'Despacito' não sai da sua cabeça? Ciência explica o sucesso das músicas-chiclete


                                                                    
Carlos Serrano

BBC Mundo

Pode ser que a canção te agrade. Ou não.
Mas a ciência ajuda a explicar por que Despacito, dos porto-riquenhos Luis Fonsi e Daddy Yankee, parece "grudar" na memória de quem a escuta.

Estudos na área de neurociência e psicologia encontraram certos elementos em comum nas chamadas "músicas-chiclete".

"A música ativa as áreas do cérebro relacionadas com sons e movimentos, mas também as associadas às emoções e recompensas", explica Jessica Grahn, cientista da Universidade do Oeste de Ontario, no Canadá, à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

Especialista em estudos ligados à música, Grahn conta que as canções que geram maior comunicação entre as áreas do cérebro ligadas ao som e às emoções são as que mais agradam.

Mas como fazer essa conexão?

'Guloseimas' para o cérebro

Não há uma fórmula mágica, mas certos elementos funcionam como "guloseimas" para o cérebro.
O primeiro ingrediente é o ritmo. Quando uma canção tem uma batida fácil de seguir, como é o caso de Despacito, ela aumenta a atividade cerebral na zona associada ao movimento, segundo experimentos. Mesmo se a pessoa está totalmente quieta.

Em geral, as canções pop a que estamos expostos têm ritmos familiares, o que até certo ponto é previsível. Essa característica, diz Grahn, funciona como uma espécie de recompensa para o cérebro, pois é agradável que a canção se desenvolva como pensamos que vai ocorrer.

A "mágica", porém, ocorre quando a canção inclui algum elemento que fuja do previsível.

"Trata-se usar a batida, mas fazê-la mais interessante com alguma novidade. Fazer a canção interessante, mas sem tirar muito do que esperamos ouvir", afirma a cientista.

Nahúm García, um produtor de música espanhol, acredita ter encontrado o pequeno detalhe que tornou Despacito algo especial.

"Vocês riem de 'Despacito', mas a maneira como o ritmo quebra antes do refrão é uma genialidade", escreveu ele em sua conta no Twitter.

García se refere ao que acontece após 1m23s de canção, momento em que a melodia para e Fonsi diz pela primeira vez a palavra despacito (algo como "devagarzinho" em espanhol).

É quase imperceptível, mas o fraseado "atravessa" o ritmo durante uma parada da batida.

"A ruptura é radical e faz alusão a intenção sexual da letra (que contém um pedido de ritmo mais lento para o ato), criando uma unidade entre intenção e efeito", disse García em sua página no Facebook.

"O cérebro se dá conta de que houve uma parada incomum, e isso chama a atenção."

Segundo García, esse truque não é muito comum na música pop. Mas... por que esse efeito ocorre apenas na entrada do primeiro refrão?

"Se usado de novo, pode cansar", acredita o espanhol. "Não se pode quebrar o ritmo de uma canção muitas vezes, porque isso resulta em um esforço para o cérebro."

Canção-chiclete

Psicólogos e cientistas chamam canções-chiclete de "vermes de ouvido". O termo foi criado por James Kellaris, compositor e professor de marketing da Universidade de Cincinnati, nos EUA, e cujos estudos têm como tema a influência da música sobre consumidores.

Kellaris argumenta que os "vermes" são normalmente canções repetitivas e pouco complexas seja em ritmo, letra ou ambos.

Mas outra característica é justamente que a canção conte com elementos inesperados, como um compasso irregular ou um padrão de melodia pouco usual.

"Despacito tem elementos de um 'verme'. É animada, simples, repetitiva e tem um ritmo pegajoso", diz Kellaris.

Mas o especialista americano menciona outros elementos que ajudam a explicar o sucesso, como o atraente vídeo ou o nível de exposição que as pessoas tiveram à canção.

O êxito é inegável: Despacito já encabeçou as paradas de sucesso em 45 países e se tornou a primeira canção em espanhol a chegar ao posto de número da revista americana de música Billboard desde 1996, quando Macarena tomou o mundo de assalto.

O vídeo da música já ultrapassou a impressionante marca de 1 bilhão de visualizações no YouTube.

(Com a BBC Brasil/Youtube)

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