Obrigado Frei Gilvander!
José Luiz Quadros de Magalhães (*)
Vou propor uma reflexão sobre um grande pensador e ativista cristão: o apóstolo Paulo.
Paulo nos mostrou a grande novidade do ensinamento e da prática de Jesus Cristo. Uma nova perspectiva libertadora onde, agora, no mundo todos(as) são filhos(as) de Deus(a), todas(os) serão amados e terão como tarefa a simples tarefa de amar. Uma mensagem simples e totalmente revolucionária, amar a todos, lembrando que por trás dos nomes coletivos existe uma pessoa, filha de Deus(a) e que por isto deve amar e ser amada.
Paulo nos disse que agora, com Jesus Cristo, descobrimos que “não há mais judeu nem grego, não há mais escravo nem livre, não há mais homem nem mulher” (Gálatas 3,28) “Glória, honra e paz para qualquer um que faça o bem, para o judeu em primeiro lugar, em seguida, para o grego! Pois diante de Deus não há nenhuma distinção entre as pessoas” (Romanos 2,10-11).
Ora, qual é a mensagem revolucionária e incrivelmente simples: a de que se amarmos, todas, todos, não há como dar errado. O amor é o segredo, pois amor traz compreensão, bondade, tolerância, pois é o amor que nos une embora tenhamos compreensões diferentes da vida, do mundo, das coisas, embora tenhamos ideologias diferentes, religiões diferentes, orientações sexuais diferentes, idiomas diferentes, se nos amarmos estaremos fazendo aquilo que Deus nos deu de sua essência, e que nos torna iguais embora muito diferentes.
O que há de igual em cada um de nós é o fato de sermos seres singulares: singularidades únicas, coletivas, complexas, que costumamos nos identificar e nos escondermos por trás de nomes coletivos como grego ou judeu; católico ou evangélico; tutsi ou hutu; ariano; muçulmano; budista; dark; juiz; médico; advogado; desempregado; homem; homossexual; mulher; padre; pastor; rabino; ou qualquer outro nome.
O que o apóstolo Paulo nos lembra é o fato de que, qualquer um destes nomes coletivos é muito pequeno para nos representar. Os nomes coletivos nos reduzem a uma pequena dimensão do que nós somos. Os nomes coletivos nos reduzem a uma dimensão religiosa, nacional, étnica, funcional... lembro a história daquela pessoa que se reduziu à sua dimensão funcional e propôs uma ação judicial para ser chamada de excelência (porque era também juiz de direito) no edifício de apartamentos onde morava.
O que Paulo nos lembra é que ninguém é melhor do que ninguém por causa dos nomes coletivos que estampam, mas somos todos iguais porque somos na nossa essência pessoas multidimensionais, complexas, frutos de muitas outras pessoas que nos ajudaram a nos construirmos geneticamente e como pessoas sociais.
Digo isto tudo porque me parece estranha, mesmo absurda, a reação de algumas pessoas, que se escondendo por trás do nome coletivo “cristão” condenam Frei Gilvander por amar aos outros. Estas pessoas se perderam em meio a um monte de regras, preconceitos, temores e não enxergaram a única coisa que Jesus nos pediu: Amar. Se amarmos não tem como dar errado. O problema é que as pessoas se apoderaram da mensagem, transformaram, complicaram, proibiram, proibiram, proibiram porque temeram, temeram, temeram.
O Grande apóstolo de Tarso nos ensinou mais uma vez que o universalismo possível da mensagem de Jesus Cristo está na não identificação. Paulo recusou qualquer tentava de identificação do cristão pelas leis romanas. O temor de Paulo era o de transformar a mensagem de amar, a prática de amar sem temer, em mais uma religião, cheia de regras, preconceitos, poderes e temores.
Parabéns Frei Gilvander por nos lembrar a mensagem de Paulo que nos ajudou a ver a simplicidade da mensagem de Jesus Cristo: ame.
(*) Doutor em Direito Constitucional, professor da UFMG e da PUC Minas, autor de inúmeros livros e artigos, grande defensor dos Direitos Humanos, E-mail: ceede@uol.com.br - www.joseluizquadrosdemagalhaes.blogspot.com
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