MILITÂNCIA JOVEM
IHU
Todos os olhares estão voltados para Greta Thunberg, a ativista sueca de 16 anos, enquanto ela começa a sua jornada através do Atlântico em um veleiro neutro em carbono para falar em um encontro das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas. As viagens aéreas geram toneladas de emissões de carbono. Ela não vai fazer isso. E nós gostamos de vê-la não fazendo isso.
A reportagem é de Rita Ferrone, publicada por La Croix International, 28-08-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Thunberg chegou ao conhecimento público há cerca de um ano, através de um protesto pessoal em frente ao Parlamento sueco. Isso, por sua vez, inspirou uma série mundial de greves de crianças em idade escolar, chamadas “Sextas-Feiras pelo Futuro”, atraindo mais de um milhão de participantes.
Cerca de 1.600 greves em 118 países foram planejadas para esta primavera no Hemisfério Norte, incluindo 50 greves organizadas pela “Geração Laudato si’”, uma iniciativa juvenil sob o guarda-chuva do Movimento Católico Global pelo Clima.
Enquanto o tempo se esgota para a oportunidade de reverter alguns dos piores efeitos das mudanças climáticas, Greta, como seus apoiadores a chamam, tem sido incrivelmente corajosa, focada e apaixonada pela sua causa. Em reconhecimento aos seus esforços, ela foi nomeada para um Prêmio Nobel e reafirmada pelo Papa Francisco.
Ela se tornou um ícone do movimento de crianças e jovens que exige ações concretas para a sustentabilidade em resposta à crise climática.
Em certo nível, o fenômeno Greta Thunberg se conforma a um padrão bem conhecido: um indivíduo altamente motivado, presente no lugar e na hora certos da história, inflama um movimento e torna-se a sua face pública.
A fogueira estava pronta – a crescente preocupação com o ambiente e um crescente sentimento de necessidade de mudança –, e ela acendeu o fósforo. O momento é o que importa.
No entanto, seu impacto sobre o nosso imaginário, em um sentido importante, também depende da sua juventude.
Crianças e jovens na era atual assumiram um papel real e simbólico em relação ao modo como os adultos lidam com o desafio das mudanças climáticas e da degradação ambiental.
Os jovens estão cada vez mais no centro das atenções como aqueles cujo futuro está em suspenso e cuja energia tem o potencial de despertar o mundo para a ação.
Os custos da agitação e deslocamento sociais
O ativismo juvenil na área de ecologia e, mais especificamente, das mudanças climáticas, não é novidade. O Sunrise Movement, o Extinction Rebellion, o Green New Deal e outras iniciativas ousadas foram alimentadas pelos ideais e pela energia dos jovens.
Na Jornada Mundial da Juventude no Panamá, um Manifesto Climático foi apresentado ao cardeal Luis Antonio Tagle, de Manila, que o recebeu em nome da agência católica de ajuda e desenvolvimento Caritas Internationalis.
As “Sextas-Feiras pelo Futuro”, convocadas por Greta, podem ter levado crianças em idade escolar para as ruas, mas ela dificilmente é a única líder jovem que pressiona por um mundo ecologicamente sustentável.
Nos Estados Unidos, um momento definidor na identificação da crise climática com o destino dos jovens surgiu em 2015 através do processo judicial Juliana vs. Estados Unidos.
Ele abriu o precedente, em nome de 21 jovens demandantes diretamente afetados pelos efeitos nocivos das mudanças climáticas, de que eles têm direito a um ambiente sadio e estável.
Julia Olson, a principal advogada dos demandantes, lembra que ela se radicalizou em relação às mudanças climáticas quando estava grávida: "Há algo em relação ao fato de carregar a vida dentro do seu corpo que é transformador e dá a você uma perspectiva diferente sobre o mundo”.
Está claro por que os jovens estão na vanguarda da agitação: as gerações futuras pagarão a conta da ineficiência ambiental passada e presente.
As crianças e os adolescentes de hoje serão aqueles que estarão sujeitos a condições climáticas extremas, à poluição do ar, à extinção de espécies, à escassez de água limpa e à elevação dos oceanos de amanhã, sem falar dos custos da agitação social e do deslocamento sociais em todo o mundo devido à degradação ecológica.
Os jovens podem nos salvar de nós mesmos? Essa é a parte sobre a qual eu não tenho tanta certeza. Sua energia e o próprio fato de não se desesperarem em mudar os hábitos e as estruturas que nos trouxeram até esta confusão proporcionam algo precioso ao mundo.
Como disse o Pe. Joshtrom Isaac Kureethadam, coordenador do setor de Ecologia e Criação do Dicastério para Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, do Vaticano, em uma recente conferência na Creighton University, eles nos dão esperança.
Mas, se o mundo adulto simplesmente observar e aplaudir, e não se engajar em seu próprio trabalho recíproco e em seu sacrifício para reduzir as emissões de carbono, pouco vai mudar.
Os protestos, os manifestos e a viagem de Greta através do oceano em um pequeno barco neutro em carbono entrarão para a história como um teatro, e não como uma profecia.
O que importa, no fim, é o princípio que o Papa Francisco articulou na Laudato si’: "A solidariedade intergeracional". Cada geração conserva a terra em nome da próxima; cada geração é responsável por repassá-la intacta.
(Com o IHU)
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