150 mil pessoas pela legalização: as 10 Marchas da Maconha em todo Brasil
Dave Coutinho
Junto com o calendário global, a Marcha da Maconha no Brasil percorreu as ruas de 10 cidades brasileiras, no dia 6 de maio. Arrastou uma multidão de aproximadamente 150 mil pessoas, normalizando o debate e pedindo a regulação da erva no país. A seguir, um balanço de como foram os atos pelo país.
Milhares de pessoas se reuniram em 10 cidades brasileiras para a Marcha da Maconha que este ano trouxe temas como “Solta o Preso” (Rio) e “Quebrar Correntes, Plantar Sementes” (SP), entre outros em prol do fim da Guerra às Drogas através da legalização da maconha.
Passou do tempo para os conservadores enxergarem que a proibição nunca foi pela saúde ou bem-estar da população e sim por interesses racistas e financeiros. São 15 anos, desde a primeira marcha da maconha no Brasil realizada no Rio de Janeiro, em 2002, em que a sociedade é alertada para as mazelas do proibicionismo.
Começando por onde tudo teve origem, no Rio de Janeiro, no 15º ano a Marcha chamou a atenção ao pedir liberdade para os usuários presos, condenados por tráfico de drogas, com o lema “Solta o Preso”. Desde 2006, a lei não prevê prisão de usuários. Mas, como foi observado pelo vereador Renato Cinco (PSOL-RJ), em relato à Agência Brasil, a realidade é outra, a metade dos usuários presos portava maconha e boa parte do sistema carcerário é formada por usuários.
“Acreditamos que muitos não conseguiram provar que eram usuários por falta de advogados, problemas de desestruturação das Defensorias Públicas, falta da capacidade de se defender”, disse ele. “Esse encarceramento por tráfico tem contribuído para a crise penitenciária”, opinou.
Segundo a organização, advogados e militantes, a Marcha da Maconha no Rio reuniu cerca de 15 mil pessoas que caminharam do Jardim de Alah até o Arpoador. Mesmo sem o salvo-conduto para o fumato, muitos manifestantes normalizaram o consumo, seja fumado, vaporizado ou até em comestíveis durante todo percurso e com a polícia acompanhando sem incomodar.
Já em São Paulo, o ato que ocorre desde 2008 trouxe o tema “Quebrar correntes, plantas sementes”. Organizado por uma série de coletivos e composto por blocos de variadas vertentes, o ato reivindicou “o direito ao plantio da maconha – e da liberdade – no lugar das correntes que segue nos aprisionando. Nossa luta hoje é pela legalização da produção, distribuição e uso da planta no Brasil para seus variados fins. Mas não só! É também pelo fim da guerra às drogas em todo o globo”.
Enfatizando o histórico e a função racista da repressora política de drogas, a manifestação mostrou o quão amplo são os usos e a aceitação pelo consumo da maconha no mundo.
Em Brasília e Floripa nem tudo foram flores
Liberada pelo Supremo em 2011, a manifestação que pede a legalização da maconha continua crescendo e se diversifica com o passar do tempo. Crescimento este que, infelizmente, ainda é acompanhado por casos de repressão e abuso policial, como aconteceu em algumas cidades, mesmo com a decisão do STF que legitima o ato.
Apesar das Marchas terem transcorrido sem incidentes, a Polícia Militar do Distrito Federal, pelo segundo ano consecutivo, continua se mostrando intolerante e racista. Ainda na concentração do ato de Brasília, a PM-DF deteve ao menos 12 manifestantes que foram encaminhados à delegacia por uso e porte de maconha, segundo o G1.
“A polícia este ano realizou as abordagens, no início, durante e ao final da marcha”, conta Henrique Rocha, graduando em Antropologia-UnB e Direito-IESB, um dos organizadores do ato em Brasília. “Ao contrário dos anos anteriores, até os policiais que controlavam o transito também abordavam quem estava portando ou consumindo maconha”, complementa.
Apesar de uma abordagem mais respeitosa que no último ano (confira aqui e aqui), foram mais ou menos 60 policiais armados ofensivamente abordando os manifestantes por todo o percurso, segundo a organização. Mesmo com toda repressão, o ato reuniu ao todo 4 mil manifestantes e contou com a presença da galera da periferia em peso.
Tal como Brasília, Florianópolis também sofreu, e com muito mais violência que na Capital do país, os abusos das autoridades policiais de Santa Catarina. Em uma década de Marcha da Maconha em Floripa, que sempre teve um desfecho positivo sem nenhum registro de violência, o 11º ato será lembrado pelo encerramento com forte repressão policial.
O ato iniciou em clima de tranquilidade, com uma batalha de rap a respeito da legalização da maconha, sendo que a partir das 18 horas os ativistas seguiram em passeata pelas ruas do centro. Mas após uma hora de percurso, na esquina da Felipe Schmidt com a Pedro Ivo, uma barreira policial impediu o avanço da marcha e, segundo o que está registrado em vídeo, a Polícia Militar de Santa Catarina fez questão de dar mostras de abusos e violência contra a manifestação.
Ao tentar o diálogo com o comando da PM, que se recusou a negociar, um dos policiais passou a agredir um dos organizadores do evento e, na sequência, a força policial desferiu balas de borracha e gás de pimenta contra a multidão. PMs agrediram física e verbalmente a estudante de jornalismo da Unisul, Bianca Taranti, e o fotógrafo Ramiro Furquim, que trabalhavam para o site Estopim Coletivo. Houve relatos de que várias outras pessoas também foram feridas.
Segundo a organização, antes do ato ser violentamente dispersado pelos policias, a estimativa era de 4 mil pessoas presentes durante o ato.
“O lamentável episódio demonstra a urgência de discutir-se a desmilitarização da PM que vai à passeata por obrigação de fazer a segurança dos cidadãos e resolve o imprevisto na base da agressão física causando pânico sem motivo”, relata uma das postagens na página da Marcha.
Apesar da repressão policial ter passado pelos atos de Brasília e Florianópolis, as marchas pelo Brasil realizadas no dia 6 de maio foram representativas e, sem dúvidas, significativas na mudança da percepção social da Maconha. Além do Rio, São Paulo, Distrito Federal e Floripa, neste sábado (6), marcharam em Porto Alegre mais de 4 mil pessoas que pediram a legalização da maconha, de acordo com a organização.
“Se fosse copo de cerveja, tudo bem?”. “Pra que ser caso de polícia se maconha é uma delícia?”. “Pelo direito de plantar a cura do mundo”. “A guerra às drogas não deu certo”. Assim diziam alguns dos cartazes levados pelas milhares de pessoas de diversas idades que marcharam em Porto Alegre, durante a décima primeira Marcha da Maconha da cidade.
Curitiba também foi uma das 10 cidades que recebeu a Marcha da Maconha. Na capital paranaense, a 11ª edição da Marcha teve o lema “O Sinal tá verde e o bonde tá passando”. A ideia é uma referência aos avanços acerca da maconha pelo mundo.
Com diversos adereços, faixas e muita batucada, o ato ocorreu de forma pacífica e terminou por volta das 18h30, sem ocorrências registradas pela polícia. Segundo o Paraná Portal, a PM não informou um número oficial estimado de participantes, mas a organização estima que mais de 5 mil manifestantes normalizaram os usos e debate sobre a maconha.
Em Divinópolis, a Frente Ativista Cannabica (Faca) realizou a marcha da maconha na cidade, reunindo pouco mais de 50 pessoas. Mesmo com um número reduzido de ativistas, comparada às outras cidades, a militância também foi às ruas de São Carlos (SP), Natal (RN) e pela primeira vez em Ubatuba (SP).
Maior do que qualquer pesquisa, o representativo número de manifestantes variando humildemente de 130 a mais de 150 mil, pedindo a legalização da maconha nas ruas de todo Brasil, em um único dia, serve para pressionar o Supremo Tribunal Federal a julgar prontamente o recurso que visa à descriminalização do usuário. Que sirva também para abrir os olhos do nosso conservador Congresso e da sociedade brasileira, afinal, o tempo da demonização da maconha já passou e consumir maconha é tão normal e até mais saudável que muitas drogas lícitas, como açúcar, álcool e tabaco.
(*) Dave Coutinho é ativista antiproibicionista e um dos editores do site Smoke Buddies, (link com vídeo e fotos) onde esta matéria foi originalmente publicada (link com vídeo e fotos..
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(Com o Correio da Cidadania)
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