Que turista ainda quer ir ao Brasil?
DW/B. Kopsch
O turismo como fator econômico nunca foi levado a sério na política brasileira. Isso não é novo. Mas o atual governo torna ainda mais difícil que estrangeiros queiram visitar o Brasil.
Alexander Busch (*)
Apesar de eventos esportivos internacionais, turismo ainda está subdesenvolvido no país
Você sabe quem é o ministro do Turismo? Exato. Normalmente, o nome designado para essa pasta no governo é amplamente desconhecido. A não ser que esteja envolvido num escândalo. Como é o caso do atual ocupante do cargo. Ele é suspeito de ter desviado dinheiro de campanha originalmente destinado a candidatas mulheres.
Que o ministro continue no cargo, apesar de depoimentos incriminatórios, mostra sobretudo uma coisa: como tal posto é considerado desimportante dentro do gabinete ministerial. Caso contrário, interessados já teriam derrubado sua cadeira há muito tempo.
O fato de o ministro do Turismo não ser importante não é novidade, mas é uma das razões pelas quais o turismo no Brasil está completamente subdesenvolvido, tendo em vista o potencial do país. Em todo o mundo, os grandes polos turísticos sofrem com o excesso de visitantes, moradores reclamam das ruas lotadas, do aumento do aluguel e do custo de vida.
Mas, no Brasil, os brasileiros permanecem muitas vezes entre si, mesmo nos destinos turísticos mais famosos. O setor está subdesenvolvido. E este é acima de tudo um drama econômico tendo em vista o potencial natural, social e cultural que o país tem para oferecer como destino.
Mas com cerca de 6,5 milhões de visitantes por ano, o Brasil não está nem entre os 30 destinos turísticos mais importantes do mundo – e isso após uma Copa do Mundo de futebol e dos Jogos Olímpicos como uma vitrine para o país.
O Brasil está desperdiçando uma tremenda oportunidade de criar empregos para pessoas que, de outra forma, teriam dificuldade em conseguir trabalho na indústria ou no setor de serviços informais devido à falta de treinamento.
A natural hospitalidade e cortesia brasileiras combinadas com treinamento na indústria hoteleira e gastronômica, além de um curso de idiomas em inglês, ofereceriam um enorme potencial de emprego para muitas pessoas.
Mas o país carece de infraestrutura turística. A situação piorou mesmo nos últimos anos, apesar dos eventos esportivos internacionais. Acho que falta ao Brasil uma compreensão básica do que poderia atrair turistas estrangeiros. Porque aquilo que agrada aos brasileiros geralmente não apetece aos estrangeiros – e vice-versa.
Um exemplo disso é a publicidade que a autoridade turística (Embratur) vem fazendo no exterior há anos: os tecnocratas de Brasília realmente acreditam que um turista da Europa tomará um caro voo de 12 horas para o Brasil para ver "12 shopping centers para encher suas malas" ou "A magia do Natal”?
No início do ano, o Brasil suspendeu a exigência de visto para turistas dos EUA, Canadá, Japão e Austrália. O abalado ministro anuncia agora com orgulho as estatísticas mensais sobre o aumento do interesse das viagens desses países pelo Brasil. Até o final do mandato do atual governo, em 2022, o ministro planeja quase dobrar o número de turistas para 12 milhões.
Como todos os seus antecessores, é improvável que ele tenha sucesso nisso. É muito possível que o balanço turístico deste governo seja claramente negativo: quem ainda quer ir a parques naturais e fazer ecoturismo no Brasil quando o governo, ao mesmo tempo, mina todos os controles e medidas para a proteção da Amazônia e abre caminho para o lobby agrícola?
Quem quer vir ao Brasil como membro da comunidade LGBT quando os ataques a gays, lésbicas e transexuais aumentam e nada é feito publicamente sobre isso? Quem quer vir a um país com uma taxa de homicídios assustadoramente elevada e as taxas de acidentes mais altas do mundo, onde o governo não apresenta nada melhor do que armar a população e relaxar a impunidade no tráfego rodoviário? Qual artista ainda acha o Brasil interessante no momento em que o Judiciário está cada vez mais vistoriando a arte para ver se ela viola os valores tradicionais da família?
(*) Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
(Com a DW)
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