Palocci não tem mais condições de ficar, dizem cientistas políticos
Ataque com apenas quatro meses no cargo revela fragilidade do chefe da Casa Civil, cuja permanência no núcleo do governo enfraquece gestão Dilma Rousseff e dá fôlego para adversários sem rumo e sem discurso. 'Palocci está liquidado politicamente', diz analista. 'Ele já passa por retraimento e talvez não tenha como ficar', afirma outro.
André Barrocal
BRASÍLIA – O chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, tem até o início de junho para explicar sua evolução patrimonial à Procuradoria Geral da República (PGR). Com base na justificativa, a Procuradoria decidirá se abre inquérito contra o ministro, como pediram partidos adversários do governo (PPS e DEM). A reação da PGR aos esclarecimentos será decisiva para o futuro de Palocci. Independentemente disso, no entanto, cientistas políticos acreditam que o enfraquecimento do ministro não tem volta e que ele já não reúne mais condições de permanecer no coração do governo.
“Palocci está liquidado politicamente. Está numa situação muito precária e indefensável”, diz Fabio Wanderley Reis, professor emérito de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para ele, é sintomático da fraqueza do chefe da Casa Civil, e da impossibilidade de continuar no núcleo da gestão Dilma Roussef sem prejudicar a presidenta, que o ministro tenha sido alvejado de forma contundente apenas quatro meses depois de assumir. “Essa tentativa de alegar confidencialidade é bizarra e insustentável. Por que não dizer quem são os clientes?”, questiona o professor.
Palocci é suspeito de enriquecimento ilícito por ter amealhado patrimônio milionário nos últimos anos. Sem ter salário suficiente, como deputado, para justificar a compra de um apartamento de R$ 6,6 milhões em São Paulo, o ministro afirma que ganhou dinheiro prestando consultoria econômica e financeira por intermédio da empresa Projeto, da qual é sócio com 99% das ações.
Adversários e até mesmo aliados do governo cobram de Palocci que abra o nome da clientela da Projeto, para afastar dúvidas sobre a empresa ser, na verdade, fachada para tráfico de influência. Ele argumenta, entretanto, que precisa preservar o nome dos clientes, pois seus contratos tinham cláusula de confidencialidade.
Negócios secretos
“Esse caso é muito forte. Um autoridade pública, como o ministro-chefe da Casa Civil, que exerce um um cargo estratégico como ele, não pode ter negócios secretos”, afirma o cientista político João Paulo Peixoto, da Universidade de Brasília (UnB). “Palocci já passa por um retraimento, o que é natural na situação dele, já está frágil no governo. E a oposição será contundente. Talvez ele não tenha como ficar”, completa.
Os partidos adversários do governo estão tentando convencer deputados e senadores aliados de Dilma Roussef a apoiar a abertura de CPI contra Palocci. Sozinha, a oposição não tem força suficiente para impor a investigação. Esse é um risco para o governo, que vinha endurecendo com aliados e criou insatisfeitos que agora podem querer dar o troco. “Obviamente, a oposição, que estava sem rumo e sem discurso, não vai entregar facilmente esse presente”, diz Fabio Wanderley.
Mas também há quem ache ser preciso esperar mais um pouco, antes de decretar o fim da linha para o chefe da Casa Civil. “Não estou convencido de que há uma crise incontornável”, afirma Fabiano Guilherme Santos, presidente da Associação Brasileira de Ciência Política. “É possível que existam elementos para enfraquecer o Palocci a ponto de ele não permanecer no governo. Por outro lado, não há nada, até agora, que indique que ele ultrapassou limites éticos e legais.”
Professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Guilherme Santos acredita que, se tiver de substituir Palocci, Dilma ficará sem um auxliar com boa interlocução junto ao sistema financeiro, que não é fã do governo. Para Fabio Wanderley, se houver a troca, um bom palpite sobre o sucessor seria o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que tem experiência em negociar com o Congresso (foi deputado e ministro do Planejamento, pasta encarregada de administrar emendas parlamentares). (Com Carta Maior)
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