Nas voltas que a vida dá, faz tempo que estamos no mesmo lugar
Marcelo Castañeda (*)
Estamos entrando no segundo semestre do ano e nada parece ter acontecido, mesmo com condenação de Lula na Lava Jato, quase saída de Temer, quase entrada de Maia, um arremedo de greve geral e uma Reforma Trabalhista aprovada. A sensação é que estamos no mesmo lugar, girando em torno do próprio rabo, dependentes da representação apodrecida e do modelo de desenvolvimento agro é tudo, é pop, é total.
O grito que ecoa é que todos os políticos são iguais e o desencanto se faz cada vez mais presente mediante os acontecimentos com uma eleição presidencial batendo na porta. A condenação de Lula em primeira instância veio marcar esse momento instável em que o governo golpista de Temer perdeu o rebolado e nem por isso a Reforma Trabalhista deixou de ser aprovada no Senado, mostrando que os interesses é que importam em detrimento do que a sociedade poderia querer ou mesmo do que os atores principais estejam passando.
No fundo, o sistema político está totalmente dissociado da sociedade e é isso que mantém seu funcionamento, seja com Temer claudicante, seja com Maia balbuciante a espera de um mandato-tampão, seja com Lula marcado com uma condenação que pode lhe tirar da disputa em 2018 – no que seria mais uma participação do passado que nos rodeia, diga-se.
Por sua vez, as saídas que a sociedade apresenta parecem bloqueadas. Basta ver os arremedos de greve geral que foram desarticulados sequencialmente como dias nacionais de paralisação, dos quais de dois apenas um ocorreu de fato, no dia 28/04.
Sem mobilização não há como reverter as reformas que o governo Temer procura emplacar. Está aí a Reforma Trabalhista para ficar de exemplo sendo aprovada logo depois da fracassada greve geral de 30/06. Não se sabe se terão tempo de aprovar a Reforma de Previdência, mas isso não deve ser descartado.
Neste momento, a sensação é de que estamos atônitos vendo o bonde da história passar sem a nossa participação em um jogo que se decide nos grandes acordos por cima que devem estar sendo negociados. É cada vez mais disso que depende Temer ficar até o fim de 2018 ou Lula se candidatar no ano que vem.
Enquanto isso, no país em que agro é pop, continuam a morrer gente nos rincões em conflitos de terra, onde a luta se faz a quente, e no Rio de Janeiro, que até bem pouco tempo era o modelo de um Brasil Maior, servidores amargam salários atrasados há três meses e a derrocada parece não ter fim com a explosão da violência.
As saídas talvez não estejam mais ao nosso alcance, e falo da sociedade. Talvez estejamos dependentes de mais um acordo por cima a definir nossos destinos enquanto sociedade-gado, que pasta nas voltas que a vida dá sem sair do mesmo lugar. Neste sentido, estamos refletindo o agro em nossas vidas-pasto.
Penso que é mais que hora de romper com isso e buscar a tal da sustentabilidade, o que só será possível com a participação da sociedade nas decisões, rompendo o círculo vicioso dos acordos por cima. Resta saber de onde partirá a ruptura. Minha aposta é sempre no terreno da sociedade, já que o sistema político dá mostras de fechamento cada vez maior. Veremos o que o resto do ano nos reserva.
(*) Marcelo Castañeda é sociólogo e pesquisador da UERJ.
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(Com o Correio da Cidadania)
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