De jornais, música e literatura


Carlos Lúcio Gontijo


O terceiro jornal mais antigo do Brasil, “Monitor Campista”, de Campos dos Goytacazes, no Norte fluminense, fundado em 4 de janeiro de 1834, fechou suas portas, provocando a demissão de 40 pessoas, entre jornalistas e funcionários.
O “Monitor Campista” era órgão de imprensa pertencente aos Diários Associados, que ao que parece não se prende muito a essa coisa de tradição e história, pois em meados de 2007 encerrou as atividades do “Diário da Tarde”, um jornal de Minas Gerais que havia iniciado suas atividades em 14 de fevereiro de 1931.

Contudo, o fato verdadeiro e inarredável é que ninguém tem qualquer consideração com o culto à palavra, à língua portuguesa falada no Brasil, à cultura como um todo, passando-nos a cruel constatação de que, em última análise, o recado implícito é que se danem os jornais impressos, os livros e os leitores.
Ademais, não é difícil de se levar ao fechamento a maioria dos veículos de comunicação impressos no País, uma vez que basta aos governos federal, estaduais e municipais cortarem a injeção de recursos, para que a bancarrota se lhes venha à tona quase que imediatamente, dado os proprietários de jornais contemporâneos não suportarem qualquer prejuízo.
Ou seja: não amam o que fazem e estão no ramo unicamente em busca de lucro. Não sendo portanto à toa que o noticiário e a cobertura jornalística consomem um volumoso número de páginas voltadas para o mundo dos negócios – constituindo-se uma maneira bem engendrada de aproximar os donos de jornais aos senhores do capital.

No caso do “Monitor Campista”, bastou que a Prefeitura de Campos dispensasse o espaço destinado à publicação das edições do Diário Oficial do Município para que o jornal assistisse a um processo de insolvência quase que imediato, o que certamente deve servir de alerta a veículos impressos (de grande ou médio porte) que firmam a sua arrecadação nas publicidades institucionais, gerando uma dependência financeira e editorialmente comprometedora.
Infelizmente, as agruras que atravancam o setor jornalístico também podem ser encontradas na área musical. Valter Alfaiate, sambista carioca que foi descoberto aos 68 anos, não pôde abandonar a costura, pois a música não lhe rende o suficiente para viver, apesar de todo o reconhecimento em relação ao seu talento como compositor e cantor, numa prova de que a opção pelo grotesco é hoje uma realidade praticamente intransponível: “músicas” como boquinha da garrafa, você não vale nada, mas eu gosto de você e tantos outros “enredos” parecidos se sucedem no pódio das produções artísticas descartáveis.

Entretanto, se o dom da pessoa é a poesia e a literatura, o problema se agrava, pois os incentivos são escassos e, quando existem, acabam nas mãos de gente graúda e especializada na montagem de projetos para acessar verbas públicas.
Nossos amigos escritores independentes (João Silva de Souza, Regina Morelo, Antônio Carlos Dayrell, Antônio Fonseca etc.) são intelectuais idealistas que editam a expensas de si mesmos, realizando um luzidio trabalho de cultura e sensibilização dos que têm contato com suas obras e cultuam o indispensável hábito de leitura, que no Brasil não predomina nem em classe nem categoria alguma. Ou seja, não leem os professores, os alunos, os jornalistas, os médicos, os engenheiros, os políticos, o presidente da República e, evidentemente, muito menos os analfabetos.

Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
http://www.carlosluciogontijo.jor.br/

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