônicos a serem criados especialmente para aprofundar e dar conhecimento as questões debatidas.
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