"Insurgentes", filme de Jorge Sanjinés, selecionado para o Festival de Havana

                                                                

O reconhecido cineasta boliviano Jorge Sanjinés (foto) volta este ano à competição oficial do Festival de Cinema Latino-americano de Havana com seu mais recente filme: ''Insurgentes'', um resgate de heróis e histórias esquecidas da nação andina.

Ainda que ainda os filmes da seleção oficial não tenham sido divulgados, o próprio realizador confirmou em entrevista à Prensa Latina que a direção do Festival já entrou em contato com ele para informar que sua obra participará na competição pelos prêmios Coral.

"Já me confirmaram a presença do nosso filme. 'Insurgente' já está inscrito e vai participar", afirmou o fundador do grupo Ukamau.

Comentou que sua intenção de apresentar a obra para a competição está além de de ganhar um prêmio, pretende difundir na América Latina uma parte esquecida da história da Bolívia como nação.

"Não vamos aos festivais pelos prêmios, mas se ganharmos, não é ruim. Imagino que em Havana teremos filmes melhores que o nosso, com certeza. Mas para nós é importante que 'Insurgente' esteja no Festival porque é o resgate da memória histórica do povo boliviano, que, se aqui é pouco conhecida, imagina na América Latina", disse.

Ganhador do Festival Internacional de Cinema Político da Argentina, o filme reafirma o compromisso de Sanjinés com o compromisso social e político que marcaram sua obra desde sua célebre ópera prima, Ukamau, de 1966, um dos filmes precursores de uma nova estética no audiovisual da região.

"É um filme que tenta devolver uma memória perdida, uma memória limitadamente escondida: as elites de Bolívia se preocuparam muito em não devolver ao índio a autoestima e construiram a imagem de que o índio é sempre o incapaz, o selvagem, e com essa imagem se manteve uma elite quantitativamente muito minoritária", opinou.

Segundo Sanjinés, seu filme tenta explicar a partir do ponto de vista histórico as formas como se conformou a nação indígenas e suas lutas sociais através dos séculos, que chegou ao auge com a ascensão de Evo Morales ao poder.

"O filme recolhe cenas de grandes momentos históricos e personagens que jogaram um papel fundamental na recuperação da soberania perdida, porque a presença de Evo Morales no país e a presença de ministros e ministras indígenas é o resultado de uma longa luta de mais de 220 anos. Demonstramos de modo que esta vitória histórica, esta mudança revolucionária pacífica vem de muito antes", acrescentou.

O filme, uma reflexão sobre o processo socio-político da sociedade boliviana desde as lutas de Tupac Katari, no século XVI, até o atual governo de Morales, já foi exibido fora de concurso no ano passado no Festival, como parte de uma mostra paralela dedicada a grandes mestres do Cinema Latino-americano.

Ganhador em 1983 do Prêmio Grand Coral Seção Documentário com o fime 'Las banderas del amanecer', Sanjinés voltou a Havana em 1989 com sua obra mestre, 'La nación clandestina', ganhadora do Prêmio Especial do Júri.

Outros dois filmes bolivianos foram pré-selecionadas em março passado para participar do Festival de Havana: 'Las bellas durmientes', de Marcos Loayza; e 'Ciudadela', de Diego Mondacca, ainda que até outubro próximo, quando seja difundida a lista oficial, não será possível saber se classificaram finalmente para a competição.

A 35 edição do maior evento cinematográfico cubano será realizada entre 5 e 13 de dezembro deste ano e terá como peculiaridade a ausência de seu fundador, presidente e principal impulsor, Alfredo Guevara, falecido em Havana em abril passado.

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