IMPRENSA MINEIRA



Super Notícia, a paixão e morte do DT

Jornalista Symphonio Veiga
       Symphronio Veiga

O fechamento do Diário da Tarde (28/07/2007) vai resolver a crise na mídia impressa dos Diários Associados em BH? Com toda a certeza que não. Imperdoável erro mercadológico foi a criação, há pouco mais de dois anos, de um jornal popular, o Aqui, (planejado para o segmento do tradicional Diário da Tarde, do mesmo grupo do Estado de Minas) e especialmente criado para concorrer com o bem-sucedido campeão das bancas Super Notícia, lançado há cinco anos, copiado em forma e conteúdo do consagrado Diário Gaúcho. [Ver, neste Observatório, "O fim do Diário da Tarde, 77 anos depois"]

Possuindo um vespertino tradicional, os dirigentes associados deveriam investir no próprio Diário da Tarde, adequando-o em formato e texto aos moldes dos tablóides franceses e ingleses. Criariam uma postura adequada para enfrentamento do poderoso Super, na ocasião já o preferido em venda avulsa, superando o até então imbatível Estado de Minas, tido naquele tempo como "o grande jornal, dos mineiros".

O Super foi uma cópia do Diário Gaúcho, de Porto Alegre, e o Aqui, uma imitação do Super. Para lançar o jornal concorrente, há pouco mais de do is anos, a direção dos Associados contratou toda a equipe do Super, oferecendo salários melhores. Para leitores menos atentos, o visual do Aqui se confunde com a cara do Super, mas mesmo assim este acabava sendo o preferido por duas razões: a tradição por ter sido sempre um tablóide de sucesso e porque oferece mais prêmios aos leitores.

Mudança de posições

Em 77 anos de existência, o Diário da Tarde sofreu antes apenas uma ameaça à sua notável venda avulsa para as classes C e D. Em março de 1988, o matutino Hoje em Dia, lançado no mês anterior em três cadernos, com muita cor, formatação descontraída e até uma página fogosa, que chegou a escandalizar a tradicional família mineira com matérias extravagantes sobre sexo.

Uma das manchetes de matéria da referida página do terceiro caderno trazia: "Só sabe gozar quem não ejacula". Esse terceiro caderno era disputadíssimo por "publicar coisas impublicáveis", crit icando as senhoras mais pudicas de Belô... O trato das matérias do "maldito caderninho" seguia orientação pessoal do presidente do jornal, o criativo escritor Wander Pirolli (morto no ano passado, aos 75 anos), autor dos livros O menino e o pinto do menino, A máquina de fazer amor, Minha bela putana, A mãe e o filho da mãe e Os rios morrem de sede, entre outros.

O jornal Hoje em Dia teve tanto sucesso que transformou em matutino o vespertino Diário da Tarde, que passou a circular pela manhã, para concorrer mais de perto com o HD, exibindo novo planejamento gráfico e "matérias mais descontraídas", porém nem tanto assim... ("Estão tentando imitar o Hoje em Dia", comentavam taxistas, assíduos leitores do HD, comparando os dois jornais). O DT passou por maus momentos nessa época. A crise foi superada com a saída espontânea de Wander Pirolli da presidência do HD. A partir daí, o jornal passou a adotar uma linha sóbria, perdendo leitores – muitos voltando ao DT.

Atualmente, o Super Notícia continua líder em circulação – passou a ser vendido nas cidades do interior, assim como o Aqui – com extraordinária venda avulsa, perto de 200 mil exemplares, segundo a Editora Sempre, que edita também o jornal O Tempo, do mesmo grupo. O associado Estado de Minas, que antes fora líder em venda nas bancas e em assinaturas, perdendo leitores passou para terceiro lugar na preferência dos leitores, depois do Aqui, que é o segundo. Em quarto e quinto, O Tempo e o Hoje em Dia, respectivamente.

Grid de largada diferente da linha de chegada.

(Publicado originalmente no Observatório da Imprensa)

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