Está tudo dominado



* Hermínio Prates



Sinergia, ensinam os dicionários, é uma ação simultânea. Teófilo Braga, em “Sistema de Sociologia”, lembra que “isoladamente, o homem é uma personalidade movida por instintos, cuja sinergia se revela pela paixão animal do egoísmo”. Sinergia é cooperação, mas não para Nelson Tanure, que em outros tempos definiu destinos e cortou cabeças nas redações do Jornal do Brasil e da Gazeta Mercantil. O empresário, com a fome dos insensíveis, acalentava planos de assumir o controle de alguns jornais dos Diários Associados, aí incluídos o Diário de Pernambuco, o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, o Correio Braziliense e até o Estado de Minas, para tristeza dos mineiros, que ainda o têm como o grande jornal aqui das montanhas.
E para o enfastiado leitor que não está percebendo a relação da palavra sinergia com as ações do esperto Nelson Tanure, vai a explicação: a tal da “sinergia” (e as aspas se justificam) já está acontecendo em algumas redações desse país de muitos sonhos. Quem tem acesso aos jornais de várias praças pode comprovar, pois reportagens, colunas, coberturas nacional e internacional e até cadernos especializados (turismo, veículos etc) são os mesmos publicados ali e acolá. Ou seja, o patrão remunera apenas um profissional, mas o trabalho é publicado em dois jornais, com faturamento duplo em publicidade e venda de assinaturas e exemplares nas bancas.
Por enquanto está sendo assim, mas a “novidade” pode se espalhar ainda mais. E a estratégia, como se percebe facilmente, não é apenas econômica, pois ela também facilita o controle da informação. Isso é monopólio, é censura da braba e o cidadão não terá para onde apontar o nariz na ânsia de sentir o cheiro de um noticiário isento.
A diretoria da FENAJ – Federação Nacional dos Jornalistas – denunciou que “essa atitude fere os mais elementares direitos e conquistas trabalhistas e representa uma séria ameaça à liberdade de imprensa. Ao pasteurizar o noticiário, impede o direito da sociedade de ter acesso à informação plural e consagra o preceito da supremacia dos interesses privados sobre a natureza pública da informação”.
É preciso ficar atento a manobras que levem ao oligopólio da informação impressa. Já sofremos – e como sofremos!.. – com a manipulação que nos impõem os donos das redes de televisão e as nossas mentes já não suportam tanta poluição ideológica. Ou mercadológica, para usar uma expressão mais consentânea com os novos tempos.
E enquanto a sociedade se mantém como a bela adormecida, os donos do circo rufaram aleivosias contra a criação do Conselho Federal de Jornalismo. Disseram os poderosos e os “cães-de-guarda” (a definição é do Sérgio Murillo de Andrade, ex-presidente da FENAJ) que a instituição seria censora das “legítimas manifestações democráticas” nessa terra onde mandam os marqueteiros. Já os profissionais que suam no desconforto das redações juraram que não seria assim, pois a prática petista não combina com o método de Josef Göebbels, o arauto de Hitler, que professava a arenga de que “uma mentira repetida mil vezes...” o resto todos sabem.
Há quem ainda despeje caçambas de pedras sobre o natimorto CFJ; outros ainda o vêem como o credo dos puros. Nem isso, nem aquilo, pois o CFJ poderia ser muito bom ou apenas mais uma sigla insignificante. A instituição, em si, não é o principal na pendenga e sim o que poderia ser. Se for o que dizem os parceiros do batente jornalístico, ótimo. Se não for, valha-te Deus...
Mesmo assim, na época, concordei com o texto As CPIs e o CFJ. É preciso ter malícia! Publicado pelo PAUTA, jornal do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, expressou a opinião de Virgínia Castro, ex-aluna da UFMG, a quem pouco ensinei e com quem muito aprendi: “ ... nós, jornalistas, precisamos de um órgão que discuta as inusitadas situações em que, eventualmente, estejamos envolvidos no exercício da nossa profissão. Se este órgão vai ser um Conselho ou uma Ordem, não importa. O importante é que ele tenha, acima de tudo, malícia (tal qual o repórter da política) para entender a complexidade da atividade jornalística.”
Tempos depois desse embate de idéias, os barões da mídia hoje gargalham com a vitória conquistada nos viciados bastidores do poder. Hoje os profissionais da imprensa lutam pela dignidade da profissão e os que se crêem donos da verdade sorvem champanhotas pelo fim da exigência do diploma para jornalistas.
O que não pode, meu chegado, é deixar que eles, mais uma vez, decidam por nós. Afinal, já está tudo dominado!..

· Jornalista
· herminioprates@ig.com.br

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