Paralisação nacional avança com denúncias de violações de direitos humanos na Colômbia
O segundo dia da Paralisação Agrária e Nacional na Colômbia avança com bloqueios e marchas em todo o país e com denúncias de repressão violenta por parte das forças governamentais. Desde segunda-feira, 19 de agosto, camponeses, caminhoneiros, mineiros, estudantes, professores, indígenas, entre outros trabalhadores e trabalhadoras, ocupam as ruas para protestar contra as políticas neoliberais levadas a cabo pelo governo do presidente Juan Manuel Santos.
Aproximadamente 30 entidades dos movimentos sociais organizados participam da paralisação. Elas afirmam que o Exército e a Polícia Nacional estão reprimindo com violência os manifestantes, o que já resultou em pelo menos uma pessoa morta, no Departamento de Boycacá, e dezenas de manifestantes presos e processados em outros departamentos.
Nesta terça-feira, 20, as centrais sindicais e demais organizações sociais e políticas convocaram os colombianos para a realização de passeatas e concentrações em várias cidades, como Bogotá, Cali, Medellín e Barranquilla. Já foram iniciados protestos nas localidades de Nariño, Santander, Cauca, Huila, Boycacá, Norte de Santander e Sul de Bolívar.
A Comissão de Direitos Humanos da Coordenação Nacional de Organizações Sociais e Políticas se mostra preocupada com a repressão. Diana Nocua, representante da Comissão, informou à imprensa que, na véspera da paralisação, houve ameaças de morte e estigmatizações contra os manifestantes por parte da Força Pública. "Temos informação de que, nos departamentos de Meta e Huila, a Policía está planejando a possibilidade de dar recompensas de até 10 milhões de pesos para que se identifiquem os líderes que estão organizando a mobilização”, afirmou.
Durante o primeiro dia de Paralisação, os resultados preliminares quanto aos direitos humanos não são muito animadores. De acordo com a Comissão, entre outras ocorrências, houve ferimentos por arma de fogo e prisões de 50 pessoas no Valle del Cauca; em Boycacá, houve apreensões de cinco ônibus com manifestantes e 12 feridos por policiais; em Córdoba, também foram registradas apreensões de ônibus que transportavam camponeses; veículos de comunicação teriam intimidado manifestantes em Cundinamarca; líderes de movimentos foram presos e infiltrações de agentes oficiais entre os manifestantes foram descobertas em Santander.
A Comissão de Direitos Humanos do Movimento Político e Social, a Marcha Patriótica, as Comissões de Direitos Humanos do Congresso dos Povos e da Central Unitária de Trabalhadores (CUT) já solicitaram ao diretor da Polícia Nacional, general Rodolfo Palomino, bem como ao comandante das Forças Militares, e aos demais comandantes, que os direitos humanos dos manifestantes sejam garantidos no marco do direito ao protesto social, permitindo a livre mobilização dos manifestantes.
A pretensão dos organizadores é de que a duração da Paralisação Nacional seja indefinida até que as autoridades decidam formar uma mesa no intuito de que se definam saídas consensuais para a situação de "miséria e abandono” em que se encontram os setores produtivos, especialmente depois da implementação dos Tratados de Livre Comércio (TLC).
No caso dos caminhoneiros, eles demandam a revisão dos preços da gasolina, o cumprimento por parte do governo de acordos e convênios feitos com o setor de transporte, a descentralização da Superintendência de Portos e Transportes e a restrição para a entrada no país pela fronteira equatoriana de veículos de carga.
Já o setor agrário, entre cafeicultores, criadores de gado e arrozeiros, pedem a implementação de medidas para conter a crise da produção agropecuária, a participação das comunidades e dos pequenos mineradores na formulação das políticas de mineração, garantias reais para o exercício de direitos políticos da população rural; e investimento em saúde, educação, moradia, serviços públicos e estradas para as populações rurais e urbanas.
O Movimento pela Dignidade, que reúne cerca de 5 milhões de camponeses, milhares de mineiros, 87 etnias indígenas e quatro milhões de afro-colombianos, denuncia o esquecimento histórico e o descumprimento de acordos por parte do governo; e exigem melhorias nas condições do campo, acesso à propriedade da terra e o reconhecimento dos territórios dos camponeses.
Na saúde, cerca de 200 mil trabalhadores e trabalhadoras do setor repudiam a aprovação de leis que ampliam o negócio das empresas gestoras da saúde; denunciam a falta de medicamentos e a baixa qualidade da infraestrutura de saúde; o governo estaria há 36 meses sem pagar os fornecedores, com a dívida alcançando milhões de dólares; denunciam ainda fraudes em contratos e pouco empenho para investigar e punir os casos de corrupção. Os manifestantes querem ainda que sejam suspensos o Projeto de Lei de Reforma da Saúde, que sejam aprofundados os debates sobre políticas de extração mineiro-energéticas e sobre a erradicação dos cultivos ilícitos.(Com a Adital)
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