Carta aberta a Dilma
Galeria Niemeyer |
TILDEN SANTIAGO
Ex-embaixador do Brasil em Cuba
Presidente Dilma! Niemeyer partiu. Participo dos seus sentimentos. Ex-embaixador do Brasil em Cuba, amigo do arquiteto, tomo a liberdade de escrever-lhe.
Dr. Oscar partiu levando no coração um desejo: ver concluída a nova embaixada em Havana, por meio de seu projeto. Solicito à presidente viabilizar sua execução, em nome dos brasileiros.
A ideia da nova embaixada vem de Sarney presidente, quando retomamos relações com a ilha. Encontrei o primeiro projeto nas gavetas da embaixada. Propus a Niemeyer retomá-lo. Respondeu categórico: "Aquele era de Sarney. O terreno virou restaurante árabe. Volte para Havana e peça a Fidel que nos dê um novo terreno plano e amplo. Agora é para Lula". Tudo partiu de Sarney, que acompanhou nossas iniciativas, bem como Lula e Celso Amorim.
Belo terreno foi doado pelo comandante. José Luiz Pinho, arquiteto de Niemeyer, foi a Cuba duas vezes. Estudou o terreno antes da conclusão do projeto. Lançamos a pedra fundamental em 19 de dezembro de 2004 ao som dos hinos nacionais do Brasil e de Cuba. Presentes: representante de Fidel, autoridades, colegas embaixadores, José Eduardo Dutra, então presidente da Petrobras, Wagner Tiso, Léo Gandelman, minha equipe de brasileiros e cubanos.
Lula e Sarney viram a maquete. Ao deixar a embaixada, entreguei a maquete a Lula no Planalto. Ordenou aos assessores que fosse levada para o Palácio da Alvorada. Antônio Carlos Menezes, nosso amigo comum, e José Leite, então meu assessor, me acompanharam em todas as iniciativas visando à nova embaixada.
Hoje, volto ao Planalto e encontro minha companheira de luta, dos anos 60 e 70, para solicitar esse gesto para com Niemeyer e Fidel. O arquiteto era socialista! Cuba teima em brindar os ideais socialistas! E minha presidente carrega, na alma, sentimentos revolucionários de quem luta pela transformação do planeta e da humanidade. Disponível para informações, aguardo um sinal seu. Reafirmo meu pedido, que goza da simpatia de brasileiras e brasileiros. Certamente, vale a pena concretizar esse projeto de um artista que deu "linguagem brasileira à arquitetura", na expressão feliz de seu colega mineiro Gustavo Penna. De um agnóstico que não se fechou ao Mistério, ao Incognoscível, ao Belo: quem dele se aproximou é testemunha.
Leitores, solicito seu apoio pessoal a essa iniciativa via gabinetepessoal@presidenta.gov.br.
Niemeyer comentava seu projeto com carinho e alegria nos olhos. Em 2006, Martinho e a Vila Isabel celebraram, com acordes redondos, o segundo "gênio da arquitetura do Brasil". No sambódromo, acompanhei sambistas, netos e bisnetos, evocando seus pincel, curvas, espaços, estruturas equilibristas, sua vocação histórica que nos faz remontar a Aleijadinho.
Diplomatas que trabalharam comigo relembram a doação do terreno e o genial projeto. Faltaram recursos! Meu ministro-conselheiro Miguel Torres vê o fruto maduro: "Tudo tem seu tempo e sua hora"! (Publicada no jornal O Tempo em 19/12/2012)
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