Falta jeitinho ao governo
A greve dos professores, que tumultua a vida do mineiro por mais de 70 dias e que mantém uma perspectiva de continuidade, expõe a frágil condição do governo estadual de conciliar uma visão técnica com as necessidades políticas de quem assume uma máquina pública, como é o caso do governador Antonio Anastasia.
A disposição em ouvir e decidir, o jeitinho e, ao mesmo tempo, os punhos fortes são ainda as únicas invenções capazes de suportar aos entraves e promover o meio-termo. Por isso, entre políticos indagados, especialmente os do próprio PSDB e do PT, é quase unânime a opinião de que não existe tato no governo. Como dizem por aí, "falta a Anastasia um Anastasia dos tempos de Aécio".
A secretária de Educação, Ana Lúcia Gazzola, revelou-se péssima negociante. Deu ao sindicato o discurso que ele queria ao assumir um equívoco e comprometer a credibilidade de sua gestão. Acabou perdendo as rédeas das negociações e substituída pela colega de secretariado Renata Vilhena (Planejamento).
Apesar de necessária, a substituição também é contestada. Isso porque, do outro lado, está Beatriz Cerqueira, professora e advogada fortemente inclinada para o embate, e que chega ao melhor momento de sua carreira sindical. Não faltam a ela conhecimento de causa e poder de mobilização.
Beatriz Cerqueira é hoje uma das lideranças mais consistentes da região metropolitana, tornando-se objeto de assédio entre partidos como o próprio PT e o PCdoB.
Sob sua coordenação, a paralisação da rede municipal de ensino em Betim foi uma das mais duradouras dos últimos dez anos. Ela não poupou nem mesmo companheiros de longa data, que, em 2008, ajudou a eleger.
Fez o governo da prefeita Maria do Carmo Lara (PT) despencar em popularidade, não levando em conta até mesmo o fato de seu marido ser um dos responsáveis pelo governo local.
O mesmo acontece agora com Anastasia. O governador já corre atrás do prejuízo e, se não agir rápido do ponto de vista político, vai pagar uma fatura alta.
Beatriz colocou Anastasia em uma sinuca de bico. Cedendo, o governador acena com frouxidão para outras categorias de servidores que possuem reivindicações semelhantes às dos educadores, correndo o risco de se tornar um novo Eduardo Azeredo.
Caso contrário, se mantém os punhos fortes, pode carregar nas costas o peso de um ano letivo jogado fora, mancha que dificilmente conseguirá apagar de sua biografia.
Chegou a hora de pedir ajuda a quem sempre ele estendeu a mão. E falando nisso, muito se comenta sobre a ausência de Aécio em Minas.
Heron Guimarães é diretor executivo de O Tempo. Este artigo foi publicado sábado, dia 27/08/2011.
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