Fotógrafo brasileiro ferido no Egito
Joel Silva (antes de ser ferido na cabeça em confronto no Cairo) |
Igor Waltz (*)
O repórter fotográfico Joel Silva, do jornal Folha de S. Paulo, foi atingido de raspão na cabeça por um disparo durante a tarde desta sexta-feira, 16 de agosto, no Cairo, capital do Egito. Ele fotografava protestos ao redor da cidade quando eclodiu um confronto entre os apoiadores e os opositores do presidente deposto Mohammed Mursi. Silva passa bem.
Os apoiadores do presidente deposto, de maioria islamita, querem a restituição do presidente eleito e os opositores defendem o golpe realizado pelo Exército no último dia 3 de julho. Os islamitas realizam, nesta sexta-feira, pelo menos 28 marchas na capital egípcia rumo à Praça de Ramsés, onde a reportagem esteve poucos instantes antes do incidente. Na quarta-feira, 14 de agosto, o Exército realizou uma violenta operação que pôs fim a dois protestos prolongados e resultou num massacre que deixou ao menos 638 mortos e mais de 4 mil feridos.
Silva, de 47 anos, relatou que os disparos começaram diante de um prédio da polícia, embaixo de um importante viaduto do Cairo. O profissional chegou a filmar o momento em que os tiros começaram.
O fotojornalista foi tratado por médicos no hotel em que a reportagem está hospedada. Ele narra que os disparos começaram diante de um prédio da polícia, embaixo de um importante viaduto do Cairo. Ele retornava após avaliar que a situação na Praça de Ramsés tinha ficado muito perigosa.
Ferido, Silva tentou retornar ao hotel de táxi, mas acabou parado em uma barreira militar. Demonstrando o ferimento, ele foi levado pelo próprio Exército egípcio, em um jipe, até o prédio. O enfermeiro Ayman Mohsen avaliou o ferimento de Silva e estabeleceu que ele não corre riscos.
A reportagem foi abordada por diversas pessoas nas ruas que tentavam cercar os jornalistas, chamando-os de espiões. A equipe da Folha de S. Paulo havia se separado minutos antes, em meio ao tumulto.
“Eu não percebi, na hora”, conta Silva, que vestia colete à prova de balas e um capacete quando foi ferido. “Senti um baque no capacete, então alguém ao redor me avisou que tinha recebido um tiro.”
Silva fotografou para a Folha outros conflitos armados, como a insurgência contra o ex-ditador líbio Muammar Kadhafi, em março de 2011. Ele também já esteve em um acampamento das Farc, na Colômbia, e participou da cobertura de outros eventos internacionais, como as Copas do Mundo de 1998 e 2010.
O Exército cerca, há dias, o hotel em que a reportagem está hospedada. Há sons de disparos ao redor. Os funcionários alertam para que os hóspedes mantenham distância das janelas, por conta do risco de serem atingidos por balas perdidas.
Jornalistas mortos
Após mais de 630 mortes durante o massacre promovido pelo Exército egípcio contra partidários do ex-presidente, desde última quarta-feira, contabiliza-se ao menos quatro jornalistas assassinados.
Além do cinegrafista da emissora britânica Sky News e de uma repórter de um jornal com sede em Dubai, dois egípcios, um repórter e um fotógrafo, foram mortos no confronto entre agentes e manifestantes. Um fotógrafo da Reuters também foi baleado no pé enquanto cobria a ação violenta dos policiais e um correspondente da rede al-Jazeera foi preso e segue desaparecido.
(*)Com informações do jornal Folha de S. Paulo, O Globo e portal Comunique-se.
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