Agassiz Almeida: Que anistia é esta?
Compatibilizar a infinita dor dos mortos desaparecidos com os criminosos de lesa-humanidade.
Com o apoio de entidades defensoras dos direitos humanos, entre as quais o Centro de Direitos Humanos do Ministério Público, Centro de Direitos Humanos de Pernambuco, CUT, Pastoral da Terra, Centro Cultural Manoel Lisboa, realizou-se no dia 29 de novembro o II Encontro do Movimento Memória, Verdade e Justiça do Norte/Nordeste, no Plaza Hotel, Recife, coordenado por Edval Cajá, Roberto Monte e Lenilda Lunar.
Estiveram presentes vultos históricos, por eles ou seus familiares, como Abelardo da Hora, Francisco Julião, Gregório Bezerra, Agassiz Almeida, Clodomir Morais, Fernando Santa Cruz, Paulo Cavalcanti e Dom Helder Câmara.
O objetivo principal do Movimento situou-se em definir os rumos da luta, sem jamais desistir, representado por um documento denominado Carta do Recife, e para cuja elaboração participou, entre outros, Edval Cajá, que assim se expressou: “Todo o nosso esforço e vigilância é despertar o povo brasileiro no sentido de apontar as atrocidades que certos tipos humanos, à sombra do regime militar, praticaram contra a humanidade”.
Interveio nos debates Anacleto Julião, que numa ponderada oração acentuou: “O Movimento Memória, Verdade e Justiça projeta-se acima das individualidades e para tanto agradeço as referências prestadas ao meu pai Francisco Julião; no entanto, solicito que se retire da “Carta do Recife” o nome do meu genitor”.
Com a palavra, o escritor e ex-deputado constituinte Agassiz Almeida: “Onde estavam as gerações de 60 e 70 do século passado que sacudiram a humanidade para novos caminhos? No Vietnam, Argélia, Cuba, Portugal, Brasil e em todas as partes do mundo, nos ideais daqueles que lutaram por liberdades e democracia para os povos”.
“Que significado têm estas palavras, companheiros: Memória, Verdade e Justiça?
Memória, imperativo que os fatos impuseram ontem e que nos cabe transmitir às futuras gerações, destacadamente apontar os crimes monstruosos que ocorreram nos subterrâneos do regime militar.
Verdade, dever da nação de identificar os nomes dos que lutaram contra o regime militar e os daqueles tipos sórdidos que praticaram delitos de lesa-humanidade.
Justiça, palavra que tremula na consciência dos povos e diante da qual os terroristas do Estado e torturadores da ditadura devem ser arrastados às barras dos tribunais.3
Que anistia poderá ocorrer entre a dor infinita dos mortos desaparecidos e covardes assassinos que fogem da verdade?
Que anistia para o criminoso, que amparado à sombra do Estado militar, faz do grito de dor do torturado a sua macabra sinfonia?
Que enorme farsa quer se impor ao povo brasileiro, com esta anistia embasada num corporativismo caolho!”
Este encontro foi concluído com a aprovação por unanimidade da Carta do Recife, documento que irá nortear as ações de todos aqueles que lutam pela revogação da lei da anistia e defendem os direitos humanos.
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