Papa Francisco: o super-homem da Igreja Católica?
Papa Francisco em mural do artista italiano Maupal, pintado próximo ao Vaticano em 2014
Em cinco anos no cargo, primeiro papa latino-americano se transformou numa espécie de pop star teológico e político, sacudindo as estruturas do catolicismo. Países em desenvolvimento como o Brasil ganharam espaço.
Rezar é algo político. Especialmente quando se reza diante do muro entre o México e os Estados Unidos. O papa Francisco não mede palavras: "Uma pessoa que pensa em construir muros em vez de pontes não é cristã. Isso não é o Evangelho", disse.
Há dois anos, Francisco criticou os planos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de ampliar o muro entre o México e os EUA. A visita de Trump ao Vaticano em maio de 2017 não foi capaz de derrubar esse muro espiritual entre os dois líderes.
Há cinco anos, o argentino Jorge Bergoglio, que completou 81 anos em dezembro, se tornou o primeiro latino-americano a liderar a Igreja Católica. Dois minutos depois de sua eleição, no dia 13 de março de 2013, ficou claro que esse papa "do outro lado do mundo", como o próprio Bergoglio se apresentou, é diferente de seus antecessores.
Em 2014, Francisco quebrou o protocolo e foi até o muro que divide Israel da Cisjordânia
Revolução em Cuba
Francisco é, ao mesmo tempo, político e pastoral. Ele reza pela paz entre Israel e Palestina diante do muro em Belém. Ele acolhe refugiados no Vaticano. Ele costura o fim da era do gelo política entre Cuba e os EUA. E ele perdoa mulheres que abortaram.
"Francisco quer superar divisões, e não consolidá-las com muros. Ele é muito político nesse aspecto", afirma Bernd Klaschka, confidente do papa e ex-diretor da organização católica de assistência Adveniat. "Na América Latina, Francisco desempenha papel similar ao de João Paulo 2° na Europa quando este contribuiu com a queda do muro [de Berlim]", descreve.
Ainda que o muro entre o México e os EUA continue em expansão, Francisco conseguiu derrubar barreiras em Cuba e na Colômbia. Com uma mediação habilidosa entre as partes, conflitos de décadas foram atenuados. Em 2015, a visita de Francisco à República Centro-Africana também levou a um cessar-fogo e à realização de eleições livres.
Adeus, Europa
No interior da Igreja Católica, há sinais de mudanças – mesmo que esses não possam ser identificados à primeira vista. A nomeação de novos cardeais da América Latina, da África e da Ásia e a ampliação dos direitos de decisão das conferências episcopais nacionais e regionais mostram que Francisco está começando a corroer a supremacia do Vaticano.
De um total de 49 cardeais nomeados por Francisco, a maioria vem de países em desenvolvimento, que até o momento não eram foco de atenção no Estado soberano liderado pelo sumo pontífice. Esses cardeais poderiam ser os responsáveis por eleger o primeiro papa africano como sucessor de Francisco no próximo conclave, em que 117 cardeais votam.
O integrante mais jovem do grêmio é o arcebispo da capital centro-africana, Bangui, Dieudonné Nzapalainga. "Este pontífice ama a África. Há pouco tempo, ele exortou todos os católicos e o mundo todo a rezar pela paz no Congo e no Sudão do Sul", disse em entrevista à DW.
O arcebispo da República Centro-Africana representa o futuro da Igreja Católica. Em 2015, Nzapalainga recebeu, juntamente com o imã Kobine Layam, o Prêmio da Paz de Aachen.
Padre e casado?
O Brasil também ganhou destaque durante a primeira viagem internacional do papa Francisco, que participou da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, em 2013. Atualmente, está em preparação mais um grande evento religioso-político ligado ao Brasil: o Sínodo para a Pan-Amazônia em 2019, no Vaticano. Ali, poderia ser decidido se, no futuro, homens casados também poderão ser padres.
Da perspectiva católica, acabar com o celibato estabelecido há séculos seria uma revolução. E são precisamente reviravoltas como essa que sempre atraem adversários que querem evitar uma "teologia Copacabana", na qual dogmas religiosos seriam relativizados e os ensinamentos tradicionais da Igreja, questionados.
O arcebispo de Acra, capital do Gana, acha a polêmica exagerada. "Eu sei que alguns conservadores não estão satisfeitos com a postura de coração aberto do papa", disse Gabriel Charles Palmer Buckle em entrevista à DW. Para ele, Francisco teria apenas pedido a bispos e padres que deixem valer a compaixão. "A Igreja não é dos conservadores, é de todos."
http://www.dw.com/pt-br/papa-francisco-o-super-homem-da-igreja-cat%C3%B3lica/a-42945482
(Com a DW)
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