Os desencontros do G20
Países divergem no comércio, no clima e na política de segurança, e ainda não se sabe se a cúpula vai conseguir sequer chegar a uma declaração conjunta. Conversas bilaterais também não avançam em Buenos Aires.
Antes de a cúpula do G20, grupo que reúne os 19 países industrializados e emergentes mais importantes do planeta mais a União Europeia, iniciar a sua primeira sessão de trabalho, nesta sexta-feira (30/11) em Buenos Aires, os líderes tiveram a oportunidade de bater um papo - ou falar seriamente sobre conflitos mundiais - numa relaxada mesa de café.
Câmeras e microfones não foram permitidos. No entanto, um porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, disse que seu chefe iria aproveitar a oportunidade para trocar algumas palavras com o presidente americano – embora Donald Trump tenha cancelado uma esperada reunião com o chefe do Kremlin, ainda antes de sua partida para Buenos Aires nesta quinta-feira. O motivo seria a agressão russa contra a Ucrânia no Mar de Azov.
Ao menos oficialmente, os presidentes falariam na reunião sobre a ameaça de Trump de sair do acordo de controle de armas INF, que proíbe que mísseis nucleares de médio alcance sejam equipados com ogivas nucleares. Trump acusa a Rússia de violar o acordo, o que Putin nega veementemente.
Donald Trump não reservou muito tempo para conversas informais à margem do G20. Ele foi o último a aparecer entre os líderes do grupo. Junto ao presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, ele assinou o novo acordo comercial USMCA (Acordo EUA-México-Canadá), que substituiu o Nafta.
Os líderes da União Europeia (UE) – o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk – também queriam aproveitar a rodada informal no início da cúpula para falar com Trump ou Putin ou, na melhor das hipóteses, com ambos.
Juncker disse antes do início da reunião do G20 que ele "não está feliz, mas satisfeito" que o acordo provisório de comércio com os Estados Unidos ainda esteja em vigor. "Nada mudou desde julho", disse Juncker. Na época, Juncker e Trump concordaram em Washington que, a princípio, não seriam impostas novas tarifas punitivas contra mercadorias importadas da Europa.
Em Buenos Aires, Jean-Claude Juncker destacou mais uma vez a importância do comércio internacional num mundo incerto. "Não há alternativa ao multilateralismo. E o G20 foi criado precisamente como um fórum do multilateralismo."
Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, querem se encontrar para uma reunião formal de comércio no sábado. Trump está ameaçando aumentar em mais 250 bilhões de dólares as tarifas punitivas sobre produtos chineses. A China classificou a ação americana como uma guerra comercial e respondeu com contratarifas.
Antes da cúpula do G20, Trump deixou em aberto como vai atuar: "Eu realmente gosto da situação como está, porque arrecadamos bilhões de dólares em taxas alfandegárias, e o dinheiro vai para os EUA".
O presidente dos EUA não mencionou o fato de essas taxas serem pagas pelos consumidores finais americanos e de que somente uma parte delas é assumida pelos fabricantes chineses.
Nos bastidores da cúpula na capital argentina, os negociadores-chefes dos governantes, os chamados "sherpas", continuam trabalhando no texto da declaração final. Até agora, apesar de dezenas de reuniões preparatórias, não houve consenso sobre questões-chave.
Os EUA bloqueiam uma rejeição à política comercial unilateral e nacionalista, enquanto a UE está tentando se apresentar relativamente coesa em Buenos Aires.
O início do encontro não contou com a participação da chanceler federal alemã, Angela Merkel. Ela se encontrava ainda dentro de um avião comercial espanhol, porque a aeronave oficial do governo alemão teve uma avaria no sistema de comunicação e não pôde seguir viagem rumo a Buenos Aires.
Merkel está sendo esperada para o jantar da cúpula do G20 na noite desta sexta-feira. Não está claro se uma planejada conversa frente a frente com o presidente americano ainda poderá ser realizada.
Apesar de sua ausência, o retrato de Angela Merkel já é visível nas ruas de Buenos Aires. Um desenho da chanceler ilustra uma convocação de protesto contra a cúpula do G20. "Se Merkel vier, eu saio!", lê-se sob o desenho. Durante o dia, vários milhares de manifestantes devem se deslocar pelo centro da cidade, vigiados por até 25 mil policiais.
O comando da operação espera manifestantes violentos. A ministra argentina da Segurança, Patricia Bullrich, quer evitar a todo custo cenas caóticas e batalhas de rua, como vistas na última cúpula do G20 em Hamburgo, e anunciou "tolerância zero" contra baderna e violência.
(Com a DW)
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