Coronel Erimá Moreira vai depor na Comissão Municipal da Verdade sobre propina da Fiesp a general que apoiou golpe militar de 1964
O coronel do Exército reformado Erimá Pinheiro Moreira, de 89 anos, prestará depoimento nesta terça-feira (25) ao presidente da Comissão Municipal da Verdade Vladimir Herzog, vereador Gilberto Natalini, sobre a denúncia de que o general Amauri Kruel, comandante do 2º Exército (atual Comando Militar do Sudeste), foi subornado em 31 de março de 1964, dia do golpe militar que depôs o ex-presidente da República João Goulart, para trair as forças legalistas e apoiar o movimento dos generais.
O depoimento do coronel Erimá Pinheiro Moreira à Comissão Municipal da Verdade será às 11 horas, no 1º subsolo (Sala Sérgio Vieira de Melo) da Câmara Municipal de São Paulo, que fica no Viaduto Jacareí, 100, no Centro de São Paulo.
De acordo com o coronel Moreira, que era major farmacêutico na época e servia no Hospital Geral Militar de São Paulo, o general Kruel recebeu seis maletas, com um total de US$ 1,2 milhão, do então presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Raphael de Souza Noschese.
Conforme o coronel Moreira, o general Kruel dizia que morreria em defesa do presidente João Goulart. Mudou de posição após receber o dinheiro. O general havia sido chefe do Gabinete Militar da Presidência da República e ministro da Guerra de Goulart.
O coronel Moreira vai relatar que cedeu, a pedido do coronel Tito Ascoli de Oliva Maya, diretor do Hospital Geral Militar de São Paulo, as instalações de um laboratório de análises clínicas de sua propriedade, localizado no bairro da Aclimação, no Centro de São Paulo, para que o general Kruel fizesse uma reunião sigilosa.
Até aquele momento, o comandante do 2º Exército apoiava o presidente Goulart e garantia que resistiria contra os militares golpistas. "Kruel dizia que morreria em defesa de Goulart", afirma o coronel Moreira, que foi cassado após o episódio.
Na hora da reunião no bairro da Aclimação, em 31 de março de 1964, apareceu no local o presidente da Fiesp, acompanhado por três homens. Cada um portava duas maletas. Com medo de um atentado contra o general Kruel, o então major Moreira exigiu que abrissem as seis maletas para se certificar de que não havia armas escondidas no seu interior. As maletas estavam repletas de cédulas de dólar. Moreira achou que o dinheiro seria usado para organizar a resistência ao golpe militar.
Raphael de Souza Noschese e os três homens foram para o andar superior do laboratório de análises clínicas, que ficava na esquina das ruas Conselheiro Furtado e Tenente Otávio Gomes. Depois, Kruel ordenou que as maletas fossem colocadas no porta-malas de seu automóvel, o que foi feito com a supervisão do próprio Moreira, e deixou o local com cinco militares batedores em suas motocicletas. Horas depois, Kruel anunciou o apoio ao movimento que depôs Goulart.
"Kruel foi subornado", diz o coronel Moreira. Na época, ele questionou em reunião com vários oficiais do Exército se Kruel havia embolsado o dinheiro. Foi cassado e passou a ser vigiado por homens do Dops e do 2º Exército. Segundo o coronel Moreira, Kruel teria usado o dinheiro do suborno para comprar duas fazendas na Bahia.
Em outro ponto de seu depoimento, o coronel Moreira vai mencionar o general Carlos Luís Guedes, que comandou a Infantaria Divisionária em Belo Horizonte e teve papel importante em prol do golpe militar de 1964. Com o tempo, o general Guedes passou a criticar os governos militares. Em 1969, aos 64 anos, foi para a reserva. Morreu num acidente de trânsito em Londres, em 24 de junho de 1976.
Já Amauri Kruel passou para a reserva em 1966. Conforme o coronel Moreira, Kruel caiu em consequência de uma carta na qual o próprio coronel Moreira relatou o episódio das maletas cheias de dólar recebidas por Kruel do presidente da Fiesp. A carta foi levada a Kruel pelo general Guedes, que pediu explicações sobre o seu conteúdo. Moreira mantinha bom relacionamento com Guedes. Kruel morreu em 1996.
Informações: 3396-4405
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