Sempre pensei no jornalismo como uma forma potencial de arte", diz Gay Talese

                                                        
Crédito:Wikimedia commons/David Shankbone
                    Jornalista defende que entrevistas sejam feitas pessoalmente


Convidado especial no Prêmio Simon Bolivar 2015, realizado na noite da última quinta-feira (29/10), em Bogotá, na Colômbia, o jornalista Gay Talese, considerado o pai do novo jornalismo, discursou sobre a profissão e propôs melhorá-la com uma "nova abordagem".

Jornalista defende que entrevistas sejam feitas pessoalmente

Talese explicou que a mudança deve consistir em um tratamento crítico ao poder. "Enquanto, ao mesmo tempo, há mais acesso à informação, aquilo que se recebe muito rápido não possui nenhum nível de verificação", ponderou.

Em entrevista ao semanário Semana, o jornalista destrinchou os assuntos abordados no evento e comentou sobre as obras que o consagraram, como a reportagem “Frank Sinatra Está Resfriado” – publicada na Esquire em 1966 –, cujo perfil foi construído a partir de diversas entrevistas, exceto a do próprio Sinatra.

Questionado se retrata, por acaso, personagens como o próprio Sinatra e o jogador de basebol Joe DiMaggio, filhos de imigrantes italianos, como ele, o jornalista explicou que, ao escrever, aprende um pouco mais sobre si mesmo. "Quando você entrevista outros colombianos, por exemplo, os converte em historiadores de seu próprio tempo, aprende através deles sobre o país que é a Colômbia", justifica. 
  
Filho de um alfaiate, ele diz que o ofício do pai o influenciou na escrita. "Ele se importava com detalhes, com a precisão. Aprendi a fazer coisas que duram, que possam permanecer durante anos e permitir que a história sobreviva. O tema não altera o quão interessante pode ser uma história bem escrita", pontua. 

O jornalista destaca que a curiosidade não é suficiente para um repórter. É preciso energia. "Temos de persistir, verificar dados. Você não pode esperar que o editor te dê uma boa ideia", esclarece. Para ele, a tecnologia é perigosa e faz com que muitos preguiçosos se multipliquem. "Tom Wolfe [jornalista e escritor] e eu tínhamos que ver as pessoas sobre as quais queríamos escrever. Não ligue. Vá ao encontro delas."

Talese e Wolfe são considerados fundadores do chamado novo jornalismo - caracterizado por reportagens que se apropriam de técnicas da ficção e mistura da narrativa jornalística com a literária. "Eu queria incorporar as técnicas de ficção na escrita de não-ficção com nomes reais. Não há nomes e situações imaginárias", observa.

Interrogado se acredita que os jornalistas ainda são considerados escritores de segunda categoria, ele afirma que grandes repórteres também têm sido fortes romancistas. "Parte da culpa recai sobre aqueles que fazem o trabalho rapidamente, sem se importar com as palavras. Mas eu sempre pensei no jornalismo como uma forma potencial de arte."

"Quando faço entrevistas, sei quando tenho informações suficientes para representar o outro de maneira completa. Mas quando há uma lacuna, que sempre aparece, volto a conversar com a pessoa. Você tem que sentir", completou. (Com o Portal Imprensa)

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