Indígenas norte-americanos vencem hidrelétricas e contam experiência a povos do Xingu
Em visita a Xikrins no rio Bacajá, indígenas Hoopa, Yurok, Karuk e Klamath falam da luta de mais de 12 anos que levou à desativação de quatro grandes barragens em suas terras
Afetados por Belo Monte e por complexo hidrelétrico nos EUA, indígenas trocaram experiências
Quando Anna, Dania, Damien, Mahlija e Sammy nasceram, parecia que nada mais poderia ser feito para impedir o complexo de quatro hidrelétricas que aterrorizou gerações de indígenas no Rio Klamath, Califórnia (EUA). Finalizado em 1964, o múltiplo barramento do rio impossibilitou o deslocamento de peixes e deixou cerca de 20 mil indígenas das etnias Hoopa, Yurok, Karuk e Klamath sem a principal fonte de alimentação e sustento: o salmão. Após anos de intensos protestos, em 2010 os indígenas conseguiram autorização para que as quatro barragens fossem desativadas até 2020; e no próximo ano a primeira será demolida.
Para contar essa história e inspirar os povos do Xingu, cinco representantes indígenas e dois ativistas norte-americanos estiveram em Altamira na última semana, onde passaram sete dias dando depoimentos e trocando experiências com pescadores, ribeirinhos, indígenas e citadinos impactados por Belo Monte.
“Acompanhamos essa batalha de Belo Monte há alguns anos e sentimos muito no coração essa dor e sofrimento. A gente não quer ver o povo do Xingu passar pelo que a gente passou. Não queremos que essa mesma história que aconteceu com a gente se repita”, conta Anna Collegrove, 24, da etnia Hoopa.
A luta dos cerca de 20 mil indígenas que vivem a margem do Klatmath começou logo após a construção da última barragem, em 1964, e foi intensifica em 2002, quando 70 mil peixes morreram por causa das barragens.
“Foi preciso que nós chegássemos no fundo do poço para nos unir, mas não queremos que isso aconteça com vocês”, alerta Anna. Assim como setores do governo defendem a inexorabilidade de Belo Monte, o complexo californiano também era dado como fato consumado.
“As barragens já estavam construídas e diziam que nada mais poderia ser feito”, afirma Sammy, indígena e pescador da etnia Yurok. Porém, em 2000, os indígenas começaram uma série de protestos para impedir que a licença de funcionamento das hidrelétricas fosse renovada. “Quando começamos a lutar, diziam que era impossível também. Só foi possível a luta porque a gente via a garra dos nossos pais e avós. Então é muito importante que vocês não deixem de acreditar para que as crianças não deixem de lutar. Vocês tem que acreditar que é possível”, incentiva Sammy Gensaw.
Apenas um buraco no chão, Belo Monte não é fato consumado e pode ser paralisada, incentivam visitantes
A agenda do grupo em Altamira foi intensa. No primeiro dia (17) eles participaram de uma reunião com integrantes do Movimento Xingu Vivo e no dia seguinte, logo ao amanhecer, seguiram viagem até a aldeia Pot-krô, dos indígenas da etnia Xikrin, onde passaram dois dias. Na volta fizeram um sobrevoo nos canteiros de Belo Monte e na sexta participaram de um encontro com estudantes, pescadores e indígenas locais na Universidade Federal do Pará, campus Altamira.
De acordo com a coordenadora do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, Antônia Melo, a visita dos indígenas serve como um grande impulso e renovação na luta contra Belo Monte. Para Melo, a visita “é um momento muito oportuno. É uma experiência fantástica, protagonista, de luta e resistência.
A vinda desse grupo é um grande sinal para dar uma voz de esperança para os povos indígenas do Xingu. Um chamado a reagir. A não se acomodar. A reagir contra tudo isso. Contra esse crime que é Belo Monte”. O grupo agora segue viagem até Brasília e de lá volta aos Estados Unidos. (Com o Movimento Xingu Vivo para Sempre)
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