Denúncia sem crime contra Glenn é censura

                                                                 

Marina Araújo (*)

Hoje pela manhã o Ministério Público Federal apresentou uma denúncia sobre o suposto hackeamento dos celulares de autoridades federais. A redação do Intercept soube, perplexa, que apesar de não ser investigado ou indiciado, Glenn Greenwald, editor cofundador do site, foi incluído na denúncia do MPF. 

A denúncia – feita por um procurador amigo de Sérgio Moro – é mais um exemplo das arbitrariedades e dos métodos autoritários que se tornaram praxe nas ações do Ministério Público. Esses métodos foram expostos de maneira cristalina na #VazaJato. Por isso, não surpreende ver que a denúncia contra Glenn se baseia em um diálogo já amplamente analisado pela Polícia Federal na operação Spoofing. Na ocasião, a PF não imputou qualquer conduta criminosa ao jornalista. 

Diz o relatório da PF: "Não é possível identificar a participação moral e material do jornalista Glenn Greenwald nos crimes investigados". A Polícia destaca, inclusive, sua "postura cuidadosa e distante em relação à execução das invasões".

Isso mesmo. Para a PF, Glenn foi cuidadoso no trato com a fonte. Fez jornalismo como deve ser feito: sem medo de quem tem poder, sem recorrer a expedientes espúrios, sem temer retaliações e preservando a relação com a fonte, direito garantido na Constituição Federal de 1988. 

Se você repudia a ação do MPF e acredita no jornalismo, agora é a hora de se unir ao TIB para enfrentar esse ataque.

Em novembro, quando Glenn foi agredido por Augusto Nunes na rádio Jovem Pan, escreveu que aquele era o exemplo mais vívido das ameaças às quais jornalistas estão submetidos sob o governo Bolsonaro. Infelizmente, ele estava errado. 

Essa denúncia é a mais agressiva tentativa de atacar a imprensa livre em retaliação às revelações da #VazaJato. Eles não admitem o fato de que mostramos os abusos de Moro e do MPF, seus métodos sujos e o total desrespeito às instituições. Não conseguem refutar os fatos, então preferem desacreditar quem insiste em revelá-los.

O que o Intercept tem a dizer ao MPF e àqueles que desejam censurar o jornalismo brasileiro é que não vamos nos intimidar. 

Bolsonaro pediu a prisão de Glenn, seus aliados ameaçaram toda a redação do Intercept e agora querem vê-la investigada por conta do seu trabalho. Nada disso vai nos calar. Continuaremos trabalhando com a certeza de que em tempos sombrios o jornalismo é uma força indispensável. 

Hoje é um dia triste para quem defende a liberdade e acredita na democracia. Mas é também um dia simbólico. Uma linha foi traçada: a sociedade brasileira não pode aceitar abusos de poder como esse. Jornalistas não podem ser alvo de investigação apenas porque exerceram seu direito de denunciar e contaram as verdades que eles desejam esconder. Jamais desistiremos.

(*)Marina Araújo é do Intercept Brasil

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