Relatório da Comissão da Verdade diz que ex-deputado não suportou a violência dos militares e morreu, relata o portal UOL
A Comissão Nacional da Verdade apresentou, na tarde desta quinta-feira (27), relatório preliminar da pesquisa sobre a prisão e morte do ex-deputado federal Rubens Paiva. Segundo o relatório, apresentada pela pesquisadora e advogada Rosa Maria Cardoso, no auditório do Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, Paiva foi preso na manhã do dia 20 de janeiro de 1971, torturado até o dia seguinte, quando não suportou a violência dos militares e morreu. Os militares ainda foram acusados de de ocultação de cadáver.
Até hoje, a versão oficial do Exército é que Paiva foi resgatado por guerrilheiros quando estaria sendo transferido --o que agora é contestado pela comissão-- e desde lá nunca mais teria sido encontrado.
Segundo o relatório, que tem como base documentos e depoimentos, Paiva estava morando no Rio, escondido dos militares, mas foi dedurado por uma mulher, que foi presa na madrugada do dia de sua prisão, com cartas que seriam entregues ao ex-deputado.
"Cecília de Castro e Marilene Corona traziam cartas para Rubens Paiva, e seriam mediadoras da entrega. Uma delas, por pressão dos agentes que as prenderam, telefona para a casa de Rubens e confirma se ele estará em casa pela manhã. Então, aparecem seis militares da Aeronáutica para o prender", contou a pesquisadora.
O ex-deputado foi levado para Quartel General da 3ª Zona Aérea, ao lado do Aeroporto Santos Dumont. Documentos apontam a entrada de Paiva no local naquele dia, onde teria sido torturado por horas.
"Nesse lugar ele é muito espancado e torturado. Algumas horas depois sai levado para o Doi-Codi. Nesse carro, ele encontra a Cecília, que comprova as marcas de tortura no seu corpo. Ele chega no Doi e é recebido por duas pessoas conhecidas, do Serviço de Inteligência do Exército, o Perdigão e o Rubens Paim Sampaio. Ele começa a ser interrogado e é torturado e barbaramente espancado", afirmou.
O relatório aponta ainda que, naquela noite, os chefes militares foram informados de que o estado de saúde de Paiva era grave, e que ele precisaria de cuidados especiais para não morrer.
"Ele foi atendido pelo médico Amílcar Lobo, que assistia os agentes na tortura. Ele prestou depoimento e disse que o Rubens já foi encontrado com hemorragia abdominal e no fígado, e que ele deveria ser hospitalizado, senão iria morrer. Mas ele não foi hospitalizado", contou.
Já na madrugada do dia 21, mesmo cientes da condição de saúde, Rubens Paiva teria sido retirado do leito onde estava no Doi-Codi e levado para nova sessão de tortura.
Nesse momento, um agente viu a cena e, percebendo a gravidade da vítima que era torturada, comunicou o fato ao seu chefe. "Ele informa ao coronel Ronald Leão que aquele preso estava prestes a morrer, e foi então com ele até onde estava o comandante da unidade, o general Antônio Belham. E diz o que está se sucedendo, e que um preso está agonizando, em condições de morrer. Mas o general não toma nenhuma providencia, e Rubens Paiva vem a falecer", contou.
Na parte final da explanação, Cardoso contesta a versão apresentada pelos militares para o desaparecimento de Paiva, a que a advogada chama de "farsa" e "encenação".
"A versão apresentada, e agentes vão dar notícia na delegacia, é a que os militares haviam sido abordados por um carro de terroristas, que haviam resgatado os presos. Eles incendiaram depois o carro como parte dessa encenação. Essa versão é mantida até que passa a ser discutida no tempo de verdade, que estamos vivendo. Temos clareza, certeza de que ele foi preso, e a responsabilidade é do general Antônio Belham", explicou.
A comissão ainda informou que o general, ao prestar depoimento sobre o caso, negou ter participado da prisão e tortura de Paiva, alegando estar de férias --o que seria desmentido pela comissão com documentos que comprovariam sua presença.(Com o UOL)
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