Acusado de participação no atentando do Riocentro se nega a falar na Comissão Nacional da Verdade

                                                                                        
Coronel Wilson Machado em depoimento à CNV (Foto: Tânia Rego/ Agência Brasil)

O coronel Wilson Machado, dono do carro em que explodiu uma das bombas no atentado ao Riocentro, em 1981, compareceu nesta quinta-feira, dia 31, à Comissão Nacional da Verdade (CNV), no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, mas negou-se a responder às perguntas alegando “já ter prestado todos os esclarecimentos à Justiça.”

Pela primeira vez, 33 anos após o atentado no Riocentro, em 30 de abril de 1981, o coronel reformado Wilson Machado apareceu em público para falar sobre o caso Riocentro. Machado foi denunciado pelo Ministério Público por homicídio doloso, atentado duplamente qualificado, associação criminosa armada e transporte de explosivos, porém o processo foi declarado prescrito pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região, que, por 2 votos a 1, não reconheceu que era crime contra a humanidade, o que o impediria de prescrever mesmo 33 anos depois.

Em 30 de abril de 1981, durante a realização de um show para comemorar o Dia do Trabalhador, no complexo do Riocentro, uma bomba explodiu no colo do sargento Guilherme do Rosário dentro do carro onde ele estava, no estacionamento do local, matando o militar na hora e deixando gravemente ferido o então capitão Wilson Machado. Na mesma noite, outra bomba foi lançada na subestação de eletricidade do complexo, com o objetivo de cortar a energia.
                                                                   
Veículo que explodiu no Riocentro / O Dia

O objetivo das explosões seria causar pânico no público de quase 20 mil pessoas e na sociedade em geral. O plano dos militares era atribuir o atentado à esquerda, para justificar outro endurecimento da ditadura. Mas, por algum erro dos militares, a explosão ocorreu no carro dos agentes.

O coronel Wilson Machado repetiu a estratégia de outros clientes do advogado Rodrigo Roca, que compareceram à comissão ao longo desta semana, mas mantiveram-se calados.

—Já prestei todos os esclarecimentos à Justiça Militar três vezes e fui julgado pelo Superior Tribunal Militar. Prestei esclarecimento ao Ministério Público duas vezes. Está tudo lá, afirmou o militar aposentado.

Membros da comissão insistiram para que ele respondesse, e afirmaram que não se tratava de um processo judicial ou de um julgamento, mas sim de ouvir a versão dele para registro histórico. Wilson Machado também não respondeu as perguntas da imprensa.

— O Riocentro não foi um atentado feito por alguns lunáticos, foi organizado pelo regime militar em um contexto em que a utilização de atentados à bomba se deu de maneira sistemática no Brasil. Foram mais de 40, e o do Riocentro seria o mais trágico de todos. O esclarecimento de quem deu as ordens é muito importante para a comissão, destacou o Coordenador da CNV, Pedro Dallari. (Com a Associação Brasileira de Imprensa)


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