Assessor da Casa Branca revela que objetivo dos EUA é produzir petróleo na Venezuela
Bolton anunciou que o governo de Donald Trump vai confiscar todos os recursos da estatal PDVSA em solo estadunidense
FANIA RODRIGUES
30 de jan de 2019 às 14:15
Brasil de Fato
O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, afirmou segunda-feira (28) que o governo de Donald Trump vai confiscar todos os recursos da petroleira estatal venezuelana PDVSA em solo estadunidense. Isso inclui o bloqueio no valor de 7 bilhões de dólares, equivalente a R$ 27 bilhões, em ativos da Citgo Petroleum Corporation, subsidiária da PDVSA nos EUA. A Citgo é a empresa de petróleo mais importante entre as empresas dos países integrantes da OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] em território estadunidense.
Com sede na cidade de Houston, no estado do Texas, a subsidiária da PDVSA possui três refinarias de petróleo, a do Texas, e outras duas nos estados de Louisiana e Illinois, que juntas possuem uma capacidade de produção de 750 mil barris por dia, o equivalente a cerca de 4% da capacidade total de refino dos EUA.
O assessor de Segurança Nacional, John Bolton, confessou que a intenção do governo Trump é fazer com que as empresas petroleiras dos EUA possam produzir o petróleo venezuelano. “Estamos conversando com as principais companhias estadunidenses agora”, afirmou.
O objetivo, disse ele, é que essas empresas “produzam o petróleo na Venezuela”. Essas declarações foram feitas durante entrevista na noite de segunda-feira (28), ao canal Fox.
Ainda na segunda-feira (28), o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, participou de uma reunião com os diplomatas venezuelanos retirados dos EUA após sua decisão de romper relações políticas e diplomáticas com o país norte-americano, na última quarta-feira (23). O mandatário repudiou o bloqueio e o confisco dos bens da PDVSA.
“Os Estados Unidos optaram pelo caminho de roubar a Citgo da Venezuela, esse é um caminho ilegal. Já dei instruções ao presidente da PDVSA e da Citgo para que iniciem as ações políticas, legais, diante dos tribunais estadunidenses e internacionais para defender a propriedade e a riqueza da Citgo”, disse Maduro.
“Olho para vocês e vejo: são todos filhos do povo, que chegaram no corpo diplomático por mérito próprio. Quando, em outro país, os filhos do povo estão no controle do Estado? Isso eles não perdoam”, afirmou o mandatário dirigindo-se aos diplomatas venezuelanos.
Impactos do bloqueio
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, afirmou terça-feira (29) que refinarias dos EUA, tanto as que pertencem à Citgo quanto as que pertencem às petroleiras norte-americanas, poderão continuar comprando petróleo da Venezuela, entretanto, os pagamentos serão realizados à equipe indicada pelo deputado da Assembleia Nacional em desacato, Juan Guaidó, que se autoproclamou “presidente interino” em 23 de janeiro.
No entanto, para o economista venezuelano Tony Boza, a decisão dos EUA representa, na prática, o bloqueio do petróleo, pois o governo de Nicolás Maduro não enviará petróleo enquanto não tiver segurança jurídica sobre os pagamentos. “Daqui não vai sair nenhuma uma gota de petróleo se não nos pagam”, afirmou Boza.
Os impactos do bloqueio nas contas públicas do país sul-americano é evidente, segundo o economista. “O bloqueio de recursos no valor de 7 bilhões de dólares, somado ao confisco dos ativos da Citgo, chegam ao valor de 18 bilhões de dólares. Que se somam aos outros 23 bilhões de dólares bloqueados nos últimos meses”, explica.
De acordo com o Banco Central da Venezuela, o petróleo representa 93% das exportações venezuelanas. Porém, a maior parte do petróleo, cerca de 60%, é exportado para países da Ásia; China, Índia e Singapura. E 20% do petróleo produzido no país é exportado para os Estados Unidos.
“É possível que esse novo bloqueio tenha um forte impacto nas contas públicas, mas nós temos um bem, que é o petróleo, e capacidade para extraí-lo da terra. E existem muitos países que têm interesse no nosso petróleo”, pondera Boza.
Atualmente, o petróleo venezuelano vendido aos EUA representa 10% do consumo diário de seus habitantes, segundo o economista. No passado, esse percentual era maior. Mas, nos últimos anos, a Venezuela já vinha diminuindo as exportações de petróleo bruto para os estadunidenses. Segundo informações da agência Reuters, em 2018, essas exportações diminuíram 21% em relação ao mesmo período no ano anterior.
Na opinião do economista venezuelano, o bloqueio anunciado pelo governo dos Estados Unidos será prejudicial também ao país norte-americano. “O que sabemos é que os EUA têm certa dependência do petróleo venezuelano, portanto, não vão conseguir sustentar essas sanções por muito tempo e vão buscar uma negociação”, afirma.
Governos da Rússia e China confrontam EUA
A Rússia e a China repudiaram as sanções dos EUA contra a Venezuela e confisco de bens da estatal PDVSA. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que a ação dos EUA é “ilegal”. “Vamos defender nossos interesses no âmbito do direito internacional”, disse Peskov.
A Rússia é sócia da PDVSA na Venezuela e nos Estados Unidos. “Os governos russo e chinês manifestaram sua solidariedade com o governo venezuelano, mas também porque estão defendendo seus investimentos na indústria petroleira da Venezuela”, destaca o economista Tony Boza.
O chanceler da Rússia, Serguéi Lavrov, também se manifestou nesta terça-feira (29) e chamou de “cínicas” as posições dos EUA em relação à Venezuela. Ele disse que o governo de Trump “quer obter benefícios” com o bloqueio da petroleira venezuelana e também condenou o confisco de barras de ouro venezuelanas feito pelo governo do Reino Unido, no valor de 1 bilhão de dólares. Disse que o governo dos EUA agiu da mesma forma com as reservas e recursos de países como Iraque, Líbia, Cuba, Nicarágua e Panamá.
A China também aumentou a pressão contra os governo de Donald Trump. "Nós nos opomos a sanções unilaterais. A história mostrou que a intervenção ou a imposição de sanções só complicou a situação e não conseguiu resolver o problema", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Geng Shuang, durante uma coletiva de imprensa nessa terça-feira.
"As sanções levarão a um agravamento da vida da população [na Venezuela]. [Os países que promovem sanções] terão que responder pelas sérias consequências que resultarão", disse o porta-voz do governo chinês. A China é um dos mais importantes sócios comerciais da Venezuela no setor petroleiro e continua investido no país.
(Com Brasil de Fato/Colabora)
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