Presos políticos no Brasil: quem não deve, teme

                                                       

 A advogada e ativista pelos direitos humanos Eloísa Samy, uma das perseguidas pela farsa jurídica que foi montada, refugiou-se no consulado uruguaio, localizado no Rio de Janeiro, para pedir asilo ao país governado por Pepe Mujica.



Carolina Peters (*) 

Aos que passaram as últimas horas sem contato com o mundo virtual, três ativistas cariocas, "foragidos da justiça", encontram-se no consulado uruguaio no Rio de Janeiro, pedindo asilo ao país vizinho

São três entre uns tantos ativistas que tiveram prisão decretada às vésperas da final da copa sob as acusações as mais esdrúxulas, as que incluem associação criminosa e formação de quadrilha entre desconhecidos e a possibilidade de cometer um crime (que agora diz-se tratar do incêndio da Câmara de vereadores do Rio, segundo supostos depoimentos concedidos por supostas testemunhas em supostas gravações de áudio), previsto antes que sequer talvez acontecesse pela habilidosa e clarividente polícia, possivelmente contando com a ajuda dos astrólogos – ou donos? - de jornais de grande circulação, se quiserem meu palpite.

São estudantes, acadêmicos, advogados ativistas que cometeram o gravíssimo delito de exercer seu direito democrático à manifestação. Presos políticos. E os que já levamos enquadro nos atos da vida sabemos bem que ainda que estejamos com material de primeiros socorros na mochila, ou sapato de oncinha nos pés, sair de nossas casas e ocupar democraticamente uma via pública pode nos levar para a DP.

Estamos em uma encalacrada: como abraçar com convicção a campanha #AceitaMujica? Quão desesperador não é admitir para o mundo inteiro através de uma hashtag que, passados 50 anos do golpe civil-militar que privou o povo brasileiro da democracia, tenhamos aprendido tão pouco.

Que tenhamos retrocedido tanto na luta pela ampliação dos direitos sociais e políticos e da participação popular na vida pública do país a ponto de indivíduos creditarem sua segurança a outro país, se privando de continuar suas lutas aqui, pois não há perspectiva de um julgamento justo (visto que já não houve acusação justa), apenas a perspectiva de ser esquecido pelo sistema judiciário como Fábio Hideki, o pacifista, no presídio de Tremembé.

Em qualquer circunstância, não tem nada mais difícil do que se provar inocente. Quem teve um irmão ou irmã arteiro e bom de conversa sabe. Quem já enfrentou um processo qualquer na justiça tendo razão, bom advogado e a lei amparando e perdeu, em várias instâncias, também. Meu pai sempre me disse: quem não deve é que precisa temer. Porque o malfeito produz provas, a inocência não. Por isso é necessário pressupor a inocência do réu, mas parece que esta premissa para alguns bastante lógica não é corrente.

Às vezes, a história parece um oroboro incapaz de digerir qualquer lição na cauda de passado que engole. Em linguagem mais popular, é nosso constante 7 x 1, goleada do autoritarismo sobre o exercício da democracia. Mas diferente da seleção, travamos uma batalha mais altiva, embora a ginga e raça de nosso time leve franca desvantagem diante do robusto aparato repressor. Boa sorte a esses e tantos lutadores, e que sejam acolhidos pelos uruguaios. Sorte, porque com a justiça brasileira está difícil de contar.



(*) Carolina Peters é estudante de Letras e militante do PSOL. (Com o Diário Liberdade)

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