Repercussão mundial: 50 anos demonstraram que o isolamento entre Cuba e EUA não funciona
Marcela Belchior
Adital
Granma
Raúl Castro recebe agentes cubanos presos que retornam ao país. Foto: Granma
Os passos da reaproximação devem ser graduais. Daqui para frente, o governo dos EUA deve retirar o nome de Cuba da lista de países que apoiam grupos terroristas e, mesmo ainda estando em vigor a lei de 1995, que impõe estritas sanções à ilha, se encaminha para flexibilizar as restrições de viagem e comércio. Estão previstas também ações para que empresas de tecnologia estadunidenses façam negócios para atuarem na infraestrutura de Internet da ilha.
Os EUA têm defendido o que consideram "maiores liberdades individuais e reformas democráticas” na ilha. No que compete ao Parlamento dos EUA, ainda não há perspectivas para que medidas complementares contribuam para o vínculo entre as partes, o que também pode mudar em um futuro próximo.
O jornal The New York Times (NYT), diário de maior prestígio da mídia comercial nos Estados Unidos, publicou, nesta quarta, 17, que a retomada de relações é "um passo significativo que marca o fim de um dos capítulos mais desacertados da política exterior estadunidense”.
Já o jornal Granma, periódico oficial do Partido Comunista de Cuba, avaliou a reabertura da diplomacia como uma medida de justiça, destacando o retorno dos cidadãos cubanos à pátria. "Voltamos!”, manchetou na capa da edição de ontem.
Capa do jornal do Partido Comunista de Cuba, edição de 17 de dezembro de 2014
"Fidel [Castro, ex-presidente de Cuba] disse ‘voltarão’ e assim ocorreu. Esta foi uma batalha de milhões. O povo cubano sente uma grande alegria porque se restabeleceram as relações diplomáticas com os EUA na base do respeito mútuo e sem sacrificar nenhum princípio soberano”, destacou Yolanda Ferrer, presidente da Comissão de Relações Internacionais do Parlamento cubano, referindo-se ao retorno dos três presos cubanos ao país natal.
"Essa notícia é resultado da unidade que conseguimos (...). Essa decisão deve repercutir no mundo e marcará um antes e um depois em Cuba e na América Latina”, analisou o ministro das Indústrias cubano, Salvador Cruz. "É a forma que os EUA tiveram de reconhecerem uma série de erros de sua política direcionada a Cuba e, portanto, a necessidade de iniciar um novo tipo de política e, para nós, isso é um desafio também, porque mudam as regras do jogo, mas não muda o jogo”, ressaltou o historiador cubano Eduardo Cuevas.
Durante evento na Argentina, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, um dos maiores parceiros políticos de Cuba, destacou que, agora, se inicia uma nova etapa da história do país caribenho. "É uma nova história moral, da ética, da resistência, da lealdade aos valores. É a história de Fidel, do povo cubano”, disse. "O presidente Obama não pode seguir insistindo em uma política de tratar de levar Cuba ao colapso. É uma retificação histórica”, acrescentou Maduro.
Entenda o conflito histórico
O embargo econômico, comercial e financeiro imposto a Cuba pelos Estados Unidos se iniciou em 7 de fevereiro de 1962, sendo convertido em lei em 1992 e 1995, além de ampliado em 1999 pelo então presidente estadunidense, Bill Clinton, proibindo as filiais estrangeiras de companhias estadunidenses de comercializarem com Cuba.
A medida, em vigor por quase 53 anos, funcionou como um dos mais duradouros bloqueios econômicos na história contemporânea. O embargo estava formalmente condenado pelas Nações Unidas, que, nos últimos anos, aumentou a pressão mundial pelo fim do bloqueio.
A medida, em vigor por quase 53 anos, funcionou como um dos mais duradouros bloqueios econômicos na história contemporânea. O embargo estava formalmente condenado pelas Nações Unidas, que, nos últimos anos, aumentou a pressão mundial pelo fim do bloqueio.
O processo de rompimento entre os países foi marcado, inicialmente, em maio de 1958, quando os EUA suspenderam a ajuda militar oficial ao governo do então mandatário cubano, Fulgêncio Batista, em um episódio que ficou conhecido com o "embargo militar a Cuba”. Na época, a guerrilha entre as forças do ditador e os revolucionários de Fidel Castro já havia começado.
Em julho de 1960, em resposta às nacionalizações, foi reduzida a quota de importação de açúcar cubano pelos EUA, que passou a ser comprado pela antiga União Soviética. Em resposta a esse alinhamento de Cuba com os soviéticos em plena Guerra Fria, o presidente John F. Kennedy ampliou as restrições comerciais em 07 de fevereiro e novamente em 23 de março de 1962.
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