Ética, meus amigos!
David Leitão Aguiar
O segundo dia do 38º Congresso Nacional dos Jornalistas teve início com seu primeiro painel, denominado “Comunicação pública na era da hiperinformação”. Ocorrido na manhã de 23 de agosto último, no Hotel Sonata de Iracema, o debate foi mediado pela jornalista baiana Kardé Mourão, presidenta da Comissão nacional de Ética, e contou com a presença de Moacir Maia, coordenador de Comunicação da Prefeitura de Fortaleza, Chagas Vieira, assessor especial de Comunicação do Governo do Estado do Ceará, e Wilson da Costa Bueno, professor sênior da Universidade de São Paulo – USP e diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa.
O jornalista Moacir Maia iniciou o debate fazendo uso de uma apresentação visual para resgatar conceitos básicos do fazer jornalístico, bem como o que caracteriza a chamada “Comunicação Pública”. “Como trabalhar para aprimorar o novo ofício?”, propôs o questionamento à plateia. O assessor apontou a apuração devida do fato como algo primordial da profissão, além de defender a ideia de estarmos vivendo uma “inversão da lógica” quando se fala sobre o que é fato e o que é “fake”.
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Segundo Maia, cabe ao jornalista “dizer a verdade, nada mais que a verdade, somente a verdade”, logo, a apuração posterior à redação deturpa a linearidade tradicional do processo jornalístico: pauta, apuração (incluindo a checagem), redação, edição e divulgação. Moacir também classificou como “desconfortável” a suspeição colocada sobre os jornalistas que atuam no Poder Público.
“O trabalho não se esgota em querer desmascarar alguém”, afirmou o ex-presidente do Sindjorce. Ainda em sua fala, o jornalista defendeu que o direito de resposta e a investigação profunda dos fatos são práticas que devem preceder a publicação de qualquer notícia, e acrescentou: “o Código de Ética deve ser lido diariamente pelos colegas”.
Chagas Vieira, por sua vez, criticou o ato generalizado de tomar a Comunicação Pública como “oficialesca”. Segundo o assessor, todo jornalista deve fazer comunicação de forma verdadeira e honesta, assim como, no caso das assessorias, utilizar os diversos canais disponíveis para se comunicar com a população.
Vieira também declarou que a “relação com os sistemas de comunicação se constrói um dia por vez”. Da mesma forma, frisou que a “credibilidade é a chancela de qualquer veículo”, portanto, deve ser preservada pela disseminação de informações precisas. E ainda alertou: “o que está acontecendo com a imprensa brasileira também é culpa dos jornalistas”.
No entanto, o profissional reconhece que ainda não encontraram a “fórmula perfeita” para evitar as fake news. Por fim, o assessor aconselhou os colegas de profissão a saírem da zona de conforto, transformando “a depressão em indignação”. “Jornalistas sairão mais fortes e respeitados dessa crise”, concluiu.
Wilson Costa Bueno, em sua oportunidade, deu um tom acadêmico ao debate, utilizando teorias da comunicação em seu discurso. Segundo o professor, o operário da notícia deve preservar o pensamento crítico e a reflexão para a construção de narrativas. Além disso, hiperinformação, comunicação pública, “hiperdesinformação” e informação pública são termos que devem ser apropriados pela categoria, bem como a constatação de que a mídia brasileira é controlada e mediada por grandes empresas. Bueno também citou o “Jornalismo patrocinado”, que tem ganhado espaço no mercado.
Sobre a realidade das mídias sociais, Bueno relatou o uso interno de robôs, movidos pela inteligência artificial, que buscam desenvolver ou criar uma falsa noção de horizontalidade, mas que, na verdade, sustentam rígidas relações de poder, por meio de seus algoritmos.
Também criticou a valorização da capacitação técnica, contexto no qual as métricas digitais são mais importantes. O professor observou que a Comunicação Pública tende a ser terceirizada, o que impede a construção de espaços de contradição ou questionamento. Para finalizar, destacou as dificuldades que tendem a existir enquanto as autoridades quiserem jornalistas serviçais e não autônomos.
(Com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Ceará/FENAJ)
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